segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Like a long forgotten dream


Uma música sem rosto. Para descansar um pouco do teu olhar. É que não vejo ou sinto em todas as músicas. Sim, quero escutar algo que eu desconheça e possa me ajudar a não pensar em ou pressentir algo que desejo mais do que. Algo que se desenha na massagem que eu parei antes que. Eu senti teus ombros e minhas mãos começaram a doer por vontade de – e me interrompi porque eu. Minhas mãos poderiam ter deslizado e eu não queria nada porque não conseguia ler o que eu gostaria de saber nas tuas frases. Parece que tu não gosta quando fico em silêncio ou quieta. Mas é que eu preciso. Eu sou também silêncios. Um silêncio feito de transparências. Até que falo demais – e depois descanso de mim mesma porque vivo mergulhada em idéias e sonhos dos quais tento escapar de tempos em tempos – então eu prefiro me esquecer de mim e te ouvir. É simples. Eu preciso que tu me conheça em alguns trechos e me desconheça em algumas partes – e seria agradável se tu desejasse o conhecido e o desconhecido. Onde houveram mudanças – como seríamos? Onde eu nunca soube – como seria agora que descubro? Alguns anos sem te ver – e algum dia após te reencontrar eu vim à tona de outra forma. Quero dizer, eu me senti assim dessa forma: nada era previsível como antes (quando eu não te via mais) e eu – eu me espantava diante de tanta. Parece que antes eu era muito velha e nada mais me despertava curiosidade – como se eu houvesse perdido a sede. As novidades, qualquer uma delas, me pareciam velhas conhecidas e nada me surpreendia. Até eu vir à tona de novo com toda a sede que eu carrego dentro de mim quando estou diante de uma realidade na qual quero (me) descobrir. As músicas desenham cada qual um rosto ou lembrança – e muitas delas redesenhavam teus olhos ou uma voz ou qualquer outra coisa que esqueci. Porque é muito fácil esquecer – quando não é essencial. E se meu equilíbrio dependesse em parte de uma lembrança parcialmente apagada por uso abusivo de não importa o quê – por mais que eu tentasse não há como lembrar. Mas da nossa convivência eu tenho imagens vivas dentro de mim. Muitas noites e dias juntas, tudo vívido – mas seria melhor deixar de lado e realmente começar do início. Um início novo e autêntico. Não sei. Eu guardo lembranças tão boas de ti que é difícil me desfazer delas – mas eu posso te ver ainda como alguém que devo conhecer (e não como alguém que já conheço bastante). Sabe por quê? Talvez porque nunca seja o bastante. Ou talvez porque pode-se mergulhar cada vez mais fundo. Ou talvez porque seja natural aceitar e procurar as mudanças que todos nós sofremos ou buscamos.

“Can’t you see
What love and romance have done to me
I’m not the same as I used to be”
My last affair, Billie Holiday

Liz Christine

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