segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Sensibilità


Teresa D’Ávila escreveu um poema em um sonho distante. Marguerite Gautier se suicidou aos quinze anos. O romance está morto. Plágio. A utopia vive e passa bem, obrigada. As vinte e uma causas da depressão prolongada e o único motivo de nossa existência. Ou persistência. Desista. Não, não sonhe tanto. Duvide. Não, não desista. Abstrair. Esperar. Longas esperas e nada se resolve. Paliativos. A utopia vive e passa bem, obrigada. Mais uma vez e novamente. Definitivamente. As vinte e uma causas da depressão prolongada e o único motivo de nossa existência. O bichano ronrona e as duas gatas brincam de esconde-esconde.

Não é possível. A conversação dos gafanhotos está interferindo na absorção. E os olhares curiosos estão atrapalhando completamente a introspecção ou quietude dos ambientes internos. Ração para gatos adultos que vivem em ambientes internos. Gatas felizes satisfazendo as próprias vontades e aspirações. Fazem o que querem. A casa pertence aos felinos. Sempre. Os humanos apenas abastecem necessidades felinas e anseios inocentemente hedonistas e puros, além de manterem a organização e a higiene da casa para o total conforto das mimadas e soberanas gatas.

Catherine Deneuve em Pele de Asno. Madeleines na pausa para o chá de frutas vermelhas Casino. Twinings ou Casino? Sócrates fica indignado ao ouvir que madeleines não são adequadas para gatos. Mas o bichano já aprendeu a roubar comida quando as donas se distraem. A alimentação e o paraíso de Sócrates. O gato é elegante e não tem tendência a engordar – além da prática diária de exercícios como caçar marcadores de livros coloridos ou pular da cama para o chão ou do chão para a cama. Mas insistem na idéia de que comida de gato é ração e pronto. Ele jamais aceitará este ponto de vista humano.

Twinings ou Casino? Sócrates aprecia ambos os aromas. Os mais doces. O romance nunca estará morto. Quem disse isso é que já morreu. Plágio. O romance e as utopias vivem e passam bem, obrigada. E vida longa à pequena família felina de gatunos que roubam comida humana. Roubar é muito feio. Mas os bichanos estão perdoados. São tão doces e inocentes. Alegram e preenchem totalmente os tais ambientes internos que os humanos constróem para si mesmos.

Ao ar livre, madrugada, luz da lua – um breve passeio solitário (...). Um pouco de vinho após o balé. Um pouco de sonho em nosso cotidiano. As aspirações reais e soberanas da eterna remodelagem de sonhos que nunca se esgotam. A renovação do silêncio. A paixão vive e passa bem, obrigada.

Liz Christine

terça-feira, 3 de setembro de 2013

La cantina dei poeti


As atenções sugestionáveis e os corações partidos (...). Inspire novamente. Sempre. Confianças dúbias e quebras de sentido repentinas. O perfeito acabamento sem palavras. Dispersões. A concentração fugitiva. A modelagem do silêncio reagente. Paixões que retornam e se renovam. Pouco a pouco. Em alguns instantes. Em cada reticência. Em cada brecha. Tranque as portas. Sempre. Sempre há ouvidos atentos. Bem atentos. As atenções sugestionáveis e os corações partidos com escolhas imperiosas. Não há tanto espaço para dúvidas agora. Em alguns instantes. Em cada brecha. Tranque as portas e a imaginação se espalha sobre as coisas todas. Exercícios de imaginação. Sócrates se exercita todos os dias. O gato de companhia chamado Sócrates. A feminilidade das babuskas lésbicas. As distinções e os limites. Percepções altamente subjetivas e visões levemente imparciais. Os muitos ângulos de uma frase discreta. Tão doce e discreta quanto o brilho da lua ao chegar no paraíso. O paraíso de Sócrates é a alimentação. Alimentação de utopias e caminhos para tornar cada vez mais reais os ideais todos. Não basta apenas sonhar. É preciso viver a realidade que poderia ser mais e mais saborosa. O tempo apura ou estraga. Vinho ou qualquer outra obra que retorna. Sonhos que se apuram e se aprofundam. Obras de arte que se tornam compreensíveis. Ou não. Percepções altamente subjetivas e visões levemente imparciais. O tempo que apura ou estraga. A paixão mais profunda. O vinho mais doce. Moscato spumante ou spumante rosato (...). Il vino dell’amore petalo moscato ou – (...),

Ou uma coisa ou outra, escolher, já está escolhida – palavras que retornam e se renovam. A escolha ideal sem muita sombra de dúvida. A música do Reino Das Sombras e a primeira estrofe da letra de À quoi ça sert l'amour (...).

Ninguém sabe – mas já está escolhida.

(...)


Liz Christine