sexta-feira, 2 de julho de 2010

Atos


De dentro da minha concha observo tranquila certos movimentos obtusos de águas tão duvidosas que me acomodo em um ninho de silêncio vaporoso que poderia mais tarde – ou a qualquer momento, não? – ser convertido em palavras tolas. Tentando decifrar os inexplicáveis movimentos obtusos de águas duvidosas? Não. De dentro da minha concha eu me deixo estar e deixo também de me interessar por aquelas ali que me encontram por aí enquanto busco sentidos submersos em tragadas breves e inconstantes alternadas com olhares desinteressados porém atentos (ou não?). Onde tudo são perguntas eu ainda encontro uma verdade – te quero ainda e sempre (…). E não desejo mais agora aquelas ali de onde vêm perguntas e afirmações duvidosas – de dentro da minha concha canto suavemente e sussurro frases incompletas alternadas com desenhos que se enroscam em meu colo e seios nus te convidando a vir logo. E sei que sim. Os desenhos feitos com mel e baunilha em flocos se misturam às palavras formando então um quadro em movimento, e sei que sim – meus movimentos leves, de dentro da minha concha, afastam os movimentos tão obtusos vindos lá de fora justamente para te encontrar mais uma vez por aqui. Sei o quanto tu quer embaralhar os desenhos tão simétricos antes da tua visita que dura o instante de um mergulho em profundidades mais sombreadas. É a tua voz sombreada então que ouço certas noites em que vagueio nadando à procura de um chão azul (…). Ou seriam fadas que eu busco? No fundo da minha concha, aninhada em silêncios vaporosos, eu me enrosco em outra verdade: em cada verdade há tantos muitos lados que fica tão difícil absorver por completo o instante mais que perfeito em que me encontro onde quero (sim, é possível). Mas absorvo ainda assim por completo cada instante e cada verdade parcial e mais uma coisa: sei de forma sensorial o quanto é possível então isso que palavra alguma poderia explicar (…). Atrações efêmeras ou profundas ou reais ou inventadas ou imaginadas ou vivenciadas ou aceitas com certo tédio até ou desejadas – tudo são atos (…).

Liz Christine

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