segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Ao extremo de cada linha


Dentro da xícara de café eu vejo um beijo – é o beijo que eu quero amanhã. Amanhã, porque hoje estou meio distante demais tentando adivinhar algo brilhando ao final de um interminável corredor – talvez seja uma estrela, mas pode ser que seja uma boneca vestida de bailarina que arrancaram de mim enquanto eu tentava me desviar de um pensamento obscuro que não era exatamente meu. Não apenas as estrelas brilham – a roupa daquela boneca-bailarina também brilhava. De certa forma – de certa forma, alguma coisa qualquer a respeito dela precisa ser dita. E vou me abster de pensar ou de te ouvir por alguns minutos – eu vou me fechar dentro da música que toca através de um mar que não é azul porque agora, nesse momento, eu estou tentando amortecer a minha queda. Às vezes eu mergulho no mar verde ou em uma piscina plantada dentro da grama – eu preciso achar um meio-termo entre sonhar e ser. Ou ter e ouvir. Talvez eu não queira um meio-termo – ao extremo de cada linha há um certo equilíbrio aparentemente precário mas eficiente como rosquinhas de leite que derretem no chá. Já viu um par de sapatilhas lilás? Não, eu não posso cair dentro de nostalgias indiscretas – e eu não sei se a piscina está cheia ou vazia. Vazia de sentimentos. Ou cheia de idéias tortas. Mas sei que espero algum nível de profundidade que aparentava ser alcançável através de uma transformação sutil em mim. Aparências (...). Eu quero a verdade delas duas – coisa que nunca pedi antes porque acreditava simplesmente. E não é para acreditar em gentilezas e delicadezas? Não se deve crer em um par de sapatilhas ou asas lilás? Ou em palavras saídas de um par de olhos verdes? A estrela-do-mar (...). A verdade sobre mim é que meu olhar se altera constantemente ou eu mudo a direção de cada sentido.

Liz Christine

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