quinta-feira, 12 de abril de 2012

Um passeio vespertino


O pato galopante atravessou a sala principal da casa de bonecas instalada sob a luz fria que desencaminhava os humores otimistas. A dissonância criou raízes na cama de casal onde as gatas se refrescam de tempos em tempos do excessivo abafamento das verdades subjetivadas. Nenhuma assertividade nas crenças passageiras que assolam periodicamente as mais doces fantasias intransferíveis. Transferir a acomodação galopante de um cômodo ao outro – esvair-se em distrações etéreas e absorver-se em curtas estrofes diáfanas. A leveza da orquídea amarela dita o ritmo das mudanças de tom.

Degustando o café forte seguido de um cálice de licor Sheridan’s. Fumando espera-se a absolvição dos receios intimistas – fumando um, fumando mais um, e mais outro, até que se chegue ao esquecimento dos freios irracionais ou impessoais. Libertar-se de qualquer pessimismo socialmente aceito ou negatividades desestabilizadoras. Fechar o leque dos sentimentos negativistas e abrir os olhos para o movimento das distrações etéreas que polinizam as orquídeas amarelas ou brancas.


A apuração de sabores vem acompanhada de suaves fatias de generosidade. Permitir-se saborear o aroma de jasmim que circula ao redor da casa de bonecas sob a luz fria. As babuskas silenciam mais uma vez uma provável mudança de tom. O ritmo das ondas do mar reescreve novamente as estrofes diáfanas constantemente abafadas pelo barulho do trânsito nas ruas. E as reticências encerram um trecho de livro sublinhado durante um passeio vespertino (...).


Liz Christine

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Rue du Chat-qui-Pêche


A impaciência contida nos latidos que iluminam a madrugada onde a busca por vestígios camuflados no silêncio desequilibra o desenvolvimento sensorial das aspirações ronronantes da gata. Ah, cansaço – cansaço das coisas todas como se deixam estar. Ah, saudade – saudade da liberdade inconsciente das próprias limitações. Saudade da inconsistente ausência de suposições saturadas de cores salpicadas em sonhos. O azul dos olhos da gata e o lilás das paredes do quarto – o vermelho das unhas curtas e o verde da grama que recobre o piso do banheiro iluminado por latidos entrelaçados aos sussurros da madrugada. Ah, cansaço – cansaço da inconsistente harmonia passageira dos sonhos parcialmente lúcidos que transportam o gato dos olhos amendoados até a pia do banheiro onde se encontra um vaso de manjericão fresco e o cartão do melhor restaurante japonês da Lapa. A gata branca e a gata de três cores que moram em um prédio em frente à praia flertam com o desenvolvimento sensorial apurado pelos brinquedos recheados de catnip comprados no pet shop da esquina – e o gato dos olhos amendoados que mora no apartamento em frente pressente a chegada do cansaço das coisas todas como se deixam estar. As mudanças breves se dissolvem em sonhos parcialmente lúcidos onde a realidade saturada de cores invade o aroma de manjericão fresco vindo do banheiro – o gato se vê no espelho enquanto a inquietude da madrugada abraça a precisão dos instantes infinitos que cabem no silêncio do dia prestes a amanhecer.

Liz Christine

terça-feira, 3 de abril de 2012

O ninho


Uma panda sem benefícios acordou toda a reserva de nuvens acaloradas que se espreguiçavam solenemente no clareamento das verdades turvas. A cachoeira sorri mas não quer falar com mais ninguém – mais ninguém até o final dos tempos opacos. As ausências tornam opacas todas as fantasias impassíveis que jamais se concretizam na beira da cachoeira sorridente. E as gatas que convivem pacificamente com o amor surdo e mudo namoram uma com a outra esperando a chegada da lua tão insana quanto a opacidade dos tempos volúveis. O enjôo bulímico conserta a imprecisão dos sentimentos dúbios abstraídos porém somatizados dentro das nuvens acaloradas que escondem o sentido de todas as frases silenciadas dentro do sufocamento das liberdades ou escolhas individuais. E a sinfonia de latidos contestando os miados entrelaçados aos sorrisos da cachoeira (quase desperta e meio sonâmbula) brilham no centro de um coração congelado pela opacidade de sentimentos incapazes de derreter a geladeira que é o eterno silêncio das borboletas. A sorrateira falta de nexo das fantasias impassíveis que jamais se concretizam – o amor surdo e mudo que envolve todos os instantes de apuração auditiva. Os sons se misturam e as gatas namoradas voltam silenciosamente para seu ninho inatingível localizado na Constante Ramos – de lá nada escutam do barulho incessante das ruas corrompidas pelo excesso de trabalho e estresses. Lá elas sonham e aproveitam suavemente a satisfação das liberdades positivas e consentidas sem jamais entregar o cerne da questão ou dar ouvidos às insistentes intromissões externas. As intromissões externas igualmente não transtornam nem mudam a consciência das borboletas inacessíveis que observam as gatas em seu ninho no terceiro andar de um prédio na Constante Ramos.

Liz Christine

Imaginações particionadas

A resistência dos copos descartáveis deformados pelo excesso de cafeína adoçada. A insistência dos cigarros incansáveis que ela teima em tentar deletar de seu cotidiano estafante. O estresse do tempo que voa com asas machucadas pela intolerância ao diferencial das imaginações particionadas. Não colecionar problemas diários – deletar os cigarros incansáveis enquanto o tempo voa na mesa do escritório isolado da real poesia das imaginações particionadas.


Liz Christine