terça-feira, 2 de novembro de 2010

Poesia e Amor-Próprio

Esperança se suicidou e morreu muito jovem. Sabes que eu a detesto? Ela me assombra vez por outra em plena madrugada. Nunca existiu alma mais parva que Esperança. Mesmo defunta, ela ainda é capaz de causar alguns estragos nos vivos. Esperança era cafona e tinha um péssimo gosto para se vestir ou pentear os cabelos tingidos. Enquanto eu tingia meus cabelos de rosa-bebê ou vermelho intenso aos dezesseis anos, vi fotos antigas de Esperança aos quinze anos com os cabelos super mal pintados e em penteados tenebrosos. Enquanto eu fazia as unhas toda semana, Esperança roía as unhas descascadas. Ela se foi e já foi tarde. Afinal quem precisa dela, é porque não está nada bem. Só procurava Esperança quem realmente estava mal de vida, por isso eu sempre a detestei. Nunca precisei dela, nem em dias ruins ou desastrosos e menos ainda em dias maravilhosos. Sabes quem é minha amante? A Poesia. E meu amante? O Amor-Próprio. Tenho amantes de ambos os sexos mas só consigo amar plenamente as amantes (nunca os amantes). Porque às amantes dou tudo, aos amantes dou nada. Nunca darei nada. O Amor- Próprio é o único amante compreensivo que nada me exige pois pensa apenas em me dar prazeres (e como nos entendemos bem). Permaneço intocável aos amantes do sexo oposto que não passam nunca de amores platônicos e jogos mentais que me distraem de forma abstrata. As amantes são reais, os amantes são imaginários.

Liz Christine

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