sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sombras



Já falei da perplexidade latente que ameaça os olhos da gata branca? É que nada, nada, nada volta como já foi um dia – por mais que minha cabeça gire enquanto permaneço deitada e quieta esperando. Esperando que todo o álcool evapare da taça de vinho ao invés de absorver cada instante de pura perplexidade latente. Olhando sem enxergar claramente bem no centro dos ideais perdidos e desolados enquanto o vento clareia os sinos da porta semi-fechada. É que tudo tem sabor de quase a todo instante – quase alcanço a paz introspectiva das madrugadas insones, quase alcanço o amor perdido no meio dos livros sublinhados, quase alcanço a perplexidade necessária ao desabrochar das sensações puras, e quase também readquiro o desejado equilíbrio fugitivo. É que minha cabeça gira enquanto as paredes tremem – ou seriam minhas pupilas dançando ao sabor dos ventos? A primavera vem, a primavera se vai, e nada volta como já foi um dia – as imagens se alternam e se bifurcam no ritmo da respiração mais lenta que os ideais se entrelaçando pouco a pouco. Não ter ideais, não ter objetivos, não ter amor nenhum dentro de si, dizer não aos afetos sublimes, correr os olhos diante de uma página de um livro de poesias, ler sem sentir, respirar sem pensar, dançar sem a música, sonhar sem direção nem foco, não achar um meio ou caminho, olhar sem enxergar claramente – é a sombra das nuvens carregadas girando dentro de taças semi-vazias. Já falei da perplexidade latente que ameaça os olhos da gata branca? É que as sombras passeiam pelas ruas enquanto um coração inocente se esvazia a cada tarde – os sonhos se despedem e não retornam mais do jeito que foram um dia. O mundo vai se desbotando, a música vai perdendo todo o sentido e o amor evapora da taça de vinho. A suave despedida da inocência não traz nada além de olhares vazios contemplando as sombras que passeiam pelas ruas sempre atrasadas para seus compromissos.


Liz Christine

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