segunda-feira, 11 de abril de 2011

Plenitudes



Uma plenitude contida (…).


Todas as insatisfações do mundo se dissolvem naqueles minutos plenos de liberdades cegas (...).


Não ver mais nenhuma correnteza – flutuar livre de preocupações tolas e universais.;


Tão livre das preocupações tolas ou universais que me sinto tão só em meio às ondas geladas e multicoloridas (...):


Só sentidos, só liberdades (compartilhadas ou incompreendidas), só intensidades misturadas ao gelo que se dissolve na nudez de uma música –


Só perfumes envolvendo o quarto em abraços de plenitudes contidas (:


Tão só que me espalho nua no chão – sempre e toda vez que.


Sempre que adivinho o mar – toda vez que mergulho em desencontros plenos de satisfações momentâneas,


Diálogos construídos sobre desencontros, ruínas sob a lua que canta tão só (...)/


Só amores corroídos por palavras em excesso, só atrações puramente efêmeras cortando ares gelados e ventos repletos de prazeres ausentes (...).


A ausência de preocupações ou limites dura apenas poucos minutos que se repetem indefinidamente em sonhos posteriores – e a realidade se dissolve em ondas repletas de plenitudes contidas (...).


Liz Christine

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Sombras



Já falei da perplexidade latente que ameaça os olhos da gata branca? É que nada, nada, nada volta como já foi um dia – por mais que minha cabeça gire enquanto permaneço deitada e quieta esperando. Esperando que todo o álcool evapare da taça de vinho ao invés de absorver cada instante de pura perplexidade latente. Olhando sem enxergar claramente bem no centro dos ideais perdidos e desolados enquanto o vento clareia os sinos da porta semi-fechada. É que tudo tem sabor de quase a todo instante – quase alcanço a paz introspectiva das madrugadas insones, quase alcanço o amor perdido no meio dos livros sublinhados, quase alcanço a perplexidade necessária ao desabrochar das sensações puras, e quase também readquiro o desejado equilíbrio fugitivo. É que minha cabeça gira enquanto as paredes tremem – ou seriam minhas pupilas dançando ao sabor dos ventos? A primavera vem, a primavera se vai, e nada volta como já foi um dia – as imagens se alternam e se bifurcam no ritmo da respiração mais lenta que os ideais se entrelaçando pouco a pouco. Não ter ideais, não ter objetivos, não ter amor nenhum dentro de si, dizer não aos afetos sublimes, correr os olhos diante de uma página de um livro de poesias, ler sem sentir, respirar sem pensar, dançar sem a música, sonhar sem direção nem foco, não achar um meio ou caminho, olhar sem enxergar claramente – é a sombra das nuvens carregadas girando dentro de taças semi-vazias. Já falei da perplexidade latente que ameaça os olhos da gata branca? É que as sombras passeiam pelas ruas enquanto um coração inocente se esvazia a cada tarde – os sonhos se despedem e não retornam mais do jeito que foram um dia. O mundo vai se desbotando, a música vai perdendo todo o sentido e o amor evapora da taça de vinho. A suave despedida da inocência não traz nada além de olhares vazios contemplando as sombras que passeiam pelas ruas sempre atrasadas para seus compromissos.


Liz Christine

domingo, 3 de abril de 2011

Como da primeira vez


Ah a exaustão que escorre das nuvens – mais café para descobrir a cor da indecisão que envolve cada instante da liberdade que perfuma o ar que se respira (...).


Ato nenhum é premeditado essa noite e tudo já foi dito em uma tarde da primavera ou em uma noite do inverno – tudo, exceto o essencial (...).


O essencial se esconde em cada pausa no movimentar de sílabas compartilhadas e não há nada mais que se queira comunicar além da exaustão que escorre das nuvens (...).


Toda a frivolidade compartilhada se evapora da minha memória enquanto abstraio minha capacidade de ouvir – não diga nada além do essencial (...).


E o essencial se esconde a cada pausa – tudo é dito a todo instante, tudo, menos o essencial (...).


Melhor se calar e abstrair qualquer possível capacidade de escutar – toda a concentração mirando a exaustão que escorre das nuvens (...).


Seria bom cantar o amor mas isso não existe mais – em lugar algum, em simplicidade alguma, em ato nenhum, em palavra alguma, em nenhum olhar atencioso, nem nas tardes de primavera nem nas noites de inverno (...).


Buscando um belo esconderijo para descansar asas cansadas de sobrevoar piscinas rasas (...).


“Desejava ainda mais: renascer sempre, cortar tudo que aprendera, o que vira, e inaugurar-se num terreno novo onde todo pequeno ato tivesse um significado, onde o ar fosse respirado como da primeira vez.” (Perto do coração selvagem, Clarice Lispector)


Liz Christine

Martina

A centopéia de pelúcia brilhava na escuridão e a inquietação reinava nas janelas teladas e a brisa beijava os móveis e as gatas afiavam as unhas nas cadeiras do escritório ao lado do quarto principal. No quarto principal um sapo de brinquedo ocupava um dos travesseiros da cama de casal desfeita e o tão conhecido tédio envolvia os cabides dentro do armário e os afetos suaves circulavam de mãos dadas com as intolerâncias diárias de cada significado mutante que troca de direção ou sentido ou gênero a cada dois ou três anos. A centopéia de pelúcia radiante se chamava Martina e todos os outros brinquedos da casa tinham nome e faziam aniversário sem nunca revelar as intenções de cada mutação ou mudanças de gênero ou sentidos dos afetos que circulavam de mãos dadas com as intolerâncias diárias que envolviam cada pausa no desenvolvimento natural das insanidades teóricas relatadas a cada reunião dentro do escritório ao lado do quarto principal. Inspirando profundamente os perfumes misturados ao calor e ao vapor d’água durante um longo banho quente enquanto do outro lado do corredor há uma festa para a qual não convidaram as intolerâncias diárias nem os significados mutantes. A sede invade invade o quarto de hóspedes enquanto me visto lentamente depois do banho à espera da próxima pergunta – teu mundo cheio de perguntas me observa atentamente enquanto me movimento sem pensar. Cada movimento envolto em silêncios breves cortados por frases repentinas desenha uma nuvem de suaves afetos circulando de mãos dadas com as intolerâncias diárias.

Liz Christine