domingo, 22 de junho de 2014

Più la vedo




Tristeza que cai em flocos



Moendo grãos de café



Flocos desabam do céu



Caffè ristretto, caffè lungo, espresso



O céu das ovelhas caiu no chão



La coniglia piange all’alba



... “All’alba vincerò, vincerò”...



Nessun dorma, nessun dorma



Fino alla prossima settimana



Quando la musica suonerà



La musica del sogno che ho visto oggi



Ho visto un sogno piangendo



La coniglia piangeva



E as ovelhas pintavam um quadro



O quadro da tristeza que passa



Passa por todos e mergulha no mar



O mar gelado de inverno brando



Suavemente as ondas desenham



Desenham um olhar que guarda o infinito



O infinito de um silêncio repleto de palavras



As palavras do sonho, o sonho que diz:



... “Più la vedo, più mi piace”...



Fouettes de um cisne, olhos felinos, grãos de café



Grãos de café moídos na hora



A hora em que acordo ao ouvir novamente



... “Più la vedo, più mi piace”...



Liz Christine

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Marie Taglioni e Sòcrates




Il gatto dice alla gatta: “Lascia che ti guardi...”. La gatta non gli risponde perché sta guardando la propria padrona. I gatti o le gatte non hanno padrone o padroni – tutti noi sappiamo la verità ma questa gatta è gentile. La sua “padrona” le piace e sempre dice alla gatta: “Sei il mio amore, sei la mia gatta carina...”. Quindi il gatto rimane in silenzio ma scriverà un racconto. Il titolo del racconto sarà il nome della gatta: Marie Taglioni.

... O gato não quer que ninguém leia seu conto. O gato desenha bem e faz um retrato de Marie Taglioni – que vejam, então, o seu desenho. O conto não. Ele não publica seus escritos. Sua irmã, que também escreve (e publica para a família felina), rouba todos os escritos e rascunhos do gato sem que ele saiba. Mas ela mantém a autoria preservada e toda a espécie felina sabe que Sócrates é quem assina aqueles textos – Sócrates, claro, o próprio. Sócrates é um gato possessivo. Marie Taglioni é sociável e nunca estranha outros felinos nem humanos. Marie Taglioni não se importa com campainhas e interfones tocando, Sócrates os detesta. A irmã de Sócrates é amiga de Marie Taglioni e Pamina.

Dizem que as gatas ou os gatos não têm dono ou dona – dizem que a espécie felina é a verdadeira proprietária de tudo. Talvez.

Talvez Sócrates esteja estudando com Pamina. Pamina também desenha mas não escreve. A irmã de Sócrates é misteriosa e publicou um texto de sua própria autoria em Dezembro do ano passado. Na verdade não são irmãos biológicos – são irmãos de alma. Mas ambos nunca falam isso a ninguém. Algumas pessoas, humanos ou quaisquer outras espécies que não sejam os felinos, poderiam rir desta expressão. Mas a espécie felina jamais. Os felinos compreendem. Tudo e mais um pouco. E há humanos com coração felino. Todas as espécies, com a exceção de alguns humanos, podem ser adoráveis. Mas a espécie felina é admirável em sua compreensão detalhista e alheia. Ao mesmo tempo impassíveis, afetuosos, amorosos, orgulhosos, mimados, indiferentes, sensíveis ao extremo e grandes observadores – são a família felina.

Marie Taglioni adora sair. Sócrates não. As amizades de Sócrates devem visitá-lo em seu território. E às vezes ele não quer receber ninguém. Falando assim Sócrates pode parecer não muito simpático mas na verdade é o gato mais doce do universo com quem ele gosta. Ele só é difícil – sim, é um gato difícil para aqueles acostumados à média. Ele é único, porém, como dito anteriormente, extremamente possessivo com o que lhe diz respeito. Guarde suas palavras até que alguém as compreenda – é o que Sócrates faz. É adepto do silêncio “social” – faz silêncio socialmente e fala em ambientes privados. E Marie Taglioni é o oposto de Sócrates em quase tudo – é extrovertida e conversadeira. Cada qual do seu jeito mas todos felinos e amplamente fotografados...

E oggi, dopo la cena, Sòcrates prenderà un caffèlatte con la sua amica Marie Taglioni...

Liz Christine

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Il lettore




La pioggia. Abbiamo pianto. Notte fonda. La lettura e le parole che non diciamo mai. Ascoltiamo senza dire una parola. Niente. Nulla. Nessuno. Mai. Dimenticare. Riesco sempre – a disegnare i tuoi sogni.

Uma casa trancada. Janelas com rede de proteção e cortinas fechadas. Todas as luzes apagadas, exceto a luz do banheiro. Quartos trancados, tudo trancado – tudo, inclusive olhares e vozes. Ninguém fala, ninguém suspira, ninguém canta, ninguém jamais ouve uma única música – o silêncio é absoluto. A gata da vizinha desconfia que não há ninguém ali. Naquela casa pintada recentemente. Reformada. É um sonho do gato que pinta as unhas dos cisnes enfeitiçados – durante o dia são cisnes e durante a noite até o amanhecer são moças. E essas moças fogem, ou pelo menos tentam – daqui a um ou dois meses, entre oito e meia-noite e meia, o gato quebrará o feitiço. O gato gosta de ouvir Nina Simone. O gato tem uma bela casa onde vivem suas donas – o apartamento está no nome de suas donas mas o proprietário de todos os bens e do imóvel é ele, o gato. Sócrates, naturalmente. Sócrates sonha. Sócrates bagunça. Sócrates lê ou assiste. Tutto questo è possibile al computer, tutti i giorni, il gatto legge e studia le babuske e le matrioske e gli umani. O gato lê os olhos, os gestos, silêncios ou palavras, diálogos, livros, desenhos, coreografias, filmes, balés e sonhos – seus próprios ou os alheios.

                    “Mi dà sempre un brivido
quando osservo un gatto che
       sta osservando qualcosa che io
               non riesco a vedere.”
  (Eleanor Farjeon)


Liz Christine