quinta-feira, 20 de setembro de 2007
o céu que desenha o seu rosto
“Proust admitiu que todo o material do seu trabalho literário estava em sua vida passada, que ele o adquirira em meio a diversões frívolas, ócio, na ternura e na dor guardadas por ele, sem saber seu destino ou sua sobrevivência, sem saber que eram a semente e os ingredientes que fariam nascer e alimentariam a planta, a sua literatura.” (Diário de um fescenino, Rubem Fonseca)
Não acredito em passado. Acho que tudo que vive dentro da gente é presente. Mas também não acho bom viver dentro de si mesmo todo o tempo. Ando mergulhada em rosas vermelhas e pensamentos libidinosos. Ando por aí esbarrando em tudo, sem olhar para frente, vejo apenas um pálido reflexo do que sonhei tantas noites. Falo pouco, desejo demais. Quero mudar de direção, o meu olhar. Ontem quase fui atropelada. É que vivo adivinhando o céu que desenha o seu rosto. Ando olhando para as estrelas que cantam o seu sorriso. E as estrelas estão nas minhas sandálias vermelhas. Olho para meus pés desejando as nuvens que chovem em cada uma das suas mãos. E seus beijos vivem dentro de mim. Ando por aí vendo apenas um pálido reflexo do que tanto me atrai: intensidade…
Liz Christine
terça-feira, 18 de setembro de 2007
Mãos sonhando línguas
Mãos sonhando línguas. Língua atrás dos joelhos, beijos no pescoço e na nuca, mãos atravessando camadas, camadas de desejo sussurrado sugando o bico dos seios. Pelo meu corpo tatuado, o desejo vai traçando seu caminho, beijos na barriga, nas costas e nos ombros. Palavras trocadas, toques que são frases, frases longas, frases curtas, frases que são declarações de uma doce madrugada. Línguas sonhando a eternidade, a eternidade de um breve instante, um momento de total liberdade. O auge do prazer é a libertação suprema, o encontro de dois corpos no outono das frivolidades. O diálogo é frívolo, o toque é profundo, a língua é o órgão que comunica, diverte e desenha. Desenha rios transbordando pássaros que cantam a madrugada que nasce sutil.
Meu amor, não vá embora, durma aqui. Durma aqui e acorde um beija-flor procurando ventos que trazem novos rumos. E recomece o percurso que a trouxe até mim. O que você estava procurando? Eu buscava a lânguidez de uma gata no cio. Eu buscava a tempestade de uma noite cheia de estrelas risonhas. Eu buscava você, cheia de sutilezas e mãos sonhando línguas atravessando camadas de desejo sussurrado sugando o bico dos seios. Eu buscava palavras que não precisam ser ditas mas necessitam agir. E encontrei minha interseção na curva de um silêncio que era puro prazer.
Liz Christine
Meu amor, não vá embora, durma aqui. Durma aqui e acorde um beija-flor procurando ventos que trazem novos rumos. E recomece o percurso que a trouxe até mim. O que você estava procurando? Eu buscava a lânguidez de uma gata no cio. Eu buscava a tempestade de uma noite cheia de estrelas risonhas. Eu buscava você, cheia de sutilezas e mãos sonhando línguas atravessando camadas de desejo sussurrado sugando o bico dos seios. Eu buscava palavras que não precisam ser ditas mas necessitam agir. E encontrei minha interseção na curva de um silêncio que era puro prazer.
Liz Christine
quinta-feira, 13 de setembro de 2007
Meia-noite
Contato físico. Troca de carícias. Troca de palavras. Ditas sem sentido. Sem necessidade. A minha necessidade é a sua pele, o seu colo, a sua mão que passeia na minha pele. Falamos de coisas bobas. Rimos de coisas bobas. E nada me parece tão bobo quuanto não aproveitar a música que nos envolve. A música que nos rodeia. A música que nos une.
Acendemos um incenso de rosas vermelhas. Escutamos a televisão que chega de um apartamento vizinho. E aumentamos o som. Só mais um pouco. Só mais um pouco, e eu vejo estrelas. Suas estrelas tatuadas. Minhas borboletas tatuadas. Nossas peles se descobrindo mutuamente. Debaixo das cobertas. Frio gostoso. Um café bem quente.
Mais um pedaço. Eu quebro mais um pedaço. As paredes tão finas, escuto a voz dos vizinhos. Um pedaço da realidade deles. Não quero ouvi-los. Estraga nossa música. Estrega nosso aroma de rosas vermelhas. Estraga o toque das suas mãos nas minhas costas nuas. Vamos fechar todas as cortinas. Baixar todas as persianas. Isolar a realidade externa de outras pessoas e quebrar mais um pedaço da nossa realidade sensível.
Engolir mais um pedaço da imprevisibilidade dos relacionamentos. Até quando vamos nos sintonizar assim? Que importa? Que seja verdadeiro enquanto dure a coloração. Quando a verdade acaba, o melhor é terminar. A verdade da cumplicidade, cumplicidade dos corpos e cumplicidade das sensibilidades. Cumplicidade dos atos e das idéias, e não precisamos concordar em tudo. Eu prefiro sair agora. Você prefere continuar em casa. Assim estamos bem, você diz, e é verdade, assim estamos bem mas me deu vontade de sair. E agora? Quem escolhe? Mais um pedaço, só mais uma metade. Saímos um pouco, e se estiver chato voltamos logo, voltamos bem cedo, você concorda? – ela me pergunta.
Não sei. Metade de mim pensa em fazer a vontade dela e ficar por aqui, a outra metade de mim ainda quer mesmo sair. Não sei, não sei, sou a indecisão e a preguiça em pessoa. Então ela me arrasta para o chuveiro. Um banho bem quente sempre ajuda a decidir, ela diz. Eu adoro banhos bem quentes cheios de espuma e à luz de velas. Com o som no banheiro. A música vem nos acompanhando pela casa. A nossa música. O nosso ritmo.
“… I want to lose my mind
But won't you please be careful
There's things I don't wanna find (…)
… Break me off a little piece of something
There's things I wanna find
With some help (…)”
(música Something, Leila)
Liz Christine
Acendemos um incenso de rosas vermelhas. Escutamos a televisão que chega de um apartamento vizinho. E aumentamos o som. Só mais um pouco. Só mais um pouco, e eu vejo estrelas. Suas estrelas tatuadas. Minhas borboletas tatuadas. Nossas peles se descobrindo mutuamente. Debaixo das cobertas. Frio gostoso. Um café bem quente.
Mais um pedaço. Eu quebro mais um pedaço. As paredes tão finas, escuto a voz dos vizinhos. Um pedaço da realidade deles. Não quero ouvi-los. Estraga nossa música. Estrega nosso aroma de rosas vermelhas. Estraga o toque das suas mãos nas minhas costas nuas. Vamos fechar todas as cortinas. Baixar todas as persianas. Isolar a realidade externa de outras pessoas e quebrar mais um pedaço da nossa realidade sensível.
Engolir mais um pedaço da imprevisibilidade dos relacionamentos. Até quando vamos nos sintonizar assim? Que importa? Que seja verdadeiro enquanto dure a coloração. Quando a verdade acaba, o melhor é terminar. A verdade da cumplicidade, cumplicidade dos corpos e cumplicidade das sensibilidades. Cumplicidade dos atos e das idéias, e não precisamos concordar em tudo. Eu prefiro sair agora. Você prefere continuar em casa. Assim estamos bem, você diz, e é verdade, assim estamos bem mas me deu vontade de sair. E agora? Quem escolhe? Mais um pedaço, só mais uma metade. Saímos um pouco, e se estiver chato voltamos logo, voltamos bem cedo, você concorda? – ela me pergunta.
Não sei. Metade de mim pensa em fazer a vontade dela e ficar por aqui, a outra metade de mim ainda quer mesmo sair. Não sei, não sei, sou a indecisão e a preguiça em pessoa. Então ela me arrasta para o chuveiro. Um banho bem quente sempre ajuda a decidir, ela diz. Eu adoro banhos bem quentes cheios de espuma e à luz de velas. Com o som no banheiro. A música vem nos acompanhando pela casa. A nossa música. O nosso ritmo.
“… I want to lose my mind
But won't you please be careful
There's things I don't wanna find (…)
… Break me off a little piece of something
There's things I wanna find
With some help (…)”
(música Something, Leila)
Liz Christine
segunda-feira, 3 de setembro de 2007
Cor de caramelo
Fico racionalizando. Tentando não pensar em você. Tentando não escorregar. Escutando Nina Simone. Sempre música. Mas não tenho controle total sobre meus pensamentos. E escorrego. Escorrego dentro das pupilas dilatadas do gato cor de caramelo. Já leu Ionesco? Tenho a impressão de que você já me falou sobre algum livro dele. É isso o que tenho, impressões. Tenho a impressão de que sua voz se dissolve dentro da minha sede enquanto sonho acordada. É, sonho acordada. E não tento mais racionalizar. Eu me deixo dentro das pupilas do gato cor de caramelo. A realidade me assusta. A realidade das palavras trocadas no cotidiano me assusta. O que elas me escondem? O quanto elas me escondem? O quanto te revelam? O quanto se parecem com um movimento de recuo incerto? Só quero avançar. Avançar de palavras trocadas à ação definitiva. O que é definitivo? O que é definitivo dentro da minha incerteza? Nem sei o que quero dizer. Eu devia pensar antes de te procurar assim. Te procurar dentro de Nina Simone. E dentro de Ionesco. Estou assim, confusa. Não consigo te afastar de nada que me caia nas mãos. Em qualquer livro, eu te penso. Eu me lembro. Eu nos vejo. Sinto mais fome do que o normal. Mais distraída que de hábito. O hábito. Me agarrar aos hábitos para não escorregar? O que acontece se eu me deixar completamente entregue? Completamente entregue ao rumor distante de palavras trocadas em sonho? Eu me pergunto se. Cada encontro foi um devaneio. Eu me pergunto se em cada conversa nossa realmente nos encontramos. Não me entendo mais, tudo é dúvida. Tento esquecer as dúvidas, uma a uma. Pensar apenas meu cotidiano. Mas você. Sempre música. Você. Sempre dúvidas.
Não sei ao certo. Tenho me controlado bastante. Onde eu estaria agora, se me deixasse livres as palavras.
Eu me lembro das suas mãos. Estou sublinhando o xerox de uma peça e me lembro das suas mãos. A memória de quando eu não hesitava em tocar.
Distante. Ainda te vejo. Eu não quero mais. Não quero mais. Não quero mais pensar em alguém que nunca se esclarece. Sempre me coloca em dúvida. Mas e eu? Eu sou tão clara assim? Às vezes nem para mim. Outras sim, não sei mais. Desde que te conheci, não sei mais. Só sei que me destraio nas horas mais indesejadas. O tempo todo. Quase.
Sempre música.
Liz Christine
Não sei ao certo. Tenho me controlado bastante. Onde eu estaria agora, se me deixasse livres as palavras.
Eu me lembro das suas mãos. Estou sublinhando o xerox de uma peça e me lembro das suas mãos. A memória de quando eu não hesitava em tocar.
Distante. Ainda te vejo. Eu não quero mais. Não quero mais. Não quero mais pensar em alguém que nunca se esclarece. Sempre me coloca em dúvida. Mas e eu? Eu sou tão clara assim? Às vezes nem para mim. Outras sim, não sei mais. Desde que te conheci, não sei mais. Só sei que me destraio nas horas mais indesejadas. O tempo todo. Quase.
Sempre música.
Liz Christine
Love me or leave me
This affair is killin me
I can’t stand uncertainly tears
Tell me now, I’ve got to know
Whether you want me, to stay or go
Love me or leave me
Or let me be lonely
You won’t believe me, I love you only
I’d rather be lonely
Then happy with somebody else
You might find the night time
The right time for kissin
But night time is my time
For just reminiscin
Regrettin instead of forgettin
With somebody else
There’ll be no one
Unless thar someone is you
I intend to be independently blue
I want your love
But I don’t want to borrow
To have it today, to give it back tomorrow
For your love is my love
There’s no love for nobody else
Escuto as versões da Billie Holiday, Nina Simone, Ruth Etting, Doris Day, Sarah Vaughan e Frank Sinatra, uma depois da outra. Adoro ouvir várias versões de uma mesma música, quando a música é boa. Tenho obsessão por essa música.
Quem sou eu? Sou a fada vermelha das obsessões de todos aqueles que se julgam livres e tranquilos. Eu sou calma? Tão calma quanto o mar em dias de chuva.
Liz Christine
I can’t stand uncertainly tears
Tell me now, I’ve got to know
Whether you want me, to stay or go
Love me or leave me
Or let me be lonely
You won’t believe me, I love you only
I’d rather be lonely
Then happy with somebody else
You might find the night time
The right time for kissin
But night time is my time
For just reminiscin
Regrettin instead of forgettin
With somebody else
There’ll be no one
Unless thar someone is you
I intend to be independently blue
I want your love
But I don’t want to borrow
To have it today, to give it back tomorrow
For your love is my love
There’s no love for nobody else
Escuto as versões da Billie Holiday, Nina Simone, Ruth Etting, Doris Day, Sarah Vaughan e Frank Sinatra, uma depois da outra. Adoro ouvir várias versões de uma mesma música, quando a música é boa. Tenho obsessão por essa música.
Quem sou eu? Sou a fada vermelha das obsessões de todos aqueles que se julgam livres e tranquilos. Eu sou calma? Tão calma quanto o mar em dias de chuva.
Liz Christine
Assinar:
Postagens (Atom)