terça-feira, 3 de abril de 2012

O ninho


Uma panda sem benefícios acordou toda a reserva de nuvens acaloradas que se espreguiçavam solenemente no clareamento das verdades turvas. A cachoeira sorri mas não quer falar com mais ninguém – mais ninguém até o final dos tempos opacos. As ausências tornam opacas todas as fantasias impassíveis que jamais se concretizam na beira da cachoeira sorridente. E as gatas que convivem pacificamente com o amor surdo e mudo namoram uma com a outra esperando a chegada da lua tão insana quanto a opacidade dos tempos volúveis. O enjôo bulímico conserta a imprecisão dos sentimentos dúbios abstraídos porém somatizados dentro das nuvens acaloradas que escondem o sentido de todas as frases silenciadas dentro do sufocamento das liberdades ou escolhas individuais. E a sinfonia de latidos contestando os miados entrelaçados aos sorrisos da cachoeira (quase desperta e meio sonâmbula) brilham no centro de um coração congelado pela opacidade de sentimentos incapazes de derreter a geladeira que é o eterno silêncio das borboletas. A sorrateira falta de nexo das fantasias impassíveis que jamais se concretizam – o amor surdo e mudo que envolve todos os instantes de apuração auditiva. Os sons se misturam e as gatas namoradas voltam silenciosamente para seu ninho inatingível localizado na Constante Ramos – de lá nada escutam do barulho incessante das ruas corrompidas pelo excesso de trabalho e estresses. Lá elas sonham e aproveitam suavemente a satisfação das liberdades positivas e consentidas sem jamais entregar o cerne da questão ou dar ouvidos às insistentes intromissões externas. As intromissões externas igualmente não transtornam nem mudam a consciência das borboletas inacessíveis que observam as gatas em seu ninho no terceiro andar de um prédio na Constante Ramos.

Liz Christine

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