sexta-feira, 22 de maio de 2009

Possibilidade de uma gata branca


Uma gata branca se pergunta sobre a possibilidade mas não te encontra mais desde que se perdeu num labirinto de telas e paredes – há muitas paredes neste lugar mas não dentro de mim. Tudo flui suavemente e se mistura ao mel e ao pó de café aromatizado. Dentro de mim tudo flui e se mistura, lenta ou repentinamente, o que antes era espanto se torna suavidade em mim que me pergunto sobre a possibilidade mas não te encontro mais na tua janela ao passar pelas tuas ruas – todas as ruas são tuas ou nossas e o mundo cabe dentro de um abraço. A gata branca sabe que o mundo cabe dentro de um abraço ou de uma idéia – é que eu penso em ti, mais sentidos do que racional. E meu corpo te sente tranquilamente – sem pensar em quê nem por quê. Não importa o motivo, quando te vejo eu me sinto assim. Eu ronrono e te aproveito – aproveito cada possibilidade de te sentir. E sei que uma possibilidade se aproxima. Eu te via todos os dias. Agora te vejo quando é possível, mas quando não é inteiramente possível eu me distraio com a borboleta azul do outro lado do mundo – o lado que desconheço desse mundo que cabe em um abraço. Meu mundo cabe em um pote de mel ou em um beijo na nuca e no pescoço. Teu mundo cabe em uma estrela que eu guardo em cada música que faço. Mas tudo se expande e se mistura, como eu já te contei – não contei? Nosso mundo se expande e flui em conjunto, ou isoladamente, ou se combinando com mais alguns outros mundos, e o mundo interno próprio à cada pessoa corre o risco de se perder em um labirinto de telas e paredes e tetos sem ventilação – ou obrigações tardias. Não se sinta nunca obrigada a não se expandir, eu te quero inteira – mesmo o que está por vir. A gente muda. Ou não. A gente ama. Ou não. A gente deseja. Ou não. E o que antes era apenas desejo de prazeres rápidos, agora é algo indizível – porque não vou dizer. Eu te quero nua. A tua nudez é delicada e cabe dentro de um quadro que eu pinto todos dias quando nos despedimos – até a próxima possibilidade. E eu tenho uma coleção de quadros com a tua nudez desenhada por mim em meio a lembranças que cabem no teu perfume.

Liz Christine

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Livre e ao teu lado


Talvez um dia eu possa vestir o mar – qual eu realmente não sei tão bem quanto eu sei que a perfeição mora no passado que se foi e eu disse adeus a mim mesma. Eu estava quase indo embora de mim quando eu me disse adeus mas eu me reencontrei em minha nudez não-saciada – e eu preciso te ver de novo mas desta vez que seja perfeito no presente (sabes o que é perfeição para mim?). É que pretendo e sei que posso encontrar minha liberdade em ti (sabes o que é liberdade para mim?). Também sinto que tuas mãos e beijos me deixaram marcas que ninguém mais vê – desenhos flutuando em meu olhar quando me lembro de ti, e de olhos fechados o meu olhar voa em direção à suavidade escondida sob uma mudança que pode recuar para atingir um novo estado de. Olha para mim e me diz: o que é perfeição para ti?, e o que seria liberdade para nós?

Um breve retorno à suavidade que coloria mares às vezes revoltos – e que esse breve retorno dure o tempo de um constante mergulho cada vez mais profundo mas com fugas curtas e inconstantes porque sou assim mesmo (fujo sempre que posso e mergulho sempre atraída pela profundidade). Fujo quando vejo uma possibilidade. Mergulho quando encontro em um instante a minha própria liberdade. Porque a auto-preservação excessiva é em si uma prisão feita de orgulho e defesas, muitas defesas e algumas fugas breves que se desfazem quando eu sinto que o verdadeiro amor sem superficialidades (sociais ou pessoais) combinado ao prazer verdadeiro (e intenso porém suave) é em si a própria tão sonhada liberdade. Amor pode ser a liberdade ou uma prisão – olha para mim e me diz se tu me prefere em uma prisão (criada por quem?). Ou se tu me prefere livre e ao teu lado.

Liz Christine

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A nudez do teu sono

Daqui a alguns poucos minutos o dia amanhece dentro de mim – há o universo dentro de mim que em pouco tempo estarei fora da realidade que me sufoca cada vez mais e a todo momento. A todo momento eu sinto circulando a fumaça perfumada que escorre líquida do desamparo – sim, eu me sinto tão desamparada quando ouço pensamentos que gritam descontrolados a própria perda. Perda de sentidos – as palavras perdem todo o sentido a todo instante. Instantes de pura perfeição tão transparente que te sinto através de vazios – é que há um vazio a cada pausa. As vezes há pausas preenchidas, outras há o vazio de algo a ser dito que se apaga lentamente – uma palavra ou frase sufocada por uma sensação obscura ou por qualquer outra coisa onde escapa minha atenção. Sim, não me concentro tão facilmente. Eu mergulho em conteúdos e em espaços perdidos ou encontrados – onde eu reencontro a tua sede?

Sim, há palavras vazias de significados e há também pausas preenchidas por sentidos tão intensos que eu me perco em ti. E há o desamparo da incompreensão – é quando as palavras perdem os sentidos ou são compreendidas de outra forma que não é exatamente nada parecida com o nosso universo. Mas há compreensão possível nesse mundo limitado por isolamentos parciais ou individualistas? Não me pergunte mais nada. Eu não tenho respostas para teus problemas – e, falando muito francamente, acho que talvez me agradasse caso eu fosse um problema para ti. Um problema desses que tiram o sono e passeiam entre sonhos pincelados de cores raras. Eu quero ver a nudez do teu sono – quais flores brotam dos meus seios durante o teu sono?

Os instantes de pura perfeição transparente que se perdem em meio ao desamparo – é que posso sentir incompreensão escorrendo das paredes em ambientes abafados pelo calor do momento que te cerca de forma quase impossível.

Liz Christine

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Conexão durante.

Pertenço apenas a mim mesma. E tenho a ilusão do amor recíproco e da cumplicidade compartilhada e da conexão durante. Sim, não há ilusões – podem haver pontos de vista que não se cruzam e pequenas inserções em realidades desconhecidas. Não, eu tenho ideais – ou não? Sim ou não ou talvez ou poderia ser mas não é ou é assim mesmo?, ou o quê? Ah estou exausta de tanto. Sonhar. Eu poderia dividir meus sonhos com alguém mas eu jamais pertenceria a nada – também não estou interessada em nenhum tipo de reunião de pessoas com os mesmos interesses ou com os mesmos problemas ou com os mesmos objetivos. Esqueça a frase anterior. É que nada importa realmente. Nesse instante exato, nada importa realmente – é que perdi meu equilíbrio em algum lugar da casa e agora tudo que importa é reencontrar o equilíbrio para poder sair daqui vestida e calçada. É que não pretendo andar nua e descalça pelas ruas, sabe? Tu viu algum nível de raciocínio escondido dentro de algum armário trancado para mim? O armário do meu quarto não tem chave. Mas os armários da tua casa, todos têm chaves. Eu nunca mexi no armário de ninguém, dormi muitas vezes em algumas casas das mesmas mulheres e não mexia em nada – e também, eu não fazia muitas perguntas. Dentro do meu olhar, havia nelas tudo que eu mais precisava. Do meu ponto de vista, não podia ter sido melhor porque já era tudo que eu sonhava sem saber. É que nunca sei de nada, eu sinto ou não, e geralmente sem saber, e também não quero saber de coisas como perder equilíbrio ou morrer estando viva. Descontrole pode ser mais saudável que fingir sermos o que não somos – mas podemos ser tantas coisas diferentes em ocasiões diversas, ou podemos nos tornar outra coisa de acordo com o momento, e há reações naturais em nós ou reações causadas especificamente por uma única pessoa ou situação ou ação que não se repete. Eu acho que sou verdadeira em tudo que faço, alguém discorda? Quando quero me calar, eu me calo. Se quero me proteger de uma situação, eu faço o possível e o impensável para me proteger. Quando mergulho, eu mergulho até onde eu quero (sem saber) ir. Eu não tenho vergonha de chorar em público nem tenho vergonha alguma de fazer sexo com alguém olhando – mas tudo depende de diversos fatores, claro. Em alguns lugares pode haver mais de uma pessoa que eu queira, em outros lugares pode nem haver sequer alguém que eu queira me aproximar. Educação para mim significa não constranger as pessoas nem ultrapassar os limites delas passando por cima das fragilidades delas. Pode ser difícil perceber a fragilidade de cada um e podemos errar, claro, mas devemos tentar e ir vendo calmamente – mas, me diz, como eu saio viva daqui? Há alguém tentando me levar ao suicídio – mas ainda não contaram à essa pessoa que eu já tentei suicídio algumas vezes e não pretendia mais tentar? Eu superei. Superei algumas coisas e outras não – mas é tudo bagunçado, sabe? É, é tudo meio bagunçado. Não importa. Eu só quero sair daqui e de preferência com algum nível de amor pela vida sem estar tão destruída a ponto de não ver mais graça em nada – eu amava um punhadinho de coisas, sabe? Não destrua meus amores – são o meu oxigênio e a minha liberdade.

Liz Christine