domingo, 24 de fevereiro de 2008

dentro da madrugada insone


Duas estrelas piscaram dentro dos meus olhos e eu me acendi. Foi quando senti sua voz crescendo dentro do meu olhar. Eu pedi para você fechar os olhos e deixar eu gravar bem o seu rosto. Mas eu não te via tão bem, quer dizer, acho que te enxerguei ainda melhor do que você talvez fosse na realidade. Estava escuro e eu me concentrava na sua boca, suas pálpebras semi-cerradas, seus cílios, sua testa, e eu quis que você beijasse minha testa e meus olhos que eu fechei assim que te pedi o que eu queria. Mas você procurou meus lábios que sorriam para suas mãos que colocavam meu cabelo para trás da orelha. E tudo ao meu redor parecia me acolher das minhas carências pulsantes. Bebi água e bebi também abraços fortes e vozes sorridentes que me convidavam a abandonar de vez qualquer sentimento de orfandade. Fui adotada, adotada por muitos beijos de uma boca macia e sensível. E foi assim que eu nasci de novo. Eu nasci de novo dentro da madrugada insone. Eu nascia a cada vez que te sentia tão perto de mim, você me envolvendo em seus braços, você me escutando, você me dizendo. Eu te dei meu telefone. Eu te dei as asas que se abriam para a escuridão de uma música sobre todas as sombras de uma transferência.

Liz Christine

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Sobre o sapo


Sobre o sapo. Eu estava deitada sobre o sapo. E as rosas tinham línguas. As músicas choravam lágrimas de alegria angustiada. Angustiada porque tudo tem fim. E meus seios adoram livros que terminam em sursis. Minha língua se encontrava com frequência nos seios das plantas verdes como a mais verde das minhas saudades. E a minha saudade chora lágrimas de desespero feliz. Feliz porque pertenci, desesperada porque teve um fim, e o final não foi saudável. E a saúde emocional se ressente. Mas o sapo fala comigo, lê nos meus ouvidos com sua voz de sapo encantado os mais belos roteiros de filmes sobre amor em preto e branco ou de musicais com fotografia oscarizada. E as plantas são na verdade princesas que foram voluntariamente morar num harém. Meu harém. Mas minha planta favorita, a origem de todas e qualquer outra, bem, ela me deixou e eu nunca superei. E não me suportaria mais caso não houvesse as línguas das rosas e o verde das princesas do meu harém. Convivemos tranquilas lendo Molière e olhando o sapo à distância. Só encontro o sapo durante meu sono matinal. Quando a tarde cai e eu me levanto da minha cama de casal lá no alto da torre não nos falamos mais.

Je n’ai jamais changé… l’amour c’est ma vie…

Liz Christine

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Le désespoir n’a pas d’ailes

Je suis seul, je suis tout seul… et je pensé: le désespoir, le désespoir, le désespoir… c’est fatigué… Afundo no lodo das perspectivas inalteradas que não retornam mais à inocência curiosa e confundida com inconsequência que fui ao me descobrir assim. Sou assim e pronto. Mas não conservo a curiosidade de outros tempos. Agora só me interessam minhas preferências, e de resto que se mantenha longe de mim tudo aquilo que me parece disgusting. Mas eu não sei, eu não sei muito, sei quase nada, não sei de nada, é tão impreciso. Estou saturada e não consigo atravessar as camadas de resistência resignada dos pensamentos e modos de se comportar que se esperam de mim. Não espere demais. Eu não mudo muito, apenas me decepciono e repenso minhas idéias mas continuo acreditando no meu maior desejo. Encontrá-la. Mas é provável que eu sinta outros desejos se sobrepondo ao meu maior desejo. Só para me confundir ou tornar mais claro que eu sou tão impossível de me colocar nos caminhos em que gostariam de me ver. Eu escolho. Eu me deixo levar. Eu acredito em sonhos. E tenho medos. Mas meus receios falam tão baixo que mal os escuto. Não me dominam. O que me coloca em movimento está acima das minhas contradições. Encontrá-la.

Liz Christine