terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Não pergunte mais nada




A música de Minkus –

Qual é a utilidade dos espelhos invertidos?

Mude de assunto. Impossível continuar – assim.

Qual é a utilidade dos espelhos invertidos?

Não pergunte mais nada. A simplicidade arrebatadora do caos mais passional que a tradução divergente – as palavras nada traduzem das imagens formadas em sonhos doces...

Sonhos realizados e o sorvete cremoso derretendo as insistentes manias de dietas loucas – guarde a insanidade para a hora do chá ou para a pausa do almoço finalizado com café.

Kibe de soja com cottage – mozzarella de búfala e café.

A música de Minkus –

O sorvete cremoso derretendo as insistentes manias de dieta – prazeres derretendo as insistentes manias de repetir padrões de conduta...

Real demais – guarde a realidade dentro das xícaras... ou nas patas da gata... ou nas imagens formadas ao sabor da música mais prazerosa que o sorvete cremoso... ou em palavras recortadas de sonhos que nada traduzem perfeitamente das

das insanidades guardadas. O caos passional – nunca nunca mais. Até não conseguir mais esconder...

Nunca mais levar nada tão à sério – até não conseguir mais esconder.

Repita – repita o nome dela em sonhos doces tão inocentes quanto a lua externamente fria (e internamente derretendo as porções de amor-próprio congeladas em fatias).

Fatias e lascas – pedaços camuflados de palavras recortadas. As gatas enamoradas ouvem atentamente (a música)...

Qual a utilidade dos espelhos invertidos?

Não pergunte mais nada. Mergulhe na calda de cereja... ou na música... ou no banho da gata inatingível – tão inatingível quanto perguntas sem respostas...

Não há respostas. Não há soluções. Há prazeres inocentes e amores tão possíveis quanto utopias.

Qual a realidade das utopias?

Não responda mais nada. Deixe estar. Deixe que o ménage à trois das fadas externamente insanas (e internamente equilibradas e calmas) tome conta das janelas trancadas.

Liz Christine

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Dal libro




O irmão da gata acordou toda a vizinhança com miados insones. A babuska entristecida viu o dia amanhecer através da persiana da janela com tela. Pensamentos entrelaçados no silêncio. Sem saber como nem quando.

Oberon e Nikiya são os irmãos felinos da casa. Titânia é a gata namorada de Nikiya.

Sem saber como nem quando. Pensamentos entrelaçados no silêncio.

A babuska não sabe agora como a ligeira tristeza se instalou tão pesadamente sobre a madrugada. Subitamente ligeiramente ou totalmente entristecida. Uma coisa ou outra. Escolher. Ou mais outra ainda. Ou a anterior. Ou a definitiva. Ou a indefinida. Uma coisa ou outra. Escolher. Escolher um olhar perdido no meio dos livros desatentos.

A babuska não sabe como nem quando. A tristeza chega ou acaba. Distrações ligeiramente compulsivas. Ela adormece e sonha. Sonha com macarons e as estátuas de um conto do Sartre. Sonha com a Lola do livro A idade da razão. Tudo se mistura. Lola tem o rosto de uma ex namorada da babuska. E fala com a mesma voz de outra ex namorada dela. As vozes do sonho são tão nítidas. Ela sonha com trilhas sonoras. Ela ouve a música do balé Don Quixote. E as ovelhas cantam no meio da música do balé. E o sapo se esconde atrás da cadeira. Tudo se mistura. Oberon tenta acordar a babuska mas ela continua sonhando. Não quer acordar. Ela sonha agora com o balé La fille mal gardée – no instante em que o despertador toca. O despertador apaga alguns trechos dos sonhos. Restam as sensações apuradas. Sensações apuradas em sonhos ou em livros desatentos.

É sábado. Ela poderia dormir mais. Mas acorda e vê o casal de irmãos felinos. Suspira. Faz café. O telefone toca. Ela deixa o telefone continuar tocando. Suspira de novo e acaricia o pescoço de Oberon. Nikiya pula no colo dela enquanto ela bebe o café. Sem saber como nem quando – a tristeza da madrugada foi-se embora.

Liz Christine

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Introspecções voluntariosas




Existem os bons sentimentos e os sentimentos negativos. Os sentimentos negativos causam desconforto. Os bons sentimentos causam sensações de prazer e ondas de afetividade no auge do ciclo lunar. É simples assim. É simples assim para as borboletas que se divertem com a inconcebível indiferença da lua azul. Inconcebível. É simples assim. É simples assim para as babuskas lésbicas que se divertem com o chá das cinco e meia da manhã. Acordadas. Tão acordadas quanto a plasticidade dos movimentos felinos de Nikiya ao ver o dia amanhecer.

Existem as aparências e as sensações verdadeiras gravadas em suaves introspecções compartilhadas ou não – de acordo com a vontade das babuskas. É simples assim. É simples assim traduzir a língua das borboletas de estimação que habitam o jardim trancado dentro do armário do quarto principal da casa. Complicado é o mar revoltado por suas vontades desfeitas e ignoradas pelos simpáticos golfinhos alimentados por sonhos vivenciados e também por sensações verdadeiras guardadas em suaves introspecções. Compartilhadas ou não – de acordo com a vontade das babuskas lésbicas.

Como o miado intransigente de uma gata notívaga querendo acordar suas donas para ganhar ração. Nikiya é uma das gatas das babuskas lésbicas. Tão suaves quanto a revolta passageira do mar. O mar agora conformado. Conformado com as provocações inocentes dos golfinhos alimentados com sonhos. Sonhos tão simples quanto a variedade de tons ou a diversidade de informações. Nada é simples, nada é complicado, tudo se mistura em considerações parceladas de afetividades durante o auge do ciclo lunar. E as ondas – compartilhadas ou não – ampliam a absorção de (introspecções voluntariosas)...

Liz Christine

sábado, 10 de novembro de 2012

Presente irretocável




O anel de noivado dentro da caixa – armários trancados. A gata se vê no espelho do banheiro – silêncio impregnado de suaves recordações. Recordações presentes – um presente tão límpido quanto águas perfumadas com interseções poéticas (...).

Pedaços de camembert – porções de rolinho primavera de legumes. Xícaras de café – babuskas misturando ideais desconexos com favos de mel. Mastigar os favos – camuflar ideais desconexos. A suave conexão com a realidade se distrai um pouco durante os mergulhos absolutos em águas perfumadas com interseções poéticas.

A realidade ultrapassa os sonhos – a realidade chega aos poucos através de frestas imprevisíveis. A realidade chega aos poucos trazendo recados imprevistos e soluções de pelúcia. Ovelhas cantarolantes – banhos de imersão.

Imersão em silêncios distraídos – babuskas escovando a gata que se vê no espelho. Ela ronrona mansamente – e a conexão entre as babuskas se entrelaça docemente ao sabor das interseções perfumadas. Uma letra de música de Walter Franco – um balé clássico – uma música reconfortante da Nina Simone – um mergulho profundo – um banho de imersão – um beijo trocado em frente ao espelho do banheiro – um abraço na xícara de café. E as babuskas sorriem distraidamente. Tão distraídas quanto as nuvens no chão do corredor que liga todos os quartos ao imprevisível esconderijo das meditações tão límpidas quanto o presente irretocável (...).

Liz Christine

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Indecisões




A eterna indecisão se acomoda por inteiro – asas degustando desejos irreconhecíveis... Irreconhecível é o aclamado transtorno abstraído – transtornos superados desenhando de novo um suave retorno ao miado exótico da gata escorregadia... Exótico – questão de ponto de vista. Escorregadia – questão de possibilidades. Escolher – escolha a impossível privacidade roubada pelas janelas com tela. Roubaram as cortinas – e um pequeno defeito na persiana impede a gata de fechar completamente as janelas com tela.

Transtorno alimentar – transtorno de duplas personalidades ou múltiplas preferências diferenciadas. Diferenciais – asas degustando as exceções tão irreais quanto a borboleta tatuada que enfeita os sonhos desorganizados do espelho irretocável.

Retoque as cores do desenho – tentando sem resultados.

Tentando esquecer – sem resultados.

Tentando transparecer – traduções equivocadas.

Superando equívocos – abstraindo transtornos de dupla personalidade ou peso.

A tristeza pesa sempre – sempre tentando esquecer o peso da tristeza.

A leveza dos sonhos perfeitos – leveza inalcançável (tão irreal quanto o ronronar da gata volúvel e ao mesmo tempo eternamente obcecada)...

Tudo tão irreal quanto a realidade fugitiva das cores do desenho – tudo tão concreto quanto os miados recortados na madrugada. Fallait pas ecraser la queue du chat – não corte muito as unhas da gata. Questão de ponto de vista – divergências necessárias ao bom funcionamento do equilíbrio que foge a todo instante...

A eterna indecisão se espalha por inteiro – tão irreal quanto poemas reciclados. Tão irreal quanto a realidade – tão irreal quanto o perfume saboreado toda vez que

Toda a vez que o vento me traz notícias da realidade tão irreal quanto eu mesma – mergulhando em cachoeiras intocadas e afastadas da poluição extrema que é

A poluição extrema que é o acaso – nada é acaso. Desenhando frases longas – desenhando silêncios feitos de contradições. A sede das cachoeiras – a sede das babuskas. As babuskas lésbicas sentadas no chão do quarto. As cachoeiras distantes guardando palavras irretocáveis. Erros. Abstrações. Sonhos concretos. Fantasias impossíveis. Desenhando frases curtas em cada miado tão irreal quanto o acaso. Desenhando contradições invisíveis e tão irreais quanto o silêncio preenchido por paixões sem nexo. Nada tem nexo – nada tem solução. Tudo tem sentido – tudo passa exceto as obsessões volúveis da gata insone. Volúvel é questão de ponto de vista. Real ou irreal também.

A sede das babuskas enamoradas entre si – o ronronar do gato sorrateiro que espia através de fechaduras ou portas trancadas. Tranque todas as portas – esconda-se até que os sonhos mais doces se tornem plausíveis e tão reais quanto o cappuccino que acompanha as eternas indecisões amistosas.

Liz Christine

domingo, 4 de novembro de 2012

Laisse le temps




Peixes nadando alegremente em águas doces. Gatas observando tranquilamente as rosas falantes. Uma breve pausa no diálogo das rosas falantes. E o dia amanhece chuvoso. As camélias beijam a babuska de vestido vermelho que procura a outra babuska de longos cabelos negros e franja curta. O gato Lensky folheia um livro enquanto seu cappuccino esfria às seis e meia da tarde – e o tempo transcorre suavemente dentro do quarto onde vivem as duas babuskas com suas gatas cautelosamente curiosas.

Uma babuska é escritora, a outra é jornalista e trabalha com produção de eventos – e o gato Lensky fecha o livro e bebe o cappuccino ouvindo pedaços de conversas ao seu redor.

O tempo transcorre suavemente – sábado à meia-noite os peixes continuam nadando alegremente em águas doces. A cafeteria fechou há meia hora atrás. E as rosas falantes ficam em silêncio por alguns instantes enquanto ouvem atentamente a música Blueberry hill. Uma das camélias é psicóloga e dorme cedo todas as noites – ela sonha com filmes sem palavras, imagens sem diálogos, cenas soltas e ligeiramente indefinidas que se fundem com memórias alternadas de tudo que foi ouvido durante o dia.

A temperatura cai de madrugada – e a tranquilidade das estrelas ameniza os humores temperamentais da lua sempre distante das reais inclinações do mar.

Liz Christine

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Um conto de fadas




A fada lilás colhendo mirtilos na floresta mais fria do reino – as palavras se repetiam transtornantes durante o mergulho em intransigências salgadas... Lágrimas cíclicas e suspiros circulares envolvem o silêncio gestual da rainha Myrtha – mude o rumo da conversa.

Conversa interditada na beira do rio congelado – a gata farejou sombras. Sombras destituídas de racionalidade – sombras tão brutas quanto os movimentos pesados da coelha gorda e bêbada caindo das escadas que levam ao quarto mais cobiçado do castelo. Castelo de paredes transparentes e ouvidos apurados – proteja todos os acessos aos quartos.

Tranque qualquer janela aleatória – tranque vozes e sorrisos ou expressões faciais ou portas e entradas. Afastem-se das escadas. E as lágrimas da rainha Myrtha retornam compulsórias enquanto a incompreensão soletra rascunhos de músicas para voz e piano. Bela Adormecida nutre uma paixão platônica pela insuportável fada lilás. Tudo está errado nessas notas musicais – recomece.

Tudo está errado neste romance inacabado – reescreva ou jamais releia. Não releia, esqueça. Tire as roupas e tente mergulhar no rio congelado – caso seja impossível, patine no gelo. Nuvens se aproximando – o gato de botas farejou a gata farejando sombras. E a gata se escondeu embaixo da cama da rainha.

Recomece, reescreva, repense, fuja, fugir ou relembrar. Fugir ou permanecer. A permanência transitória e a independência eterna. Desejos independentes se entrelaçam na neve. Em casos de dupla personalidade, nem sempre as metades se comunicam. Metades inquietas do brinquedo de pelúcia. Tranquilidade infinita e desejos recompensados – satisfações inesquecíveis.

A coelha gorda e bêbada caiu das escadas e quebrou o cálice favorito da rainha Myrtha que a mandou embora então e encontrou a gata debaixo da cama. Ela parou de chorar e foi degustar os mirtilos ofertados pela fada lilás. A insuportável fada lilás fez perguntas indelicadas e foi embora sem ouvir as respostas. E o castelo iluminado e protegido com o cair da noite fechou as portas para visitantes por tempo indeterminado. Até que a lua se restabeleça de uma súbita depressão causada pela queda na qualidade de vida das estrelas. As estrelas estão em greve agora e a lua continua esperando uma solução.

Liz Christine

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Diferenças de espécie




A gata branca Bastet comprou macarons de morango e de amêndoas na Paradis. O cisne Audrey assistiu ao balé Giselle. O gato preto Éluard acendeu um cigarro em área proibida para fumantes. E o imprevisível gato ruivo chamado Sócrates telefonou para o celular de Bastet. Bastet não atendeu o celular porque estava tomando um banho apurado e longo enquanto o cisne Audrey preparava um drink de leite desnatado com catnip do outro lado do corredor. Audrey e Bastet são vizinhas. O ronronante e imprevisível Sócrates comprou uma rosa vermelha e outra rosa branca e tocou a campainha de Bastet. Em uma lagoa mais afastada deste bairro os patos e sapos esperavam a chegada da tranquilidade zen que os livros encomendados trariam com o cair da noite. Em um lugar ainda mais afastado – muito mais afastado – havia uma cachoeira muito entediada com o barulho excessivo dos visitantes arruaceiros que plantavam palavras desordenadas ao seu redor. E as palavras cresciam e brotavam e murchavam e se entrelaçavam e se confundiam e exalavam caos – sem pausas para introspecções. A gata siamesa Cristina – namorada da Bastet – estava sonhando com um poema sobre a cachoeira que ela havia visitado há três meses atrás enquanto Bastet continuava seu longo banho e a campainha tocava. Audrey foi espionar o apartamento vizinho e suspirou chateada com a solidão constante em que vivia confinada – sem visitas, sem saídas divertidas, sem festas, sem companhia, sem romance, sem nada. Audrey era muito rica mas não confiava em ninguém e não gostava de ninguém e, inclusive, achava também que ninguém gostava dela. Audrey só gostava de balés românticos, clássicos, tecnicamente perfeitos, com grandes bailarinas, as melhores damas do balé. E gostava também de cappuccino e comida japonesa – mas isso ela tinha em comum com sua vizinha Bastet e também Éluard e Sócrates (e nem desconfiava que tinha gostos em comum com a gatalhada das redondezas, ela se achava única e solitária). Talvez Audrey fosse uma gata que nasceu cisne, sabe-se lá o motivo – ela até se divertia com catnip. Bastet viu a ligação não atendida de Sócrates quando terminou o banho e retornou – ele atendeu e disse que estava na porta da casa dela. Ela pediu dois segundos e abriu a porta – Cristina continuava em seu sono pesado no quarto principal da casa de Bastet, sonhando agora que era um cisne negro fumando erva de gato. Éluard andava meio sem rumo procurando uma cafeteria onde encontrasse espresso com licor no cardápio mas não encontrou nenhuma em Copacabana – só havia cafés alcoólicos em uma cafeteria em Ipanema e ele não estava a fim de andar tanto nem queria gastar com táxi. Éluard não tinha carro e suava para pagar todas as contas mas era muito educado e culto e escrevia muito bem, além de fazer música eletrônica também. Éluard morava bem perto de Bastet mas seu prédio era quarto e sala – muito bem arrumado apesar do pouco espaço. Éluard resolveu ligar para umas amigas-gatas e elas contaram que era aniversário de Cristina e haveria uma festa na casa de Bastet. Éluard conhecia Cristina e Bastet meio vagamente, conhecia de vista e poucas palavras trocadas, mas resolveu chegar lá com as gatas amigas. Audrey continuava espionando tudo através da porta e resolveu preparar mais um drink de leite desnatado com catnip e assistir de novo ao trecho do balé em que Giselle chegava no reino das willis (ela adorava esta parte da música e da coreografia). Audrey acabou enchendo a cara de catnip – pobre Audrey, uma gata que nasceu cisne, separada de seus semelhantes por diferenças de espécie. Não tinha nada a ver com outros cisnes – que fazer? Cristina acordou quando todas as convidadas chegaram – eram muitas e muitas gatas, de gato só havia Sócrates e Éluard. Audrey, completamente bêbada de drink de catnip, tocou a campainha na casa de Bastet. Sócrates abriu a porta, ela entrou, Bastet a cumprimentou, as convidadas se apresentaram, ninguém se importou com as diferenças de espécie, e todos ouviram música até o dia amanhecer.

Liz Christine

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Como as plantas



 
O silêncio recobre a vaidade – silêncio profundo duplicado na xícara de café...

Imagens retornam ao início de tudo dentro dos sonhos repartidos – tudo ou nada ou quase ou esqueça... Um quase despertar que foge a todo instante – sonhos repartidos e quase esquecidos retornando aos princípios desleixados – deixe estar, não se incomode, abstrair, esconder, subtrair, duplicar, repartir, mais intensa (retornam com mais intensidade)...

Mais intensa a abstração – esconda. Amores correspondidos – fuja. Nunca permaneça – apenas as exceções. Desejar apenas as exceções para todo o sempre – as regras são excessivamente vaidosas (ou talvez vazias de pressentimentos)...

Permaneça em silêncio durante três quartos do tempo volúvel – amores correspondidos em sonhos repartidos na profunda absorção de pressentimentos. A doce concisão dos sonhos repartidos – não complique mais a problemática interpretação de imagens sorrateiras que transparecem a cada gole de café. Problemas passageiros – tudo passa ou quem sabe quase nada muda tão profundamente nos intervalos da televisão (ignore, como fazem as plantas).

As plantas ignorando todos os comerciais ou séries – as plantas interessadas no balé dos peixes e fadas. Os peixes sonhando com felinas amistosas que convivem pacificamente com borboletas e mariposas flutuando ao redor do aquário. Palavras flutuam – fadas se escondem às vezes. Palavras camufladas – permaneça em silêncio durante três quartos do tempo volúvel e repita o café e o beijo. Sim, de novo – ignore as defesas eternas, como fazem as plantas.

As plantas tão pacientes e tão ardentes – as plantas queimando incensos e saboreando trufas de café ou cereja (isoladas das multidões barulhentas). As plantas indo ao mercado para comprar espinafre e brócolis – plantas degustando temakis enquanto assistem filmes de Buñuel.

Plantas comprando areia de gato e ração – enquanto a fada mais indecisa do esconderijo chama sua gata Titânia para visitar as plantas... Sim, as fadas vivem às vezes em esconderijos – só às vezes (assim como fazem as plantas).

Liz Christine

sábado, 8 de setembro de 2012

Sutilezas ou extremos




Apenas a língua – é assim a ideal – a língua ideal das borboletas surrealistas sussurrando doces fantasias perfeitas em francês ou em qualquer outra – língua – frases entrecortadas e reticências (...) – sentidos entre parênteses ou camuflados em reticências – procurar sempre...

Procurar a todo instante – a língua ideal – a fantasia concretizada – borboletas surrealistas ou gatas de raças não definidas – não definir – apreciar – superar – superar transtornos – o transtorno que é (...) –

O transtorno que é não te encontrar mais – a quase perfeição em formas de fada – a língua ideal com sotaques afrancesados – você ou qualquer outra – nada mais me serve agora (...) – agora que a tristeza se apodera...

A tristeza do amor impossível se apodera de cada instante de extrema solidão – a solidão das incompreensões indefinidas – não sei mais muito bem – je ne sais pas – não sei mais muito bem se quero esta ou aquela...

Esta suave e aquela intensa – esta doce e sutil e aquela chegada aos extremos da paixão decorada com contradições – esta tranquila e constante e aquela imprevisível e alucinógena – aquela surrealista e esta compreensível – a que me tranquiliza e conforta ou a que me acorda e provoca o que de pior há em mim...

O que de pior há em mim – os extremos da contradição açucarada – sentimentos dúbios – dúvidas salpicadas com indiferença – vinganças suaves ou quase suicidas – não se transtorne com extremos – não acredite em vinganças fantasiadas em silêncio – nada é real...

Nada é real exceto os prazeres – a língua perfeita das borboletas surrealistas ou gatas notívagas – tão insones quanto a lua – a lua solitária que perdeu sua amante favorita (por pura vingança)...

Não acredite em vinganças parciais – sentimentos doces – a doçura guardada em esconderijos inacessíveis – as partes mais fragilizadas quase sempre camufladas – mostre o pior lado às vezes – defenda-se – defenda-se de sentimentos doces e suaves perfumados com J’adore...

Defenda-se do romantismo maldito ou adorável – maldito ou adorável? Je ne sais pas – tudo depende...

Depende de você ou de qualquer outra – não depende de mais ninguém – nada mais me serve – acabou – acabou – acabou – minha favorita foi-se – só servia esta ou aquela – esta que escuta Edith Piaf ou aquela que ouve Tricky...

Esta que sonha e aquela que vive cada instante – esta que idealiza amores e aquela que vive o presente sem se incomodar com amanhãs – Laisse le temps, oublie demain –
Oublie tout ne pense plus à rien – esta suave e aquela intensa – as duas se repetem em sonhos ou memórias...

Amores dúbios – dividida entre sonhos e memórias – que venha a próxima – a próxima xícara de chá – também serve café – chá ou café ou nada – nada mais me serve – acabaram-se os amores lésbicos – que venha a próxima – que não me apareça mais ninguém – je ne sais pas – oblie tout – esquecer nunca mais – esquecer nenhum sonho, esquecer nenhuma realidade, esquecer nenhuma língua com sotaque afrancesado ou

Ou sutilezas apaixonantes...

Liz Christine

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

What a wonderful world




Nada a declarar – o tédio queimou todas as ervas purificadas pelas desilusões permanentes (...). Cabelos longos e ondulados naturalmente – a absorção da plasticidade felina. Movimentos breves – o tédio se desmancha durante a lua cheia ou crescente. E a plasticidade felina derretendo as severas críticas ao consumo exagerado de pastilhas anti-estresse. Ah, e se existissem mesmo – as suaves considerações românticas apuradas pelas desilusões permanentes.

Em mundos repletos de desilusões, o prazer instantâneo reina absoluto. Em mundos repletos de egoísmo, a solidão é compensada com futilidades esvoaçantes. E o tempo voa mais rápido que as bruscas mudanças de humor ou direção.

O tédio queimou todas as ervas purificadas pelo insistente otimismo ingênuo – nada a declarar. Palavra nenhuma vai modificar a insistente mania de acreditar cegamente. Desconfie. Desconfie de sorrisos e frases prontas para serem descongeladas no microondas. Os sorrisos podem esconder amargas desilusões universais – e as frases prontas não enganam os pressentimentos da gatinha ruiva que fará quatro anos em novembro. Os felinos compreendem o tédio e as fases da lua que desmancham amarguras. Doces miados substituindo frases prontas ao chegar em casa. Onde estão as pastilhas anti-estresse? Ou as gotinhas anti-depressão? Ou a massagem anti-pânico? Exercícios de yoga para aliviar os problemas cotidianos.

Nada a declarar – nada é tão necessário quanto a observação constante e fugitiva das gatas insones. Elas observam calmas e quietas o hospício que chamam de sociedade. E tranquilamente o vento gelado invade o silêncio das prateleiras de livros.

Liz Christine

Says my heart




Um desânimo coerente – a precária substituição das vontades desfeitas... :-/

Um longo e claustrofóbico túnel iluminado – a claridade excessiva dos mercados vinte e quatro horas... :-(

O impossível segundo passo na substituição das vontades desfeitas – impossível reencontro das sanidades passionais (...). Sanidade perdida – morangos estragados na geladeira lotada em casas anoréxicas. Anorexia passional – ausência de prazeres efêmeros ou constantes.

Nem constante nem efêmero, nem longo nem curto – flanando em quartos vazios dentro de casas anoréxicas.

Um desânimo coerente – sobra ração e falta apetite. Tempestade dentro de casas anoréxicas – é preciso saborear o salmão ao molho de maracujá para se esquecer (esquecer sempre a anorexia passional).

A falta que te faz – a falta que te faz um pouco mais de coerência nos temperos.

O gato roubou um potinho de comida da Nestlé indicado para bebês a partir de seis meses – o gato guloso que se recusa a sair do quarto. A companhia do gato ameniza o desânimo coerente – muito mais coerente que os olhos verdes da gata rajada que se comporta como uma coelha perdida na floresta. Perdidamente envolvida pelas plantações de catnip – à procura de aconchego aos pés da macieira.

Maçãs envenenadas pelo desânimo coerente – as fantasias ou manias, estas sim, são incoerentes. Mania de tentar consertar o impossível – o impossível reencontro da sanidade envolvente das borboletas perdidas. Perdidas no meio dos livros embaralhados pela inconstante mania de reorganizar fantasias impraticáveis. Impraticável é a voz da ventania que quase arrasa as plantações de catnip – a gata branca se aconchega na cama onde vivem a tranquilidade e o silêncio introspectivo ao ouvir atentamente pela milésima vez uma música da Billie Holiday (e a dona da gata branca olha através da janela com tela a impraticável voz da ventania).

Liz Christine

domingo, 2 de setembro de 2012

As paredes



As paredes me abraçam, as paredes me beijam...

Minhas amigas são as paredes

As paredes me ouvem, as paredes têm ciúmes...

Minhas amigas são as paredes

As paredes me exigem, as paredes me sufocam...

Minhas amigas são as paredes

As paredes me ouvem sem entender nada – apenas em parte...

As paredes são também amigas das minhas gatas ronronantes

As paredes me acariciam na nuca e nas costas...

E trazem patê de pesente para as minhas gatas ronronantes

Minhas amigas são as paredes

As paredes me prendem, sufocam, exigem...

Mas me enchem de satisfação e orgulho ou prazer intoxicado

Intoxicada por tamanha incompreensão misturada ao foco intuitivo

As paredes adivinham meus desejos e me complementam

Mas nada compreendem de meus pensamentos

Minhas amigas são as paredes

Um caso de amor passageiro que mais ninguém vê

As paredes confidentes, afetuosas, ardentes, apaixonadas por mim

As paredes que querem me tirar a liberdade para

Para desfrutarem da atenção total e serem minha mais completa inspiração

Inspiração única – as paredes que imitam ovelhas mansas

E me presenteiam com patos de pelúcia e porções de cappuccino

As paredes me desejam mais do que ninguém

Um desejo de agradar tranquilo que jamais me feriu

Um desejo sem maldade, uma adoração como ninguém seria capaz de imitar

As paredes insubstituíveis – latem de brincadeira enquanto eu mio pela casa

As paredes me abraçam e adormecemos juntas

Envolvidas pela música

Minhas amigas são as paredes...

As paredes poéticas e ardentes contrastando com a frieza das multidões

Lá fora tudo é frio e solitário

A solidão das multidões que as paredes amenizam

Meus amores escondidos – eternos e passageiros mas sempre insubstituíveis

As paredes me observam – sempre com desejo tranquilo

A tranquilidade do prazer certeiro – elas sabem muito bem o que fazem

E como fazer – sabem como fazer

Os beijos sabor framboesa e a língua mais doce do mundo

A língua feita de códigos e surrealismos – a língua perfeita

E mais e mais, e sempre

As paredes sinceras que nunca me enganam

As paredes são minhas melhores amigas

Sempre ao meu lado – sedutoras e afetuosas...

Liz Christine

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Diferença



Esquece, esquece, esquece... esquece a ventania que descabela as árvores...

Esquece mais uma vez... esquece a tristeza extrema que circula impunemente entre os cachos de uvas descontentes com a invasão das vozes sorrateiras...

As portas estão trancadas mas as vozes vêm pela janela semi-aberta ou pela sala distante habitada pela ventania que se comunica aos gritos – gritos ignorados no quarto trancado...

Nada mais é absorvido – a devolução sem digestão... pedaços inteiros de tristeza extrema não mastigada devolvidos na privada...

Se fosse possível virar tudo do avesso e recomeçar sem nenhum tipo de lembrança – esquece, esquece, esquece...

Esqueça tudo e qualquer coisa – simplesmente esqueça...

Esqueça quem você é ou foi ou será – e esqueça o que quer também...

Já que nada é como queremos – então que nunca mais se deseje nada...

Que a vida seja um eterno tanto faz – porque nada mais faz diferença...

Liz Christine

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Sócrates e Greta Garbo



O vazio das mentes opacas – era uma vez uma pobre vaca velha (...). Sócrates, o gato mais inteligente e charmoso do universo, sabe que todos os bichinhos são dignos de respeito – mas a pobre vaca velha nunca respeitou nenhum bichinho que cruzou seu caminho. A vaca velha era pobre de espírito, pobre de coração, pobre de sentimentos, pobre de poesia, pobre na compreensão do mundo e da arte. A pobre vaca velha nunca foi capaz de compreender um único filme mesmo tendo desconto no cinema para a terceira idade. Ela vai ao cinema com frequência pois vive confortavelmente de pensão deixada pelo finado boi. O pobre finado boi foi uma das vítimas da vaca velha – o boi foi pobre pela incompreensão dos que o rodeavam, foi pobre porque sofreu a vida inteira, foi pobre porque era um coitado digno de pena, foi pobre porque nunca o deixaram exercer todo o seu potencial, sempre sufocado pela vaca velha (vaca pobre em outro sentido). E o casal teve um pequeno boizinho gordo e nanico como ele só. O pequeno boizinho não vai entrar na história – nem a vaca louca que é a tia solteirona e sem rebentos do boizinho obeso. Uma família corrompida pela ganância e pobreza de valores da repugnante vaca velha que maltrata todos os bichinhos das redondezas. E Sócrates, o gato mais inteligente e charmoso do mundo (repito), teve a chance de observar essa vaca medonha de perto. Era uma vaca com veneno de cobra, uma mutação genética que escondia o próprio veneno só até se sentir contrariada. Ela se pudesse mandaria em tudo e em todos – mas há um forte movimento no spa dos bichanos felizes anti-vaca-velha. Sócrates, como já foi dito, sabe muito bem que todos os bichinhos merecem o devido respeito – e sabe também que há boas vacas cultas e inteligentes, bem-educadas, gentis, harmoniosas e de bom coração. Mas o movimento do spa dos bichanos felizes visa apenas combater o veneno específico da vaca velha que é incapaz de compreender qualquer coisa que não diga respeito à vida medíocre dela. Abstração é algo que não existe no vocabulário desta vaca. Nem compreensão, nem respeito ao próximo. E nem ao menos a palavra privacidade existe no dicionário desta vaca pois ela invade o espaço de tudo e de todos o máximo que pode. Sócrates, o gato mais doce do mundo, está neste exato momento tentando salvar Greta Garbo das garras venenosas da medonha vaca velha gananciosa. Greta Garbo é uma gata branca com manchas pretas que teve apenas três namoradas – gatas como ela – e jamais se casou ou namorou gatos machos. É uma jovem gata adulta porém inexperiente em certos aspectos – e Sócrates mantém um caso de amor platônico com Greta Garbo. E a vaca velha, extremamente retrógrada apesar de se achar muito moderna (ela não se enxerga como realmente é, a pobre vaca), anda espalhando fofocas e veneno por toda a cidade na tentativa gratuitamente maldosa de destruir a reputação da tímida Greta Garbo (uma gata muito introspectiva e totalmente na dela). Será que Sócrates consegue salvar Greta Garbo do veneno da vaca pobre de espírito? O melhor amigo de Sócrates é um labrador muito simpático que divide apartamento com uma raposa que faz análise com um papagaio. O papagaio é um grande psicanalista renomado e Sócrates está interessado em uma consulta inicial para expor o problema. Será que Sócrates consegue expor seu grande amor platônico e confessar toda a sua imaginação em uma sessão? E como termina esta história? A vaca velha vai destilar veneno até quando? E o amor impossível de Sócrates, como fica? Sócrates é um anjo encarnado em forma de gato, disto tenho absoluta certeza. É a certeza mais óbvia de uma história sem ponto final...,,,,,,

Liz Christine

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Sem nenhuma conclusão



O rato não lava o pé, o rato não lava o pé – enquanto o sapo injustiçado toma um banho na lagoa dos patos para depois encontrar a borboleta enfeitiçada e oferecer um doce presente a ela. O sapo injustiçado guardou uma caixa de macarons para oferecer à borboleta enfeitiçada que não consegue mais sair do lugar ou voar para outros lados devido ao vodu maledicente do rato que não lava o pé nem as mãos imundas. Os hamsters e chinchilas tentam quebrar o vodu maledicente do rato mau que rouba sorrateiramente toda a comida da geladeira e do restaurante vizinho e também, além disso, o rato mau e sujo rouba todas as palavras gentis das redondezas – restando apenas a maledicência macumbada que sufoca a pobre borboleta. Ela é rica em invencionices e criatividade mas pobre de forças para se libertar do rato imundo que a persegue roubando seus iogurtes e presentes e palavras ou poemas. Ela não tem privacidade alguma, tudo é vigiado e registrado para ser usado na manipulação macumbada dos alfinetes do vodu. As únicas alegrias da borboleta agora sem rumo são o seu grande amigo sapo cheiroso e a namorada dela que se chama Luana e é apelidada carinhosamente de Lua. Tudo que a borboleta quer é liberdade, poesia, prazeres positivos que não prejudicam ninguém, e um pouco de privacidade – isso é demais? Isso infelizmente soa impossível com um rato mau e imundo, além de persecutório e manipulador, que às vezes tenta até impedi-la de ver sua namorada ou encontrar seus amiguinhos e vizinhos. O rato imundo trafica queijos ilegais ou roubados e assim faz sua fortuna que ele emprega para controlar tudo e todos que moram na reserva florestal das águas límpidas. Tudo é limpo e belo na reserva – apenas o rato emporcalha os habitantes com seu fedor e maldades. Nada tem solução por enquanto – por isso a história da doce borboleta lésbica termina com um sonho de liberdade reconfortante e acaba sem nenhuma conclusão (...).

Liz Christine

Suicídio refletido no espelho


Suicídio refletido no espelho – morte de todas as ilusões. Jogo sem conclusões – equações que se repetem indefinidamente. Palavras sem nexo – sentidos sem pouso. Eterna solidão – regras sociais. Fora dos padrões socialmente aceitos – a hipocrisia. Sorria, você está sendo filmado. Finja, você está sendo observado. Disfarce, você está sendo hipnotizado. Esconda todas as obsessões, você está sendo analisado. Pratique o desapego, os meses passam rapidamente. Viva cada segundo – desde que a costumeira vigilância severa vá sugar outras vítimas. Vítimas de uma sociedade doente e agonizante – promessas de futuro incerto. Promessas falsas, promessas frágeis – um futuro que nunca chega. Suicídio refletido no espelho – morte de todas as ilusões. Um sonho de liberdade passageira – o suicídio de todas as liberdades individuais. Não, não, não sei – não há tempo para escolhas ou recusas. O tempo decide por todos nós – suicídio de todas as liberdades. O governo decide o que proibir e o que liberar – a sua opinião não fará diferença alguma. Ninguém nos pergunta absolutamente nada – as autoridades sabem melhor do que nós o que nos faria mal ou bem. Nossa opinião ou manifestações não contam – as autoridades ou pesquisadores patrocionados entendem tudo bem melhor que todos nós. Não compreendemos absolutamente nada, ou entendemos muito pouco dos assuntos – não somos mais capazes de decidir por nós mesmos. Não é mais permitido ter opinião ou comentar – acabou. Acabou tudo. Acabou até a paixão. Acabou até o prazer. Acabou até o livre arbítrio. Acabou a sanidade mental. Acabou a poesia. Acabou a arte. Só importam as pesquisas de mercado e o possível lucro. As minorias são hipocritamente aturadas – mas não têm voz alguma no caldeirão das Eríneas. Suicídio refletido no espelho – a morte da poesia. A beleza é uma ilusão – a beleza dos valores, a beleza dos sons ou sombras. Sombras da realidade destruída – a destruição das palavras. Palavras deturpadas, retiradas do contexto original – a manipulação através da degradação. Degradação dos ideais ou objetivos – o sufocamente das vontades ou sonhos. Acabou. Acabou a música. Acabou a literatura. Acabou o teatro. Acabou a cultura. Acabou o balé. Acabou o pas de chat. Acabou o amor. Acabou a segurança. Acabou a auto-estima. Acabou tudo. Só restam sombras. Suicídio dos sonhos soterrados por uma realidade que só apodrece a cada mês – e os meses passam rapidamente. Os meses passam e nada permanece – não resta mais nada a não ser fazer silêncio.

Liz Christine

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Entre quatro paredes ou sob o luar



O céu está frio. Os anjos choram. E as gatas festejam – festejam o vazio infinito que é a vida terrena. Toda a falta de sentido camuflada sob a aparente profundidade do céu gelado. Ou seria aparente a falta de sentido – ou seria aparente a profundidade – ou seria aparente a dúvida – ou seriam aparentes as certezas – ou seria aparente a futilidade infinita – ou seriam aparentes as – as – as – (

As dúvidas novamente, camufladas novamente, expostas parcialmente, as dúvidas quase arrogantes, ou quase raivosas, ou quase suaves, ou quase doces, ou quase explícitas, ou quase escondidas, ou quase submersas, ou – ou – ou)...

Oui, oui, quase, quase. Quase nada. Quase nada faz sentido aparentemente. E aparentemente quase tudo é transitório. Mas na realidade é imprevisível – tanto quanto a – tanto quanto a – a – ),

As palavras submersas – o silêncio camuflado – quase nada é concreto ou palpável – apenas aparências e nada mais –

A comunicação sem palavras – as cenas descartadas – as escolhas rejeitadas – e as gatas festejam – festejam a erva de gato dissolvida na caipirinha de saquê com morango e adoçante. Os trechos jamais sublinhados dos livros – os diálogos esquecidos dos filmes amados – as cenas novamente descartadas – as memórias sem importância – as coisas mais inúteis se repetem no comercial do céu gelado – e os anjos choram.

O céu é aqui. O inferno também. Depende das conjunções ou quadraturas. Tranque seu coração até que – até que – até que –

Até que algo faça sentido – ou até que alguma coisa se destaque no meio de tantas cenas descartadas – no meio de tantas frases sem nexo – no meio de tanta frieza ou tanta – tanta – tanta – subversão de valores ou conceitos – a lua é fria (ou seria indiferente ou seria ausente – ou qualquer outra coisa)...

Qualquer outra coisa que se queira – tudo é impossível fora da imaginação. A não ser que as conjunções ou quadraturas colaborem. Nada faz sentido. Ou não é fácil enxergar. Enxergar ou pressentir – ou adivinhar no tato. O céu é aqui. O inferno também. E o limbo também. Entre quatro paredes ou sob o luar – na rua ou em qualquer lugar. E as gatas festejam – festejam a doçura de um sonho concretizado. Mas quase tudo tem prazo de validade – até os sonhos – ou será que não – não há mais dúvidas – não há mais certezas – não há mais nada além das gatas que festejam a erva do gato misturada ao saquê depois de assistirem ao filme mais confuso do ano. Primeiro o filme, depois o saquê, e depois água com gás, e depois bons sonhos despertos – sempre despertas as gatas observando a vida terrena e os maus hábitos humanos de dentro do esconderijo delas.

Liz Christine

À margem da vida


 O bloqueio sentimental das horas ocultas

Sofrimento permanente das asas corroídas

Liberdade inatingível das ondas lúcidas

Tristeza e ausência no rosto da boneca de porcelana

Liberdade atrofiada sem a movimentação das babuskas

Inútil evolução da espécie

O jardim das borboletas lésbicas permanece oculto

Oculto em fantasias libertárias de delicadeza e suavidade

O mundo autoritário e até hoje sexista

O mundo corrompido com suas asas negras

Enquanto as asas das borboletas sobrevoam verdades ocultas

O bloqueio sentimental das horas ocultas

O mundo corrompido bloqueia fantasias doces

O mundo autoritário corrompe a inocência eterna

A inocência daquela espécie em extinção

A espécie que sonha com doçura

A espécie que cria ou inova ou reconstrói

A espécie que ainda acredita na arte verdadeira

Ou em amores que não se decompõem com as corrosões do tempo

A espécie em extinção que vive isolada

Espécie sem seguidores ou seguidoras

Espécie à margem da vida

Excluída das preferências massificadas

Espécie condenada à loucura ou à poesia

Ou ao sonho eterno que não encontra nenhum pouso seguro

Flutuando entre sonhos e rotinas fúteis

Entre a realidade massificada da qual não se pode fugir

Mas por dentro – sempre à margem da vida

Liz Christine