De dentro da minha concha observo tranquila certos movimentos obtusos de águas tão duvidosas que me acomodo em um ninho de silêncio vaporoso que poderia mais tarde – ou a qualquer momento, não? – ser convertido em palavras tolas. Tentando decifrar os inexplicáveis movimentos obtusos de águas duvidosas? Não. De dentro da minha concha eu me deixo estar e deixo também de me interessar por aquelas ali que me encontram por aí enquanto busco sentidos submersos em tragadas breves e inconstantes alternadas com olhares desinteressados porém atentos (ou não?). Onde tudo são perguntas eu ainda encontro uma verdade – te quero ainda e sempre (…). E não desejo mais agora aquelas ali de onde vêm perguntas e afirmações duvidosas – de dentro da minha concha canto suavemente e sussurro frases incompletas alternadas com desenhos que se enroscam em meu colo e seios nus te convidando a vir logo. E sei que sim. Os desenhos feitos com mel e baunilha em flocos se misturam às palavras formando então um quadro em movimento, e sei que sim – meus movimentos leves, de dentro da minha concha, afastam os movimentos tão obtusos vindos lá de fora justamente para te encontrar mais uma vez por aqui. Sei o quanto tu quer embaralhar os desenhos tão simétricos antes da tua visita que dura o instante de um mergulho em profundidades mais sombreadas. É a tua voz sombreada então que ouço certas noites em que vagueio nadando à procura de um chão azul (…). Ou seriam fadas que eu busco? No fundo da minha concha, aninhada em silêncios vaporosos, eu me enrosco em outra verdade: em cada verdade há tantos muitos lados que fica tão difícil absorver por completo o instante mais que perfeito em que me encontro onde quero (sim, é possível). Mas absorvo ainda assim por completo cada instante e cada verdade parcial e mais uma coisa: sei de forma sensorial o quanto é possível então isso que palavra alguma poderia explicar (…). Atrações efêmeras ou profundas ou reais ou inventadas ou imaginadas ou vivenciadas ou aceitas com certo tédio até ou desejadas – tudo são atos (…).
Liz Christine
Liz Christine
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