Suicídio
refletido no espelho – morte de todas as ilusões. Jogo sem conclusões –
equações que se repetem indefinidamente. Palavras sem nexo – sentidos sem
pouso. Eterna solidão – regras sociais. Fora dos padrões socialmente aceitos –
a hipocrisia. Sorria, você está sendo filmado. Finja, você está sendo
observado. Disfarce, você está sendo hipnotizado. Esconda todas as obsessões,
você está sendo analisado. Pratique o desapego, os meses passam rapidamente.
Viva cada segundo – desde que a costumeira vigilância severa vá sugar outras
vítimas. Vítimas de uma sociedade doente e agonizante – promessas de futuro
incerto. Promessas falsas, promessas frágeis – um futuro que nunca chega.
Suicídio refletido no espelho – morte de todas as ilusões. Um sonho de
liberdade passageira – o suicídio de todas as liberdades individuais. Não, não,
não sei – não há tempo para escolhas ou recusas. O tempo decide por todos nós –
suicídio de todas as liberdades. O governo decide o que proibir e o que liberar
– a sua opinião não fará diferença alguma. Ninguém nos pergunta absolutamente
nada – as autoridades sabem melhor do que nós o que nos faria mal ou bem. Nossa
opinião ou manifestações não contam – as autoridades ou pesquisadores
patrocionados entendem tudo bem melhor que todos nós. Não compreendemos
absolutamente nada, ou entendemos muito pouco dos assuntos – não somos mais
capazes de decidir por nós mesmos. Não é mais permitido ter opinião ou comentar
– acabou. Acabou tudo. Acabou até a paixão. Acabou até o prazer. Acabou até o
livre arbítrio. Acabou a sanidade mental. Acabou a poesia. Acabou a arte. Só
importam as pesquisas de mercado e o possível lucro. As minorias são
hipocritamente aturadas – mas não têm voz alguma no caldeirão das Eríneas.
Suicídio refletido no espelho – a morte da poesia. A beleza é uma ilusão – a
beleza dos valores, a beleza dos sons ou sombras. Sombras da realidade
destruída – a destruição das palavras. Palavras deturpadas, retiradas do
contexto original – a manipulação através da degradação. Degradação dos ideais
ou objetivos – o sufocamente das vontades ou sonhos. Acabou. Acabou a música.
Acabou a literatura. Acabou o teatro. Acabou a cultura. Acabou o balé. Acabou o
pas de chat. Acabou o amor. Acabou a segurança. Acabou a auto-estima. Acabou
tudo. Só restam sombras. Suicídio dos sonhos soterrados por uma realidade que
só apodrece a cada mês – e os meses passam rapidamente. Os meses passam e nada
permanece – não resta mais nada a não ser fazer silêncio.
Liz
Christine
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