quarta-feira, 19 de maio de 2010

Quartos suaves


Besar com besos sabios
Y el devaneo
Sentir com más deseo
Cuando sus ojos veo
Sedientos de placer

Fumando espero, Sarita Montiel

O tédio veste as asas da inquietude,

E sobre meus ombros respingam gotinhas do rio que mora no andar de cima. (...);

A inquietude sobrevoa ao redor do rio e as asas me abraçam suavemente –

Até que um quase sorriso desenha um quase querer:/

E então um quase desequilíbrio desembaraça as palavras que caem soltas sobre meus ombros cansados de esperar o indizível e eterno querer,

Um rio de intensidades sutis onde nadam favos de caramelo sorridentes que a gata branca absorve mirando um breve silêncio preenchido por olhares;,/

Olha: também guardo um rio que nasce de um beijo tão doce que flutuam gotinhas de baunilha ao redor de um desencontro,

Palavras desencontradas flutuando dentro de um quarto onde tudo são inquietudes. (...),

Dentro de um silêncio preenchido por afetos que não querem se expor em vão, reencontro um equilíbrio que mora na mais plena satisfação de todos os quereres,,,/

E o tédio mergulha no mais puro mel escondido atrás do arco-íris. (...):

Flutuo em uma página de livro e adormeço abraçada a ti,

Acordo – e depois do café, vou caçar borboletas que moram em sonhos doces e em quartos suaves. (...) –

Liz Christine

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Fumando no meu casulo


Nua no meu casulo onde fumo flores e transbordo (...).

Uma estrela de esmeralda e um sapo de água-marinha são as peças da minha coleção que guardo em uma caixinha de música ao lado esquerdo da outra coleção de sapatos –

De tudo um pouco, colecionando memórias que deixo de lado ao acordar –

Acordando estonteada de tanto que sonho em vão (...).

De tudo um pouco, a indiferença mora em cada brecha –

E tranco minhas janelas para novidades que nada surpreendem:

É que de tanto sonhar em vão faltou luz no meu quarto naquela noite em que uma borboleta chegou cansada de tanto fumar inutilmente (...).

Nua no meu casulo onde fumo flores e transbordo – /

Transbordo em silêncio todo o mel que absorvi naquele beijo trocado no escuro:

É que de tanto te beijar mergulhei em um rio transparente e flutuei até o infinito do outro lado do arco-íris – e então te abracei indiferente à realidade (...).

Pouco importa a realidade quando cores complementares giram em espiral ao redor de uma flor:

É que de tanto voar flutuante eu desenhei teu perfil em uma parede nua – tão nua que transbordo quereres (...).

Liz Christine

sábado, 8 de maio de 2010

Avec des larmes aux yeux...


Tédio que me faz devorar o mundo enquanto as estrelas, todas, caem do teto pintado de azul (...).

Um frescor lentamente se enrosca pelas frestas do quarto trancado enquanto as ovelhas, todas, passeiam pelo chão feito de neve sintética – :

Há uma boca desafiando o tédio que me faz devorar o mundo repentina e vagarosamente (...).

Desconheço quaisquer tentativas de permanecer em estado de alerta – :

:-(Tenho um quarto de hora para descobrir caminhos:)

Um meio de te encontrar mais tarde em alguma pausa parcialmente mais profunda (ou mais precária – quem?)

Alguém se esconde atrás da porta trancada – e então há uma boca desafiando o tédio que me faz cozinhar silêncios: –

Quero dois abraços e um beijo singelo antes de sonhar (...).

Sonhar com o início de uma liberdade tão desejada que as estrelas, todas, caem de seus poleiros – e então deslizo meus passos tão incertos sobre a neve sintética que dança ao sabor das estrelas,

Mais uma vez o tédio se enrosca em cada silêncio e me abraça duas vezes antes que sonhos tolos me invadam – e um vestido lilás me beija suavemente até que adormeço um quarto de hora depois de amanhecer o dia:

Dormir a manhã inteira agarrada à uma idéia incerta acerca de amores que nunca existiram realmente (...).

O amor dura um instante de pura inocência e prazer sem maiores indagações – e a lua sorri do alto de sua sabedoria tola e inocente/.

É o sabor do café com chocolate branco derretido no fundo da xícara que adivinho em teu sorriso – deixa eu ouvir tua voz tão doce sem entender absolutamente nada do que escuto de ti (...).

É que cada frase esconde um intenso desabrochar de incompreensões corriqueiras./

Deixa eu te beijar adivinhando um ato tão doce que o tédio inteiro e absoluto se desfaz por completo por um instante para depois retornar em formato de casulo (...).

Diz que a vida não é feita de tédios e explica o motivo de tantas tristezas morando no teto pintado de azul – mas pouco importa: não vou te compreender:

A letargia mora em cada movimento (...).

Liz Christine

terça-feira, 4 de maio de 2010

Uma gata dentro da noite desviante


Eu vi, eu vi, eu vi, eu vi a cortina lilás se abrindo diante dos meus olhos (...). E vi também minha voz flutuando dentro da noite em meio a tantas outras vozes mais altas (...). Eu senti, senti, senti, senti tua mão esquerda deslizando do meu ombro às minhas costas (...). E sim, eu vi, eu vi, eu vi, vi teu olhar meio perdido dentro de uma vaga semi-percepção das minhas intenções – ah como me custa (...). A liberdade, o auto-controle, o deixar-se, o ir-me-embora, o estar, o ser, o querer, o não-dizer, o te ter, o me ter – ah (...). Eu vi, vi, eu vi, a cortina lilás se abrindo diante dos meus olhos (...) – e então, sim, me ser dentro das asas mudando de cor a todo instante. Desenhei uma gata branca dentro da noite plantando estrelas em meio a um semi-sorriso dispersivo (...). E então eu tive todas as cores do meu reduzido universo plantando intransigências em meio ao silêncio introspectivo de um querer – ah querer, sim, querer (...). E deixar-se então – e então um abraço mais doce que o reduzido universo que cabe em um pote de mel desenhando beijos suaves no colo que antecede os seios (...). Ah sim, seios, eu vi, vi, eu vi – e desenhei então dentro da noite onde minha voz flutuava sussurrante em meio a tantas outras vozes (...). Desenhei uma borboleta bem no centro do teu olhar pálido escondendo de mim tuas diversas intenções (...). Encontrei dentro de um olhar desviante a mais verdadeira percepção de um universo fugitivo – e sim (...). Não desejo o amor, mas o amor vem e me basta – basta apenas que seja verdadeiro, e então sim (...). Vejo estrelas dançando em toda parte (...).

Liz Christine