sexta-feira, 18 de julho de 2008

Empty bed blues


O mar salgado que mora dentro de um par de olhos verdes que escorre do meio das minhas pernas quando penso na tua língua passeando por mim. Os bicos dos teus seios atraem minha língua como palavras atraem perguntas. Sempre fugindo de perguntas em meio a tantas frases. Você não mora no meu passado, você vive inteira dentro de toda água que cai dos meus olhos castanhos quando lembro da tua maneira de ser. E como é agora? Como fico eu nesse quarto que tantas vezes dividimos trocando carinhos e olhares? Todas as fotos que tiramos de nós duas, você jogou fora? As que ficaram comigo, guardei. Guardei só para mergulhar no verde dos teus olhos que mora na minha pele e escorre do meio das minhas pernas quando penso em você tirando nossas roupas. Eu te quero ainda, e penso no que vou fazer amanhã. Amanhã quando eu acordar quero te ver dentro dos olhos da minha gata que ocupa o vazio em que você me deixou. E vão haver outras e outras, e mais outras, muitas manhãs sem você me perguntando com o que eu sonhei a noite passada...

Liz Christine

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Car ma vie aujourd'hui ça commence avec toi


Preciso me concentrar para mergulhar. Mergulhar no teu rosto fechado para minhas abstrações e símbolos. Quero mergulhar no teu meio-sorriso sem blusa e sem noção. Sem noção de que penso em ti dia e noite e madrugada adentro. E percebo uma mudança em mim. Quero te jogar fora das minhas noites insones. Quero te ter ao meu lado na cama ou em qualquer outro lugar. E percebo uma mudança. Tenho me convencido de que devo te esquecer de uma vez por todas. E procurar qualquer outra pessoa que preencha esses dias sufocantes de angústias que caem pelo chão a cada passo incerto de quadris nus. É que ando semi-nua pela casa esperando – esperando o quê? Quando não há mais ninguém, te espero. Ainda te espero e te carrego para onde quer que eu vá. Em pensamento, a cada novo dia, todas as manhãs, e tenho as tardes preenchidas por – desesperos e minhas mãos. Minhas mãos buscam em meu próprio corpo algum prazer ou alívio, doce ou violento. Tenho tido impulsos sim, impulsos de mais uma vez – sabe que andei fazendo isso quando a menina dos olhos verdes me deixou? Andei fazendo machucados por mim inteira. Em todos os cantos. Eu te espero sim, querendo te tirar daqui – minha cabeça. Minha cabeça, triângulos ou círculos. E meus olhos, no espelho, vêem – o quê? Sei que é verdade que as músicas, cada uma tem um rosto, e o teu rosto se repete, se repete em tantas delas...

Liz Christine

domingo, 13 de julho de 2008

Caterina


Love is extra-terrestrial
And love falls from the stars


Na grama nua pousou uma estátua que veio saltitando por entre as árvores de cristal. Eu me apaixonei pela estátua e tudo cantava ao meu redor. Esquilos tiravam fotos e corriam de volta para suas tocas. Meus olhos brilhavam, meus lábios sorriam. Mergulhei no verde dos olhos da estátua e acordei numa banheira cheia de vodca e gelo. Não suporto álcool. Eu estava entre estranhos, canudos e copos. Gritei pela estátua e perguntei se eu podia usar o telefone. “O telefone fica no quarto”, me disseram. “Me levem até lá”, pedi. Eu não tinha realmente para quem ligar. Só queria rever a estátua. Olhei pela janela, lá embaixo a grama e as árvores. O verde, o delicioso verde. A dor, a decadência da dor de uma paixão de cristal. Ao menor atrito, se quebrou.

Liz Christine

sexta-feira, 4 de julho de 2008

La spirale du silence


“Did you know when you lost?
Did you know when I wanted?
Did you know what I lost?
Do you know what I wanted?”
(trecho da música Silence, Portishead)

Aquela noite ou manhã, sabe? Não, não fala nada, espera eu acender mais um cigarro de canela. Eu não fumava ainda... mas misturava tantas coisas, lembra? Não tenho certeza se foi naquele mesmo dia que você não acreditou em mim e eu fiz o que fiz sem saber o que fazia. Tenho a sensação de que te encontrei na casa de um amigo em comum, e você falou qualquer coisa que não me agradou. E também falou de alguém. Alguém que eu conheci depois. E eu não sei, sabe?, porque é tudo tão confuso na minha cabeça. É que eu fugia da realidade. E você nunca percebeu, ou percebeu e não tentou compreender.

... alguém que tenha
a minha senha
a chave perdida
em algum lugar
da minha vida...

Um trecho de um poema escrito aos dezoito anos, pensando em ti. É verdade, encontrei poemas meus escritos dos dezesseis aos dezenove anos, sabe onde? Na internet, espalhados. É porque depois da minha quase-morte não escrevi mais poemas. Escrevi alguns poucos e depois parei totalmente. Qualquer coisa de inocente morreu em mim. Mas poesia também vive em outras formas de expressão. Vejo poesia na tua voz. Sabe as trilhas sonoras dos filmes do David Lynch? Você também vê?, ou só eu vejo? Eu também vejo alguma poesia nos bigodes daquela gata que dorme dentro daquela noite ou manhã e nunca mais acordou. Uma vez por outra ela abre os olhos, depois volta a dormir.

Liz Christine