quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

À quoi ça sert l’amour?

You’ll see, one day, these dreams will pull you through my door

Nada para dizer nada para dizer só a memória
A memória do nosso encontro desencontro desencanto e outras palavras
Memória de palavras pronunciadas em momentos cor de violeta e verde-água
Eu fumo e ignoro e durmo e sobrevivo eu me alimento de sonhos e espaços silenciosos
Espaços vazios de móveis espaços a serem ocupados espaços de tempo entre uma existência e outra
Espaços de tempo entre uma resposta e uma dúvida
Espaços de tempo entre um sonho recortado e uma música que começa
Começa assim: “vamos falar de amor somente de amor…”
Amor? Nada para dizer nada para dizer só a memória
Memória de amores simultâneos breves eternos aveludados sinuosos
Memória da minha segunda e mais completa paixão
Não quero viver na memória quero viver no presente vamos falar do presente
Presente é desencanto e outras palavras presente é sobrevivência e espaços silenciosos
O presente é precário sóbrio gasto envelhecido pesado
Eu não visto bem o presente
Quero me revestir de indiferença ao presente indiferente e alheio
Estou alheia, você indiferente, eu quase me acabando
A sobriedade prolongada me déstroi a falta de ações simultâneas me destrói
Sua idéia de amor me destrói
Você fala em dor e sacrifício eu falo em prazer e liberdade eu vivi o prazer e a liberdade você viveu a dor e o sacrifício e nosso final foi amargo e lento
O final da minha liberdade foi agonizante e o final do meu prazer é inquestionável
Não se fazem mais perguntas eu não pergunto mais se pode morrer o amor ou se talvez ele seja só ilusão e expectativa e engano e comunicação deficiente e
E você não me pergunta mais o que eu quero o que eu sonho o que eu fui e sou agora
Não nos perguntamos mais se teria conserto a comunicação deficiente
Nem discutimos mais
Nem rimos mais
Nem fantasiamos a realidade insatisfatória
Quero ir embora vou embora estou indo embora
Carregando na memória e no corpo os momentos lilases e verde-água de aroma amadeirado e suave

You go to my head and you linger like a haunting refrain, and I find you spinning ’round in my brain, like the bubbles in a glass of champagne
(música You go to my head, na voz de Frank Sinatra)

O senso de liberdade a minha falta de bom senso os amores simultâneos a dor alheia a minha dor, a minha dor é a dor alheia, a dor alheia é minha vontade
Minha vontade prevalece meu desejo é satisfeito e as conseqüências…
As conseqüências eu carrego na memória e no corpo e nas palavras
Nada para dizer nada para dizer nada mais a dizer agora
Acabou

Liz Christine

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Sua para sempre

Eu me sinto vazia, eu me sinto triste, eu me sinto à beira do desespero mais
Seu olhar é profundo como o mais arredio dos peixinhos prateados do mar revoltoso
Você me vê e me adivinha por trás de espaços entre uma frase não dita e outra sussurrada
Mas eu não gosto de você, não gosto porque – bem, você não sabe, e sabe demais
Ao mesmo tempo
Eu já disse tudo e não contei nada
É verdade, você me atrai como o movimento de um fio de linha atrai um gato
Mas não te analiso, preferia te descobrir da mesma forma que se aprende a beijar – treinando
Alguns nascem sabendo?
Você já me conhece, sempre conheceu, mas há tantas coisas que a razão desconhece
Quais outros sentidos você usa para descobrir os mundos?
Eu preciso tanto
De tantas coisas
Algumas se compram, muitas outras não
Um amontoado de sentidos com a sensibilidade exposta sem muito senso de direção
Eu te busco
Sim, eu te busco, e te alcanço naqueles momentos em que
Bem, você não sabe, e sabe tanto
Eu te amo, amo, amo, e sei que você me deseja inteira como eu te desejo em parte
Te desejo só em parte porque, bem, porque
É verdade, isso é uma das verdades, e não quero me aproximar mais dessa vaga sensação de memória distorcida e apagada por
Mas eu te amo
Sua para sempre

Liz Christine

sábado, 15 de dezembro de 2007

Ausência

Eu cheiro ausência, e essa ausência vai direto para o meu cérebro
Minha língua fica dormente de tanta ausência
Eu vivo ausência, e me parece então que isso não é exatamente a vida que eu gostaria de

Sim, mas eu gosto, eu gostava tanto
E acaba, acaba sempre assim:
Não consigo dormir, penso sobre letras de músicas e sobre amores desfeitos e sobre sexo
Penso muito sobre sexo
A realidade é sempre melhor que a imaginação
Sentir é mais agradável que pensar
Mas a imaginação anestesia a falta que tudo me faz
Tudo para mim se resume em prazer ou desprazer
E o desprazer dá enjôo

Estou cansada, realmente cansada…

Liz Christine

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

A rosa vermelha e o amor tão livre


Eu quero a rosa vermelha que se encontra sobre a cama de lençóis de cetim. Eu quero o amor tão livre dos tempos de inocência inconsequente. Prefiro mulheres experientes. Mas gosto também da loucura das descobertas. A febre e o frescor das descobertas. Eu quero a música que faz flutuar descalça sobre uma piscina repleta de camélias. Eu quero nadar nua no chuveiro dentro do quarto de uma casa de bonecas. Eu quero todas as bonecas russas e todas as princesas da Disney. Eu quero a liberté de um poema do Éluard… e a sua voz numa caixinha de música, só a sua voz, sem acompanhamento algum.

Liz Christine

domingo, 9 de dezembro de 2007

dentro do seu silêncio

O mesmo silêncio, a mesma cor, as mesmas ruas
Eu caminho dentro do seu silêncio quando estou acordada de madrugada
E você dorme, eu sei que você dorme, em algum lugar
Tem uma gata de olhos verdes na minha cama
Etta James, Billie Holiday, Josephine Baker, Adam X, Technova, no meu ipod
Se ao menos eu pudesse ler o que você pensa...
Mas... você pensa? Sobre o quê?, além de trabalho, trabalho, trabalho?
Eu não tenho idade, eu não tenho família, eu não tenho dinheiro suficiente
Só tenho minha mamãe e eu mesma
Tenho pirulitos sabor olhos verdes
E balas sabor eu-desejo-te-amar-até-o-fim-dessa-madrugada
Sou amante do desejo irrefreável
Sou irmã da memória irrecuperável
Sou filha de uma psicóloga que ama gatos tanto quanto eu e de uma bicha que nunca vai se assumir e dá aulas sobre Qualidade de Vida
Gostaria de compreendê-los sem julgá-los, sem culpá-los
Não, eu não julgo, nem culpo, mas tenho contradições
Gostaria que todos se aceitassem, uns aos outros e a si próprios
Mas os consultórios de psicanalistas e psiquiatras estão tão cheios
De pessoas que não conseguem aceitar e conviver ou se conhecer e amar
Gostaria que todos os amores fossem correspondidos
E ninguém seria destruído por falta de amor
Mas algumas pessoas passam a desprezar quem as ama... por quê?
Eu gosto de quem gosta de mim
Eu passo até a achar que não posso mais viver sem a pessoa que parece me amar
Mas sou um tanto cruel às vezes... e exijo um tanto quanto
Há quem exija fidelidade, exclusividade, há também quem exija coisas caras
Mas eu, eu preciso de muito sexo oral, muitos beijos, coisas que me surpreendam
Eu exijo que não me permitam ficar entediada, que me escutem
Que falem sobre si mesmos
Eu gosto de prazeres extremos
Gosto do que não é comum
E você, não sei de muita coisa a seu respeito
Mas não consigo te esquecer...

Liz Christine

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Gardênias


Ela usava gardênias nos cabelos. E tinha asas nas orelhas. Quando eu a convidei para ir a um bar gay comigo, ela me respondeu: “eu comecei a ser feliz quando desisti de procurar a felicidade”. Pois eu, comecei a ser infeliz quando desisti de buscar. Quando me acomodei na solidão e no descaso e mal tinha vontade de acordar. Eu insisti para ela ir comigo, ao que ela me disse: “infeliz aquele que vive nas trevas da madrugada”. Eu, por mim, adoro a madrugada. Mas quando caí em depressão dormia o dia e a noite inteiros. Eu arranquei, então, as gardênias dos cabelos dela, e gritei que estava farta, farta. Perguntei onde as asas dela poderiam nos levar. “Devolva minhas gardênias”, ela me pediu, “sem elas as asas não nos levariam a lugar algum”. Não devolvi as gardênias.

Liz Christine

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Etiquetas

Não, não há mais nada a ser dito. Falo e continuo falando apenas porque sonho. Não, não há muita compreensão. Há julgamentos e etiquetas. Tudo é catalogado. Todos os sintomas já foram catalogados. E se você pensa demais em alguma coisa chamam de idéia fixa e idéias fixas são sintoma de TOC. Só tenho idéias que se repetem e idéias que surgem sobre assuntos de sempre. Só quero saber de amor e sexo e mulheres e

As coisas de sempre.

Liz Christine