O vazio das
mentes opacas – era uma vez uma pobre vaca velha (...). Sócrates, o gato mais
inteligente e charmoso do universo, sabe que todos os bichinhos são dignos de
respeito – mas a pobre vaca velha nunca respeitou nenhum bichinho que cruzou
seu caminho. A vaca velha era pobre de espírito, pobre de coração, pobre de
sentimentos, pobre de poesia, pobre na compreensão do mundo e da arte. A pobre
vaca velha nunca foi capaz de compreender um único filme mesmo tendo desconto
no cinema para a terceira idade. Ela vai ao cinema com frequência pois vive
confortavelmente de pensão deixada pelo finado boi. O pobre finado boi foi uma
das vítimas da vaca velha – o boi foi pobre pela incompreensão dos que o
rodeavam, foi pobre porque sofreu a vida inteira, foi pobre porque era um
coitado digno de pena, foi pobre porque nunca o deixaram exercer todo o seu
potencial, sempre sufocado pela vaca velha (vaca pobre em outro sentido). E o casal teve um pequeno boizinho gordo e nanico
como ele só. O pequeno boizinho não vai entrar na história – nem a vaca louca
que é a tia solteirona e sem rebentos do boizinho obeso. Uma família corrompida
pela ganância e pobreza de valores da repugnante vaca velha que maltrata todos
os bichinhos das redondezas. E Sócrates, o gato mais inteligente e charmoso do
mundo (repito), teve a chance de observar essa vaca medonha de perto. Era uma
vaca com veneno de cobra, uma mutação genética que escondia o próprio veneno só
até se sentir contrariada. Ela se pudesse mandaria em tudo e em todos – mas há
um forte movimento no spa dos bichanos felizes anti-vaca-velha. Sócrates, como
já foi dito, sabe muito bem que todos os bichinhos merecem o devido respeito –
e sabe também que há boas vacas cultas e inteligentes, bem-educadas, gentis, harmoniosas
e de bom coração. Mas o movimento do spa dos bichanos felizes visa apenas combater
o veneno específico da vaca velha que é incapaz de compreender qualquer coisa
que não diga respeito à vida medíocre dela. Abstração é algo que não existe no
vocabulário desta vaca. Nem compreensão, nem respeito ao próximo. E nem ao
menos a palavra privacidade existe no dicionário desta vaca pois ela invade o
espaço de tudo e de todos o máximo que pode. Sócrates, o gato mais doce do
mundo, está neste exato momento tentando salvar Greta Garbo das garras
venenosas da medonha vaca velha gananciosa. Greta Garbo é uma gata branca com
manchas pretas que teve apenas três namoradas – gatas como ela – e jamais se
casou ou namorou gatos machos. É uma jovem gata adulta porém inexperiente em
certos aspectos – e Sócrates mantém um caso de amor platônico com Greta Garbo.
E a vaca velha, extremamente retrógrada apesar de se achar muito moderna (ela
não se enxerga como realmente é, a pobre vaca), anda espalhando fofocas e
veneno por toda a cidade na tentativa gratuitamente maldosa de destruir a
reputação da tímida Greta Garbo (uma gata muito introspectiva e totalmente na
dela). Será que Sócrates consegue salvar Greta Garbo do veneno da vaca pobre de
espírito? O melhor amigo de Sócrates é um labrador muito simpático que divide
apartamento com uma raposa que faz análise com um papagaio. O papagaio é um
grande psicanalista renomado e Sócrates está interessado em uma consulta
inicial para expor o problema. Será que Sócrates consegue expor seu grande amor
platônico e confessar toda a sua imaginação em uma sessão? E como termina esta
história? A vaca velha vai destilar veneno até quando? E o amor impossível de
Sócrates, como fica? Sócrates é um anjo encarnado em forma de gato, disto tenho
absoluta certeza. É a certeza mais óbvia de uma história sem ponto
final...,,,,,,
Liz
Christine