Ah se algumas nuvens fossem feitas de silêncios – e se a outra metade das estrelas fosse feita de gestos dóceis ou profundos. E se a gata branca tomasse um banho cheio de estrelas caindo gota a gota repletas de gestos dóceis ou profundamente concisos e repletos de delicadeza permanente. Mas a sutileza não reina mais no céu que desaba sobre a grama enquanto a lua solitária busca uma saída do labirinto de espelhos distorcidos. As imagens sobrepostas se distorcem ao sabor de silêncios carregados de insatisfações plenas de desvios no caminho – ah se no meio do caminho fosse possível reencontrar a plenitude que preenche um poema escrito antes de qualquer desabamento de sentidos descobrindo mundos submersos em conchas marinhas. Ah se todas as músicas cantassem o primeiro amor ao invés de sublinhar o desamor ou a decadência das paixões frustradas – e se todos os poemas fossem escritos antes do primeiro beijo significativo. Ah se todos os beijos tivessem significado ao invés de serem meros passatempos notívagos para fugir do tédio e do vazio que mora em cada coração solitário – corações tão solitários no meio de cada multidão. Palavras tão imperfeitas quanto lágrimas durante o amanhecer de cada primavera. Sentimentos tão poluídos quanto os mares mais frequentados. Onde a pureza se escondeu definitivamente? Ela muda de esconderijo a cada dois ou três anos em uma rota de fuga constante da poluição dos mares e do ar que se respira sem a menor consideração com o equilíbrio dos mundos submersos em conchas. Ah tédio que rodeia cada instante de ausência e carência de sentido – os sentidos se escondem em cada perfume que a gata branca fareja enquanto caça objetos perdidos no meio dos livros espalhados pelo chão. Caçando canetas que falham e objetos decorativos que caíram da estante enquanto as babuskas continuam sorrindo diante das insatisfações que povoam o mundo.
Liz Christine
Liz Christine
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