quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Suicídio refletido no espelho


Suicídio refletido no espelho – morte de todas as ilusões. Jogo sem conclusões – equações que se repetem indefinidamente. Palavras sem nexo – sentidos sem pouso. Eterna solidão – regras sociais. Fora dos padrões socialmente aceitos – a hipocrisia. Sorria, você está sendo filmado. Finja, você está sendo observado. Disfarce, você está sendo hipnotizado. Esconda todas as obsessões, você está sendo analisado. Pratique o desapego, os meses passam rapidamente. Viva cada segundo – desde que a costumeira vigilância severa vá sugar outras vítimas. Vítimas de uma sociedade doente e agonizante – promessas de futuro incerto. Promessas falsas, promessas frágeis – um futuro que nunca chega. Suicídio refletido no espelho – morte de todas as ilusões. Um sonho de liberdade passageira – o suicídio de todas as liberdades individuais. Não, não, não sei – não há tempo para escolhas ou recusas. O tempo decide por todos nós – suicídio de todas as liberdades. O governo decide o que proibir e o que liberar – a sua opinião não fará diferença alguma. Ninguém nos pergunta absolutamente nada – as autoridades sabem melhor do que nós o que nos faria mal ou bem. Nossa opinião ou manifestações não contam – as autoridades ou pesquisadores patrocionados entendem tudo bem melhor que todos nós. Não compreendemos absolutamente nada, ou entendemos muito pouco dos assuntos – não somos mais capazes de decidir por nós mesmos. Não é mais permitido ter opinião ou comentar – acabou. Acabou tudo. Acabou até a paixão. Acabou até o prazer. Acabou até o livre arbítrio. Acabou a sanidade mental. Acabou a poesia. Acabou a arte. Só importam as pesquisas de mercado e o possível lucro. As minorias são hipocritamente aturadas – mas não têm voz alguma no caldeirão das Eríneas. Suicídio refletido no espelho – a morte da poesia. A beleza é uma ilusão – a beleza dos valores, a beleza dos sons ou sombras. Sombras da realidade destruída – a destruição das palavras. Palavras deturpadas, retiradas do contexto original – a manipulação através da degradação. Degradação dos ideais ou objetivos – o sufocamente das vontades ou sonhos. Acabou. Acabou a música. Acabou a literatura. Acabou o teatro. Acabou a cultura. Acabou o balé. Acabou o pas de chat. Acabou o amor. Acabou a segurança. Acabou a auto-estima. Acabou tudo. Só restam sombras. Suicídio dos sonhos soterrados por uma realidade que só apodrece a cada mês – e os meses passam rapidamente. Os meses passam e nada permanece – não resta mais nada a não ser fazer silêncio.

Liz Christine

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