sábado, 19 de abril de 2008

Febre dos sentidos


Febre dos sentidos. Visão embaçada pela sede dos teus olhos. Você é minha fome. E eu só quero me alimentar de você. Não preciso de sal nem de açúcar, quero o mel das tuas palavras e o gosto da sua pele. Eu sei o que você vai dizer, você sempre me fala o quanto me ama e me quer do seu lado. Então eu espero, eu te espero chegar naquele momento em que nos permitimos dizer tudo, sabe aquela sensação de que o mundo é perfeito enquanto estivermos abraçadas? Pode me apertar com força, eu gosto, mas me beija com suavidade, a mesma suavidade que tem o perfume de uma rosa fresca.

Liz Christine

terça-feira, 15 de abril de 2008

Estrelinha verde


Uma estrelinha verde piscando dentro da chuva e eu aqui tão solitária pensando em teus olhos que piscam dentro das minhas mãos que tocam meu corpo cansado. Cansada de não fazer nada, eu me sinto tão cansada de fazer nadinha para ter você de volta me envolvendo em seus abraços apertados e me beijando dentro da minha introspecção constante que se dissolvia na tua pele nua. Teus seios eram tão brancos quanto os meus mas você não tinha nenhuma pinta entre os seios como eu tenho. Você contava minhas pintas e me contava sua infância e me falava que teve um gatinho quando criança. E você tinha um gato que morava com sua avó e que rolava quando fazíamos carinho na barriguinha dele. E eu acreditava que eu era a sua gata ruiva porque eu era ruiva e já não sou mais. E não sou mais temperamental e difícil de controlar também. E também já desconfio de palavras doces, mas antes eu me deliciava e me entregava às doçuras de escutar você falando comigo como se eu fosse tua gatinha. Mas agora que sei que não era eterno desconfio de qualquer declaração de amor e afetividade. Você me destruiu um pouco quando foi-se embora levando com você a melhor parte de mim. O que eu era para você foi a melhor parte de mim. Teu quarto era o melhor lugar do mundo e talvez não exista mais desde que você se mudou de lá. Eu já tinha ouvido declarações antes, eu já tinha visto pessoas apaixonadas antes, já tinha provado também o sabor dos ciúmes alheios e já sabia que meu amor à liberdade e minhas precipitações estressavam quem convivesse comigo. Mesmo assim você foi única e especial em tudo. Porque foi a primeira que amei de verdade e tudo era novo então. Talvez eu pudesse ter amado antes mas – não quero falar sobre outro erro meu. Eu destruo. Destruo tudo que me toca porque tenho tanto medo, tanto medo de não conseguir ir embora quando bem entender, que destruo assim. Minha estrelinha verde, agora chove e não tenho você para me proteger da morte. Porque eu morro um pouco quando estou solitária e morro mais ainda quando me jogo. Cansada e com muita sede, tanta sede. Sede dos bicos dos teus seios, sede de você toda, e cansada de me lamentar. Choro tudo que já foi destruído e durou o suficiente para me ensinar a verdadeira liberdade. Não quero mais várias mulheres. Quero uma só e seria livre ao lado dela...

Liz Christine

sábado, 12 de abril de 2008

Mar esverdeado


Coração partido
Febre frio sede
Febre de sentidos alterados pelo excesso
Excesso de sede e tateio toda a minha e a tua pele
Nuas como é nua uma noite de palavras trocadas
E sentidos tocados
Passeia pelas minhas imagens
Tua mão me massageia com certa violência
Mas teus beijos são doces
Como é doce teu perfume de criança espontânea
Ao natural sem esconderijos e disfarces
Teus beijos me são necessários como sonhos são essenciais
Você é a mais verdadeira das minhas verdades
Quando estamos assim abraçadas e nuas
E as estrelas sussurram que mesmo que essa noite acabe
Mesmo quando o mar se for de dentro de nossas frases
Ditas no escuro
Ainda estaremos juntas
Juntas no meu coração partido
Partido porque a realidade é crua
E lá fora não há música
Mas aqui assim com você
Eu me renovo e me esqueço
Esqueço o frio
E mergulho no mar esverdeado

Liz Christine

terça-feira, 8 de abril de 2008

The way you look tonight

I see your face in every flower, your eyes in stars above
Estrelas nas paredes, seu cabelo escorrendo água, estrelas-do-mar no chão do banheiro. Tem uma piscina dentro do chuveiro, e conchas dentro da piscina, conchas peroladas e pequeninas. Seus olhos escorrendo pétalas de rosa, você se desmanchando em sorrisos luminosos, seus braços se agitando em breves movimentos. Estamos assim, protegidas pelo vapor d’água que embaça todos os espelhos. Pode-se desenhar nos espelhos, desenhar um sol, uma lua, peixinhos e gatos. Os gatos miam em espiral e recortam palavras da minha boca. Eu estou cantando no seu ouvido.

I’m living in a kind of daydream
Já é quase de manhã, já é quase meio-dia, já são quase dez da noite, o tempo escorre assim, a noite voa, o dia vem. Vem me dizer que me deseja sempre úmida e fresca. Sou a angústia de uma idéia sem refresco. O prazer de um desejo recíproco. Sou o prazer de um desejo satisfeito. Sou o tédio de uma noite sem sentido. Sou a satisfação de um prazer compartilhado. Sou a obsessão que se repete monótona. Sou a diversidade que gira em espiral.

“... cair dentro de si mesmo, mergulhando numa tonta e escura onda de amor.” (Perto do coração selvagem, Clarice Lispector)

Você se cansa da piscina. Quer sair do banheiro. A água está tão quente, as conchas são tão macias, eu não quero sair não. Quero adormecer aqui e acordar abraçada com você. Quero viver assim e respirar todas as pétalas que escorrem dos teus olhos. Todas as gotas de exaustão que escorrem do seu cabelo. Você está exausta. Eu não. Estou bem acordada. E desejo as estrelas brilhando nas paredes.

Liz Christine