segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Je ne regrette rien


Mais uma vez o Tédio me visita com suas unhas pintadas de azul-pastel. Não me escreva pensamentos, escreva movimentos corporais e estímulos sensoriais. Escreva desenhos ou perfumes. Escreva também desencontros tão profundos que nem sei. Não sei de nada. Je ne sais pas. Je ne regrette rien. Anular quaisquer idéias e voar tranquilamente, flutuar, flanar, correr, engatinhar, deitar. As idéias todas vão sumindo de vista quando me sento aqui para fumar. Ah Tédio acenando sorridente. Ele sempre se aproxima onde as pessoas falam alto demais e falam demais da conta, muito mais do que eu gostaria de ouvir. Ah minhas unhas recém-pintadas de vermelho me dizem que caçar não seria má idéia, mas ah é tudo sempre tão igual. Caçar bolhinhas de sabão em forma de corações multi-coloridos. Caçar ondas do mar agitado. Ah não faz mal, não, não, não faça isso, não diga nem mais uma palavra. Eu só quero te esquecer e me esquecer também de tudo que sou capaz de pensar. Rapidamente, os esquecimentos, e a próxima taça de vinho. Fumar mais um e te esquecer logo, logo, porque nada vale a pena nesse mar de incompreensões corriqueiras. Tu e qualquer outra pessoa não valem nenhum esforço. É tudo sempre igual e já sei como acaba também. Acaba na cozinha, não é? Ou seria no banheiro? Ah que transtorno, ah Tédio sorridente me convidando a dançar com as estrelas. Recortando bonequinhas de papel. Sei que nada em ti vai me surpreender, e provavelmente qualquer coisa que eu faça ou deixe de fazer vai soar como insanidade nos teus ouvidos. Ah a próxima taça de vinho, que venha logo, e com ela todo o esquecimento do mundo. Como pode um bebê que não sabe falar querer ser a Greta Garbo? É plausível ter todas as possibilidades do mundo em um único rosto? Ah fumar, voar, flanar, esquecer, sonhar, acordar, engatinhar, correr, fugir, voltar, esquecer de novo. Como soa vazio (...). Aspirando ausências e respirando silêncios. Nunca estou onde me encontro. Estou sempre longe, tão distante que nem sei. Ah se alguém colocasse meus pés no chão de vez em quando ou me abraçasse suavemente para eu não cair de novo sobre as nuvens, eu nem sei. Sei de nada. Je ne sais pas. Je ne regrette rien.

Liz Christine

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