domingo, 3 de abril de 2011

Como da primeira vez


Ah a exaustão que escorre das nuvens – mais café para descobrir a cor da indecisão que envolve cada instante da liberdade que perfuma o ar que se respira (...).


Ato nenhum é premeditado essa noite e tudo já foi dito em uma tarde da primavera ou em uma noite do inverno – tudo, exceto o essencial (...).


O essencial se esconde em cada pausa no movimentar de sílabas compartilhadas e não há nada mais que se queira comunicar além da exaustão que escorre das nuvens (...).


Toda a frivolidade compartilhada se evapora da minha memória enquanto abstraio minha capacidade de ouvir – não diga nada além do essencial (...).


E o essencial se esconde a cada pausa – tudo é dito a todo instante, tudo, menos o essencial (...).


Melhor se calar e abstrair qualquer possível capacidade de escutar – toda a concentração mirando a exaustão que escorre das nuvens (...).


Seria bom cantar o amor mas isso não existe mais – em lugar algum, em simplicidade alguma, em ato nenhum, em palavra alguma, em nenhum olhar atencioso, nem nas tardes de primavera nem nas noites de inverno (...).


Buscando um belo esconderijo para descansar asas cansadas de sobrevoar piscinas rasas (...).


“Desejava ainda mais: renascer sempre, cortar tudo que aprendera, o que vira, e inaugurar-se num terreno novo onde todo pequeno ato tivesse um significado, onde o ar fosse respirado como da primeira vez.” (Perto do coração selvagem, Clarice Lispector)


Liz Christine

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