terça-feira, 16 de março de 2010

Miados tantos (rios inquietos)


Fico estonteada, tão estonteada, ouvindo miados meus, tantos miados meus, miando pela casa afora, confinada casa adentro, uma casa que não se perde nunca, onde me encontro e esbarro em ti, o tempo todo, inteiro o tempo em que me pergunto se devo sair em busca de. Esquecimentos que duram breves instantes, esquecer que te amo e flutuar livre de ti por aí, lá fora, só um pouquinho, apenas o suficiente para disfarçar meu amor que foge do meu coração porque quero a liberdade breve que se desfaz lentamente quando. Quando acordo do torpor que a abstinência provoca porque não posso – não consigo passar nem um dia, um dia que seja, nem um instante sequer sem te encontrar, e então escuto, escuto tua voz flutuante todos os dias, e quando passa um dia que seja sem te ver ou te ouvir eu sinto falta, tanta falta que. Mas não te procuro, não (não), pelo menos um pouquinho, fujo um pouquinho em busca de. Diversões efêmeras, tão efêmeras que nada me dizem, nada substancial, nada que possa fluir como um rio transbordante – porque nada se compara, nada, nada se compara ao teu rio que flui tranquilo quando te encontro nesta casa, esta casa de paredes cor-de-rosa claro, tão claro é que te quero tanto, tanto que me estonteio quando te reencontro, caindo direto em teu colo, sempre semi-nua e semi-desperta, meio sonhando meio acordada, meio livre metade calma meio inquieta, e muito claro é que te espero a cada noite – para dormir em ti e acordar do teu lado (sempre). Para todo o sempre eu tento te esquecer e te busco sem te procurar nunca em um encontro constante entre miados tantos casa afora onde guardo um rio dentro de mim que reencontra teu olhar dentro da noite estrelada ou do dia tão confuso que mora no teu rio transparente e lúcido (tão lúcido que me perco um pouco) – mas o mais importante é quando tu traz de presente para mim esse equilíbrio tão passageiro que retorna sempre a cada (olhar). Inquieta e tranquila, tão tranquila, tão inquieta, tão reticente e tão certa de que sim, tudo que busquei mora em teu olhar e em ti inteira mas preciso sair em busca de. Apenas para ter certeza e me confundir para não ter tanta certeza de que sim, te amo, e amo demais, mas não quero. Não quero te amar (...).

(Fazer o quê?)

Liz Christine

sexta-feira, 12 de março de 2010

Tais acordes

Uma xícara azul sobre o chão cor de neve quando a incoerência transborda silêncios – e lá de fora vem barulho de cachoeira sorridente (...). Ah preciso de algo no lugar de ex-cigarrilhas, mas quê? Essa incoerência me inquieta um pouco mas (quê?) em um minuto apenas estarei vagando tranquilamente entre uma árvore e outras. Da árvore que quase alcança o (meu) céu nascem estrelas que mergulham em um rio de profundidade duvidosa e tão difícil de adivinhar (já nem tento, e me ausento). Sinto minha própria ausência quando ouço certas teclas de piano ou tais acordes na voz dela (sempre ela). Mas quê ela tenta mais uma vez me dizer agora? Prefiro me sentir nua sobre a nudez dela depois de tantas vezes mergulhar no céu (...). Mas quê é que ela tanta fala agora que não sei nem mais ouvir de tanto que desejo as estrelas do (meu) céu brotando de árvores que moram no quintal dela? É, o quintal dela é um tanto quanto bagunçado – ou seriam meus passos bagunçando o quintal dela? Também tenho meu próprio quintal onde deslizo sobre a neve quando a incoerência transborda suaves silêncios que preenchem uma xícara azul (...). Café, neve, pétalas de rosa, mel e traços de baunilha – mais trevos de quatro folhas, árvores e nuvens de caramelo. E então eu creio ainda que – antes eu preciso me perguntar se (esqueci a pergunta). E então eu creio mais em liberdade ou em solidão ou em autonomia ou em asas entrelaçadas ou em casais que se adoram ou em tentativas vãs de fugir da norma ou em infinitas possibilidades que se combinam gerando inúmeras alternativas que descarto ao lembrar de uma pergunta que talvez eu já saiba a(s) resposta(s)? Ah. Sim, esqueci de contar a ela que não vou dizer nunca mas é sempre bom escutar e nunca é um termo bastante vago (...). Mas ela já sabe disso.

Liz Christine

segunda-feira, 8 de março de 2010

Em realidade absoluta

Todas as frases que tento pronunciar, e são poucas em comparação com a quantidade de ovelhas que deixo me dizerem que (francamente, por vezes deixo de ouvi-las e escuto apenas sons flutuantes que nada significam em realidade absoluta). Fumo um cigarro apenas, durante uma longa pausa necessária – preciso me isolar de tempos em dias e noites, e me escondo então de qualquer tentativa fútil. Todas as palavras me parecem meio fúteis no momento, quero apenas um olhar bastante atento focado em um instante único. Incomparável. Tentativas apenas, e meias verdades que se calam antes de completarem uma idéia – seria em vão também? Acho que não muito mais faz sentido neste momento fútil de consequências nada desculpáveis – acho que não adquiri em todo esse meu silêncio vão o fútil hábito de me desculpar (...), e não quero então dizer nada em especial além de um vazio absoluto em curto espaço de tempo. Há poucos minutos atrás eu me sentia eufórica diante de uma tola possibilidade de satisfação momentânea, mas já agora então sinto apenas o vazio deixado por mais uma troca de palavras fúteis. Por favor, a próxima ovelha que cair no meu quintal tentando voar em vassouras feitas de frivolidades aparentemente desejáveis ou pretensiosamente certas de com quem estão lidando – sim, a próxima ovelha que despencar no meu quintal, que seja, nem sei se ainda quero alguma coisa qualquer. Talvez eu já nem acredite que possa te encontrar logo (...). E cansei também de ficar em silêncio ouvindo, querendo não escutar nada realmente. A solidão cansa, as ovelhas igualmente cansam, e eu canso de me cansar, então vem logo silenciosamente me acordar com um beijo (...). Acho que peguei no sono olhando um livrinho de ilustrações (...).

Liz Christine

quarta-feira, 3 de março de 2010

Indissolúvel


Amor (?). Acho que não preciso disso (…). Sim, há um vazio dentro de mim em algum lugar não localizado ainda, onde seria? Acho que já sei, em um instante preciso onde me concentro eu te descubro (mais?). Posteriormente te esqueço (mais ainda?). Não, nem quero, nem se aproxime muito, porque em verdade posterior a essência que nos resta é uma equação: indissolúvel (e não me diga mais uma vez porque não preciso disto, sabe?). Amor (?). Acho melhor me trancar em um banheiro todo cor de rosa (sem azul?) onde as torneiras desenham um beijo trocado sem muitas palavras (...). Não tantas assim, sabe?

Eu tranquei meu coração ontem, o que não me impede de contemplar um sonho (...).

Sem compromisso nenhum a não ser com a própria essência de mim mesma que está em toda parte onde me escondo expondo minha sincera aceitação de uma simples equação indissolúvel (...). É que dentro do mar há sombras se confundindo com profundidades e não é mais o momento de mergulhar (quando foi mesmo?). Quando foi mesmo que pronunciei espanto e ouvi silêncio? Quando foi mesmo que senti amor e dissimulei quereres? Quando foi mesmo que escolhi a melhor fatia para mim mesma? E quando foi mesmo que pude mergulhar em águas tão tranquilas quanto o olhar de uma borboleta de asas brancas? Enfim... meu amor se encontra em algum lugar tão distante já agora que nem mais sei se tenho ainda a chave do quintal que mora em algum lugar bem no centro da minha existência vã (...).

Ah sim, tranquei meu coração hoje também e se por algum descuido eu esquecer de trancá-lo ao acordar amanhã espero que não me aconteça de ele ser habitado novamente (...) Mas não (te) esquecerei.

Liz Christine