terça-feira, 4 de janeiro de 2022

As matrioskas desta casa

 


Sobre a nudez

 

Algum dia

 

Todas as palavras desconexas serão compreendidas

 

E todo o sentido oculto será compreendido pelo gato que espreita o silêncio passageiro das nuvens que habitam na moldura de um quadro que respira e eu vi

 

Eu vi que o gato não vai falar agora

 

Também gosto das gatas e das abelhas mas me isolo um pouco

 

Eu e o gato fugimos da incompreensão e compramos uma estante de livros onde poderemos guardar mais livros e matrioskas

 

As matrioskas desta casa moram ali, naquela estante

 

Mas eu e o gato e as matrioskas e gatas e abelhas e raposas ainda preferimos não compreender todas as palavras desconexas

 

O sossego parece mais agradável

 

E a leitura dos olhares fugitivos ou concentrados

 

As matrioskas desta casa moram ali, naquela estante.

 

Liz Christine

domingo, 2 de janeiro de 2022

(Re)vejo poemas

 


Os olhos do anjo eram azuis. E os olhos de Myrtha são negros, como Sócrates e Colette sabem e vêem. A insanidade espreita lá fora, mas não a ouço e não a vejo e não saio mais para nada. Fico aqui, vejo poemas, respiro a tranquilidade, digo olá às plantas, e beijo a única matrioska que me vê inteira em sonhos. Há outra matrioska, e mais outra, a coleção é pequena, e converso com elas e elas me escutam. Elas também falam, e também sonham. Digo olá às plantas, faço mais e mais café, vejo poemas, respiro a tranquilidade, repito, calo, falo, vejo poemas. E Sócrates me conta sobre um livro. E me explica algumas coisas que não posso falar. Então revejo, calo, falo, vejo poemas.

 

Liz Christine