quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

Os anjos


 

Ela escutava os anjos

 

E os anjos reliam

 

Ela escutava os anjos

 

E a Poesia tocava

 

As palavras respiravam

 

E a música distante ronronava

 

Ronronava distante

 

E ela escutava os anjos

 

E chorava um pouco

 

Mas só um pouco

 

E se alegrava

 

Ela escutava os anjos

 

E compreendia um pouco

 

Mas só um pouco

 

Não completamente

 

E a Poesia tocava

 

E as palavras respiravam

 

E a música distante ronronava

 

Ronronava distante

 

Liz Christine

Buone Feste

 


terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Os olhos de Van Gogh

 


Achei um texto mais antigo

 

No meio de alguns rascunhos

 

Que não foram publicados

 

Um texto quase esquecido

 

Sobre os olhos de Van Gogh

 

Mas não vou publicá-lo

 

Vou guardá-lo em um poema

 

Um poema murmurado

 

Com sons experimentais

 

E o som do mar mais outro mar

 

E aqueles miados gravados do Sócrates

 

E das outras gatas

 

Acontece que esse texto

 

Sobre aqueles olhos

 

Jamais foi escrito

 

Foi sonhado

 

E desenhado

 

E redesenhado

 

Mas tenho as palavras

 

E não vou publicá-las

 

O poema foi murmurado

 

Deixado embaixo do travesseiro

 

E guardado em uma das gavetas.

 

Liz Christine

 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

Fragmentos


 

O gato chamado Nijinsky foi até a janela e miou. E depois se afastou da janela e foi até o espelho que ficava em um dos quartos da casa. E no espelho estava escrito: “O essencial permanece invisível aos olhos e ouvidos humanos.” Mas o gato Nijinsky conhecia uma parte da frase de algum livro que havia lido faz tempo, e a frase como ele havia lido era apenas assim: “O essencial permanece invisível.” Mas, talvez, não permaneça invisível por tanto tempo aos olhos felinos, e talvez não seja tão inaudível ou imperceptível durante as imersões em estágios de pura e crescente quietude.

 

Apenas um rascunho do que deveria ter sido contado (ou recontado). O que ouvimos são fragmentos e o que lemos é tão necessário quanto beber chá à meia-noite. Vi Sócrates, o gato, em um sonho e ele parecia contente. E então eu ouvi mais fragmentos de realidades incompreensíveis, e bebi mais chá e falei com a minha gata. E ela me respondeu.

 

Liz Christine