A realidade torna-se nublada e opaca quando eu toda vez que às vezes de repente se confundem as visões alheias e perguntas sem sentido e sem e sem e sem e sem nunca nunca nunca – porque não há na verdade. Na verdade das realidades opacas e nubladas não há confiabilidade nem transparência e desaparecem o afeto e a vontade de continuar. É tudo muito muito por demais esfumaçado – e a fumaça torna as visões muito e por demais difíceis de se ter equilíbrio e a sensação de se estar caminhando num chão que. Tudo desaba em meus ombros – a incerteza, a insegurança, a angústia, o receio que não é meu, o receio de me dizer a verdadeira natureza das realidades que. Tudo passa. E algumas coisas podem voltar, outras não, outras nunca, e há esquecimentos necessários à minha respiração e necessidades desnecessárias e o amor me é tão tão tão – é tudo tão caro. Não posso pagar pelos meus erros. É triste mas não peço desculpas, é embaraçoso mas não chego a me recriminar nunca, pode soar constrangedor mas não para mim – para mim é assim: nada soa impossível. As letras das músicas mais antigas do Portishead são inesquecíveis e jazz de 1920 à 1950 é impossível eu não amar. Há livros e filmes que mudam uma vida ou uma maneira de ser ou simplesmente ampliam e multiplicam e reforçam certa forma de pensar ou viver ou sentir ou tentar se tornar ou quem sabe se sempre se foi assim e – eu posso me sentir tão bem e tão completa ao teu lado e posso também na tua companhia, nos teus braços, eu posso também do teu lado ou no teu colo me esquecer de tudo o que me faz confusa e reticente. Eu posso ser sincera e me sentir livre e sentir que pelo menos – sabe?, pelo menos, apesar de toda a minha metade sombria e/ou hedonista (prisioneira de mim mesma e quem sabe de regras que não criei e quero subverter sempre, hoje e sempre, subverter as normas – sabe?)... apesar de detalhes assim de mim e do mundo, eu ainda posso me entregar ao que realmente quero e tentar fazer algo que muitos sonham enquanto outros ignoram e têm outras prioridades – sabe o amor pleno? Mas não me venha com as idéias que ensinam e repassam há tanto tempo, esqueça-as. Eu fico entre uma mistura que não se mistura nunca totalmente e não se torna homogênea quando jogada no mesmo copo ou batida no liquidificador – eu, sabe? Enlouquecer ou tentar suicídio por um amor mal curado que fracassou e não se pode superar até o fim dos tempos, para sempre, para sempre até que o amor perdido retorne, para sempre a dor até que se consiga reacender o amor romântico, e para sempre fugir da dor em meio a prazeres realmente prazerosos mas vazios – os prazeres mais extremos e variados que se puder encontrar – as substâncias e corpos e beijos de muitas muitas muitas quantas eu achar e me quiserem, e simultâneamente quando possível, quanto mais melhor – e a arrogância fria de renegar as próprias idéias e ideais a qualquer momento, e dizer eu te amo para sempre e te quero mais que todas as outras e tu é única enquanto procuro uma forma de te esquecer por aí e uma maneira de fugir de ti... e na realidade nunca dizer nada daquele tipo, nunca declarar nada, apenas sonhar e pensar e ser e falar apenas através de silêncios ou livros e... movimentos corporais... todo o meu corpo te deseja mas... (Hoje estou nublada porque não te vi e outras companhias me deixam meio assim assim – mas, claro, há momentos de.) Esquecimento e. E eu me revolto contra mim mesma por te querer daquele jeito insano todos os dias e horas – apenas não me procure se eu estiver meio assim, sabe? Me evita quando eu estiver confusa e nublada ou cura de vez minha insanidade e minha. Saudade de ti.
Liz Christine
Liz Christine