quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Indecisões




A eterna indecisão se acomoda por inteiro – asas degustando desejos irreconhecíveis... Irreconhecível é o aclamado transtorno abstraído – transtornos superados desenhando de novo um suave retorno ao miado exótico da gata escorregadia... Exótico – questão de ponto de vista. Escorregadia – questão de possibilidades. Escolher – escolha a impossível privacidade roubada pelas janelas com tela. Roubaram as cortinas – e um pequeno defeito na persiana impede a gata de fechar completamente as janelas com tela.

Transtorno alimentar – transtorno de duplas personalidades ou múltiplas preferências diferenciadas. Diferenciais – asas degustando as exceções tão irreais quanto a borboleta tatuada que enfeita os sonhos desorganizados do espelho irretocável.

Retoque as cores do desenho – tentando sem resultados.

Tentando esquecer – sem resultados.

Tentando transparecer – traduções equivocadas.

Superando equívocos – abstraindo transtornos de dupla personalidade ou peso.

A tristeza pesa sempre – sempre tentando esquecer o peso da tristeza.

A leveza dos sonhos perfeitos – leveza inalcançável (tão irreal quanto o ronronar da gata volúvel e ao mesmo tempo eternamente obcecada)...

Tudo tão irreal quanto a realidade fugitiva das cores do desenho – tudo tão concreto quanto os miados recortados na madrugada. Fallait pas ecraser la queue du chat – não corte muito as unhas da gata. Questão de ponto de vista – divergências necessárias ao bom funcionamento do equilíbrio que foge a todo instante...

A eterna indecisão se espalha por inteiro – tão irreal quanto poemas reciclados. Tão irreal quanto a realidade – tão irreal quanto o perfume saboreado toda vez que

Toda a vez que o vento me traz notícias da realidade tão irreal quanto eu mesma – mergulhando em cachoeiras intocadas e afastadas da poluição extrema que é

A poluição extrema que é o acaso – nada é acaso. Desenhando frases longas – desenhando silêncios feitos de contradições. A sede das cachoeiras – a sede das babuskas. As babuskas lésbicas sentadas no chão do quarto. As cachoeiras distantes guardando palavras irretocáveis. Erros. Abstrações. Sonhos concretos. Fantasias impossíveis. Desenhando frases curtas em cada miado tão irreal quanto o acaso. Desenhando contradições invisíveis e tão irreais quanto o silêncio preenchido por paixões sem nexo. Nada tem nexo – nada tem solução. Tudo tem sentido – tudo passa exceto as obsessões volúveis da gata insone. Volúvel é questão de ponto de vista. Real ou irreal também.

A sede das babuskas enamoradas entre si – o ronronar do gato sorrateiro que espia através de fechaduras ou portas trancadas. Tranque todas as portas – esconda-se até que os sonhos mais doces se tornem plausíveis e tão reais quanto o cappuccino que acompanha as eternas indecisões amistosas.

Liz Christine

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