quinta-feira, 20 de agosto de 2009

A lua sobre o rio


Preciso de algo que dure o tempo de um mergulho em verdades volúveis que se modificam e transformam a lua sobre o rio que sorri e se espalha ao redor de um ponto – há um ponto em alguma parte da história que me descobre em pedaços. Focaliza cada pedaço separadamente, detalhe por detalhe, até me reencontrar ao todo. Inteira e vulnerável, voando em direção ao encontro entre uma língua e um seio. No tempo de um mergulho em verdades volúveis que transformam um pedaço de cada som pronunciado – é verdade que há melodias em uma voz que desenha linhas ou curvas que se enroscam e depois se alongam até o infinito que termina no início de um beijo na nuca? Ouvir tua respiração e sonhar com o tempo em que tudo seria pronunciado através de atitudes – seria, se não fosse pela tua mania de comunicar o impossível. É impossível o desencontro total entre duas verdades? Ou seria possível a interseção entre duas formas de sentir o mundo correndo? Um mundo corre dentro de mim ao fechar meus olhos – são sons pronunciados apenas através de movimentos teus ou meus. Eu não preciso de movimentos bruscos ou rudes ou de idéias incisivas que teimam em serem ouvidas contra a minha vontade – eu preciso apenas de algo que brilhe na duração do tempo onírico e aveludado que se estende ao redor de duas pessoas que se querem mais que qualquer outra coisa.

Liz Christine

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Ao extremo de cada linha


Dentro da xícara de café eu vejo um beijo – é o beijo que eu quero amanhã. Amanhã, porque hoje estou meio distante demais tentando adivinhar algo brilhando ao final de um interminável corredor – talvez seja uma estrela, mas pode ser que seja uma boneca vestida de bailarina que arrancaram de mim enquanto eu tentava me desviar de um pensamento obscuro que não era exatamente meu. Não apenas as estrelas brilham – a roupa daquela boneca-bailarina também brilhava. De certa forma – de certa forma, alguma coisa qualquer a respeito dela precisa ser dita. E vou me abster de pensar ou de te ouvir por alguns minutos – eu vou me fechar dentro da música que toca através de um mar que não é azul porque agora, nesse momento, eu estou tentando amortecer a minha queda. Às vezes eu mergulho no mar verde ou em uma piscina plantada dentro da grama – eu preciso achar um meio-termo entre sonhar e ser. Ou ter e ouvir. Talvez eu não queira um meio-termo – ao extremo de cada linha há um certo equilíbrio aparentemente precário mas eficiente como rosquinhas de leite que derretem no chá. Já viu um par de sapatilhas lilás? Não, eu não posso cair dentro de nostalgias indiscretas – e eu não sei se a piscina está cheia ou vazia. Vazia de sentimentos. Ou cheia de idéias tortas. Mas sei que espero algum nível de profundidade que aparentava ser alcançável através de uma transformação sutil em mim. Aparências (...). Eu quero a verdade delas duas – coisa que nunca pedi antes porque acreditava simplesmente. E não é para acreditar em gentilezas e delicadezas? Não se deve crer em um par de sapatilhas ou asas lilás? Ou em palavras saídas de um par de olhos verdes? A estrela-do-mar (...). A verdade sobre mim é que meu olhar se altera constantemente ou eu mudo a direção de cada sentido.

Liz Christine

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Fada de chocolate ao leite


Sabe?, eu continuo...... flutuando ou batendo asas em direção ao infinito inatingível que reencontro de tempos em minutos alternados...

: ouve nosso silêncio através de idéias curtas e profundas trocas de olhares;

Faço um rio de essência de baunilha dentro de uma xícara de café e depois eu quero lamber o açúcar cristal que cai de uma rosquinha amanteigada – eu me enrosco no colo de uma fada transparente feita de chocolate ao leite e cafeína.............

Ela quase não fala – mas ainda não a conheci o suficiente: eu vou convidá-la a ir comigo até...

... até o infinito inatingível que reencontro em determinadas formas de olhar e maneiras de sentir – será que ela vem ou aceita?

Liz Christine

sábado, 8 de agosto de 2009

Do meu casulo


Deitada em minha cama eu beijo o mundo todo em pensamento. Eu saio de casa e percebo mulheres que nunca havia visto antes nos lugares de sempre. Elas me dizem que estão frequentemente ali mas eu não as via antes. Dou meu telefone ou celular a pessoas que provavelmente não vou ver mais a não ser que eu saia novamente do meu casulo. Eu permaneço e me vou e me sou e te percebo. Permaneço quieta em movimentos fluidos e circulares de forma abstrata. E me vou construindo para desconstruir o meu medo. Revitalizar um certo quê que me torna palpável. Sim, eu quero. Eu quero me ser ao te ter por perto. Livre sem esconderijos. Mas você insiste – tua maneira de jogar as palavras. Eu danço com a tua voz inquieta tentando me comunicar algo que não é inteiramente necessário – esqueça as palavras por algumas horas, eu te peço. Deixa teu corpo ser direcionado a partir de meus movimentos volúveis. Eu não vou te responder nada mais. Eu nem sequer sei se vou te ver de novo – é que soa imprevisível, mas eu creio. Eu ainda acredito em amor à primeira vista – mas nem sempre isso acontece. Grande parte das vezes não é nada demais – nada mais profundo se desenvolve. Sinto o cheiro do mar e beijo o teu mundo em minha cama.

Liz Christine