segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Sublinhados (allegro vivo)



Ela fecha os olhos e silencia as mãos. Mãos que massageiam ombros cansados. O calor insuportável. O frio do outro lado da página. Um livro de Balzac sobre uma marquesa que mantém uma amante. Ou um livro inacabado de autor nunca antes publicado. Poemas incansáveis. Olhares vagamente aleatórios. Escolhas impossíveis. Nada mais impossível que se desvincular do café diário. Café todos os dias e noites. Mais café. A escolha variante. Escolher não fugir – como é o costume dela. Ela fecha os olhos e silencia as mãos.

Mãos que massageiam ombros cansados. O calor insuportável. O frio do outro lado da página. Escolhas mais sensatas. Paixões mais plausíveis. Nada mais impossível que se desvincular do café diário.

Bala de café sem açúcar comprada na livraria da esquina. Ou receita caseira de bala de café com mel. Ou nozes. Ou dieta.

Dieta de palavras racionadas. Fala-se pouco em certos trechos do percurso. Atravessando distâncias controladas por defesas. Escolher não fugir – como é o costume em certos detalhes do diálogo.

A absorção dos detalhes pregnantes. A coreografia dos banhos da gata. Poemas incansáveis. Olhares vagamente aleatórios. A concentração em detalhes sutis.

As leituras intermináveis. O frio do outro lado da página. A neve que recobre silêncios parcelados. Saboreie em silêncio. O melhor do cappuccino. A tranquilidade infinita do silêncio preenchido. Preenchido por palavras submersas – camufladas em olhares intensos porém sutis. E as palavras se repetem. Releia os trechos sublinhados.

Liz Christine

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Urgências



A rainha que jamais se casou. A gravidez de Heloise. A escrita de Pierre Abelard. Palavras eternas saboreadas em silêncio. A rainha que jamais se casou e nunca teve herdeiros. O amor eterno fabricado na sorveteria e consumido diariamente. Consumindo urgências. Kitri não pode mais esperar.

La chatte blanche. Kitri e Lise se encontram discretamente e às vezes abaixam o tom de voz para não serem ouvidas por mais ninguém. Elas se vêem quase diariamente há oito anos mas não moram juntas ainda. Ou talvez nunca. A privacidade conserva as paixões. Ou não. Nunca se sabe. O amor eterno fabricado na sorveteria ou em rótulos de vinhos italianos.

O gato amável que não gosta de ficar sozinho durante muitas horas. As donas do gato são irmãs. Ou como se fossem. Ou realmente são irmãs. Nunca se sabe. A delicadeza dos miados ronronantes quando elas chegam em casa. Dessa vez elas trouxeram catnip.

A sorveteria é vinte e quatro horas. Palavras notívagas saboreadas em silêncio.

Liz Christine