quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Impaciência mesclada


Uma leve impaciência mesclada (…).

Os lírios na janela telada suavizam a temperatura da alta madrugada (…).

Tudo é silêncio adocicado no ar perfumado que envolve o quarto lilás (...).

Uma leve impaciência mesclada, uma breve indecisão adocicada, tanto faz (...).

A gata deitada na almofada no chão retém olhares atenciosos por alguns momentos (...).

Às quatro horas da manhã observando a lua imersa em pensamentos (...).

Pensamentos tão breves que se dissolvem nas ondas do mar esverdeado (...).

A impaciência se dissolve em doçura e a doçura se desmancha em um beijo perfumado (...).

Os lírios na janela telada suavizam a temperatura da alta madrugada (...).

Sento no teu colo observando a gata sonhando com a lua embriagada (...).

Mais um cálice de vinho, mais uma xícara de chá de maçã, seja como for (...).

Acordadas em silêncio olhando as estrelas que inspiram desamor (...).

Pensamentos breves que se dissolvem a cada movimento (...).

Paixões fúteis que se desmancham a cada nova diversão ou evento (...).

Amores inatingíveis que só existem em poemas já ultrapassados (...).

Tudo se desmancha a cada modismo ou novidade e os amores parecem desgastados (...).

Desgastados pela impaciência mesclada (...).

Desgastados pela brevidade da alta madrugada (...).

E aqui no quarto lilás a doçura reina absoluta ao sabor da maresia (...).

Enquanto a gata branca suspira, ronrona e suavemente arranha um livro de poesia (...).

Liz Christine

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Mon rêve c’était vous


Ah a babuska que caiu da estante de livros. Eu já nem sei, e já nem digo mais que nem sei. Nada de nada. Os sentidos se escondem atrás da porta trancada. Mon rêve c’était vous. Ah a palavra que desabou no chão e perdeu o sentido – (amor). Essa palavra invisível criou raízes e desabrochou – até que a realidade de uma ausência (ou muitas) a reduziu em pedaços indiferentes e desconexos. Muitas outras palavras sobrevoam esse sentido invisível – mas estão todas escondidas atrás da porta trancada. Todas as palavras se esconderam das estrelas enquanto eu buscava a verdadeira essência do esquecimento plausível. Ah buscar sentidos plausíveis em meio aos livros da estante e encontrar apenas uma babuska que caiu da estante derrubada pela inconsistência das palavras impregnadas de ausências plenas de incompreensões correndo contra o tempo. É que não quero mais perder tempo – apenas descansar em silêncio até a próxima ausência ali na banca da esquina. Fumar o sentido invisível que não desgruda da minha impaciência ausente da real situação das tuas perguntas carregadas de carências. Posso te abraçar e esquecer toda a minha indiferença em relação aos clichês do amor e acreditar realmente por alguns instantes na verdade de todas as declarações apaixonadas – mas sei que não. Preciso de algo além dos clichês – algo que realmente exista. Além de quaisquer declarações. Preciso de toda a doçura impossível de ser desembaraçada da confusão que se faz em torno da palavra ausente (amor). Esquecer todas as mentiras bem-intencionadas e mergulhar – (ou fugir). Fugir até quando? Até não poder mais – até não poder mais te esquecer (...).

Liz Christine

domingo, 9 de janeiro de 2011

Inquietudes


A realidade sufoca todas as tolices guardadas na geladeira na mesma prateleira onde se econtram os morangos e os pêssegos. A realidade sufoca também amores corroídos pela falta de tempo ou excesso de iogurte desnatado deixados sobre o chão ao lado do notebook. O que precisa ser dito na realidade é que nada precisa ser dito realmente. O polvo adivinha todas as lágrimas derramadas injustamente. Já no café da manhã bebe-se toda a insatisfação domesticada pela realidade. Mas não me conformo nunca – os amores corroídos pela falta de tempo sobrevivem em canções imortais. Devo dizer que todo transtorno mal curado me espia enquanto lavo meu cabelo à espera de uma solução. Soluções que nunca chegam porque a cada dia nascem novos conselhos, todos coerentes e passíveis de serem adaptados à cada realidade que circula alheia pelas ruas. Ah ausência (...). Toda a ausência que mora em corações entristecidos enquanto observo certos movimentos de trovões cortando realidades – cada realidade circulando alheia às outras, e são tantas. Um minuto de atenção, não consigo mais me concentrar. O polvo adivinha todas as injustiças derramadas inutilmente enquanto tolices são degustadas junto ao café. Onde encontro uma realidade mais condizente com o amor que mora em gaiolas querendo voar de mãos dadas com a satisfação plena de todos os sabores? Ah transtorno (...). Exercícios de respiração acalmam progressivamente as inquietudes afogadas injustamente na banheira. As inquietudes ainda respiram e se encantam com cada saudade compartilhada com o mar – ah saudades (...).

Liz Christine

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Tulipas


Quero andar nua pelos canteiros de tulipas fumando toda a ausência do café nosso de cada noite. Sinto uma vontade de mergulhar nas nuvens mas o cansaço me detém. Teu rosto retido na minha memória tão inconsistente que redesenho minha plantação de palavras a cada vez que respiro. Inspirar profundamente e sentir toda a liberdade correndo nua. Um cansaço das coisas todas como elas são, querendo trocar tudo de lugar e virar a realidade do avesso para reencontrar a paz ou a liberdade tão sonhada a cada gole de café. Mas gatos são bichinhos cheios de manias (...). Improbabilidades e possibilidades – quero esgotar todas as possibilidades do mundo antes de escolher um caminho. Ou me deixar levar pelas nuvens doces e leves. Meu amor nunca descansa enquanto a ausência toma conta da noite e todas as contradições se convertem em olhares duvidosos. Tudo soa duvidoso até a próxima certeza - e as certezas se dissolvem no mar (...).

Liz Christine

domingo, 2 de janeiro de 2011

Em cada brecha


A lua rodeia cada instante que mora dentro da introspecção de um desabrochar de quereres – quero a gata branca que se esconde da solidão inerente nascida dos ideais desaparecidos (...). As palavras desaparecem de vista quando a poluição das águas é inerente ao descaso de uma intuição pacífica. Descarto agora mesmo qualquer alternativa de te esquecer – e mergulho no mais puro descaso que rodeia cada pensamento vindo lá de fora. Lá fora é tão poluído que me perco em tentativas de esconder introspecções tão breves. Cada mudança é breve, tão breve quanto tempestades que cessam nos minutos insanos que se seguem à cada procura (...). Procurando um sentido que se dispersa no mar e reaparece com sabor de café sobre pilhas de livros insones. Todas as palavras desaparecem de vista quando os ideais se dispersam e se escondem novamente – quero a gata branca que se esconde a cada breve tempestade (...). Mudanças tão breves que se dissolvem nos minutos insanos que se seguem ao desabrochar de quereres em vão que se dispersam em tentativas de reconstruir um mundo inédito sobre as ruínas silenciosas que escondem as mais variadas sensações enterradas na areia. Lá fora é tão assustador que sonho dentro de conchas tecidas pelas mais variadas sensações nascidas de ondas mais que perfeitas (...). Duvidando de quaisquer realidades até que me provem o contrário – a verdade mora em cada brecha deixada pelo silêncio tão breve que se enrosca em cada sentido tecido pelos sonhos compartilhados com a lua (...).

Liz Christine