quinta-feira, 19 de maio de 2016

Dagda




Dagda nasceu dentro de uma casa (e não nas ruas como outros que, ainda assim, felizmente, são adotados). Era uma ninhada de quatro filhotes, três fêmeas e um macho. A mãe de Dagda era da raça ragdoll, o pai não tinha raça definida mas tinha um belo miado e a típica elegância digna dos felinos. Os filhotes seriam todos doados, exceto um a ser escolhido (que faria companhia à mamãe ragdoll, como dissera a humana da casa). Dagda, que ainda não tinha sido nomeado, queria ser o escolhido (não pela casa nem por causa da humana, mas sim porque queria continuar ao lado da mamãe ragdoll). E então surgiu o primeiro grande problema na vida do pequeno filhote - eis que sua humana escolheu uma das fêmeas para ficar para sempre na casa ao lado da mamãe ragdoll. O pequeno Dagda, que ainda nem tinha nome, seria então adotado por uma outra família ou pessoa qualquer. O filhote primeiramente se sentiu indignado e logo em seguida se sentiu triste e oprimido, e depois verdadeiramente deprimido, e então desenvolveu também uma ligeira mania de perseguição - sempre que ouvia o telefone ou interfone tocarem fugia e se escondia ou dentro do armário (que o filhote, apesar da chave, já sabia como destrancar) ou no banheiro humano (os felinos também têm seu próprio banheiro, como se sabe, mas o filhote corria para o banheiro humano). A humana, sensibilizada com a doçura do filhote e preocupada com seus recentes e precoces problemas psicológicos, resolveu nomeá-lo inspirada em um livro que estava começando a ler - o nome seria Dagda. Ela achou assim que poderia animá-lo mas o pobre Dagda desenvolveu ainda mais uma outra mania: fobia do inocente golden retriever da casa do vizinho. O vizinho tinha também um beagle (por quem Dagda nutria uma sincera amizade e afeição). A humana pensou então que deveria ajudar Dagda a superar todos estes precoces problemas sem nenhum motivo aparente antes de enviá-lo para ser adotado - e foi assim que se passaram cinco anos sublimes para Dagda (que havia nascido em 2011)... pois desta forma Dagda não foi adotado e permaneceu onde sempre quis, além de ganhar as mais deliciosas rações e mimos. A humana decidiu (em três anos de convivência) que cuidaria para sempre de sua pequena família felina involuntária (mamãe ragdoll, Dagda e sua irmã). Dagda acabou tão mimado que já não teme mais nem o interfone nem o telefone nem o  golden retriever do vizinho (...).

Liz Christine

domingo, 1 de maio de 2016

Lesen




O meu papel, não o dou a ninguém. Il mio ruolo, non lo do a nessuno. Sono la Luna. Sou a Lua. Sozinha e nua. Tremendo de frio. Uma poesia feita de silêncios. Sonhos resguardados. Para si própria. Não tanto sã, mas salva (...). Je suis en train d’écrire un livre. Quem o lerá? Jamais saberei soletrar o infinito pleno de si que vejo a cada despertar de um sonho parcialmente mudo - "mas não falas nunca?", uma estrela me pergunta. Não lhe respondo e a beijo em sonhos.

Um filhote de ursinho polar chorou. Ele era de pelúcia. Então a criança lhe deu um nome e o levou para casa. Hoje ele vive próximo à estante de livros dos adultos. A criança gosta de vê-lo próximo aos livros. Brinca e o guarda novamente. E não esquecerá seu nome quando for adulta. O ursinho se chama Cherubino (...).

Um gato ronrona saboreando o adorável sossego da própria tranquilidade felina.
Ich lese, Du liest, Sie lesen, Wir lesen (...).

(Reticências)

Liz Christine