quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Bergman:

Do roteiro de A hora do amor:

“Tentei viver sem você. Pensei que fosse possível. Pensei que pudesse retornar à minha antiga existência. Mas não posso fazê-lo. Dói fisicamente viver sem você. É como um trabalho permanente; faça eu o que fizer, nunca consigo livrar-me dele. Nunca imaginei que as coisas chegassem a este ponto. Eu não sabia que estava tão absolutamente ligado a você. Pensei que passasse. Quando a deixei foi para evitar emoções adicionais, lágrimas, erupções de sentimentos. Eu não aguentava mais esta situação. Eu quis cortar fora tudo aquilo. Eu quis, finalmente, reencontrar a paz. Mas as coisas não aconteceram como eu pensava, em absoluto. Tudo apenas piorou. Não posso viver sem você. Soa terrivelmente ridículo dizer que não posso viver sem você. Mas é a pura verdade. Não há meio de expressá-lo de alguma maneira mais adequada. (…)”

“Sim, é verdade. É a pura verdade. Nenhuma pessoa me fez tanto mal como você. Nenhuma pessoa me fez sofrer como você. E, mesmo assim, eu não vou segui-lo. É possível que isso me martirize o resto de minha vida. Sei que sempre haverá de doer.”

Do roteiro de Sonata de outono:

“Se alguém pudesse me amar como sou, talvez, finalmente, me pudesse encontrar.”

“Eva
É como se fosse um fantasma que de repente cai em cima da gente quando uma pessoa abre a porta para o quarto da infância. Isto, quando a gente já há muito tempo se esqueceu que, apesar de tudo, ainda existe uma porta para o quarto da infância. Acha que já sou adulta?”

Viktor
Não sei o que significa ser adulta...

Eva
Nem eu tampouco.

Viktor
Ser adulto, certamente, é poder dominar seus sonhos, suas esperanças. A gente não deseja mais.

Eva
Você acha?

Viktor
A gente não tem mais surpresas.

Eva
Você, sentado aí de cachimbo na boca, como parece inteligente e cheio de bom-senso. Você é adulto, completamente adulto.

Viktor
Acho que não. Ainda não parei de ter suspresas todos os dias.

Eva
Surpresas? Supresas com o quê?”

“Tudo existe, lado a lado, penetrando-se mutuamente. É como se fossem monstros gigantescos que a toda hora se transformam, entende o que eu quero dizer? Da mesma maneira deve existir também uma quantidade ilimitada de realidade. Não apenas aquela realidade que entendemos com os nossos sentidos obtusos, mas sim um montão de realidades girando à volta uma das outras, por dentro e por fora. Claro que é apenas o medo e o pretensioso bom-senso que nos fazem acreditar em fronteiras. Não existem fronteiras. Não existem, nem para os pensamentos, nem para os sentimentos. É a angústia que fixa as fronteiras, você também não acha? Quando você toca os compassos lentos da sonata de Beethoven para hammarklaver também deve sentir como se estivesse girando num mundo sem fronteiras, dentro de um movimento gigantesco que você jamais poderá reconhecer ou pesquisar.”

Do roteiro de Face a Face:

"Maria
O que é que você diria se eu levantasse a mão e acariciasse a sua face? E, depois, baixasse a mão e acariciasse seu peito? O que é que você diria se eu... Se eu baixasse ainda mais a mão e começasse a acariciá-la entre as pernas?

Jenny
Você é realmente encantadora e muito convincente. Mas deve saber que os psiquiatras são apanhados em situações como esta, com muita frequência. O grande problema, ainda por resolver, é justamente como evitar as ligações entre médico e paciente.

Maria
É agradável poder ser cruel em serviço?”

Do roteiro de Gritos e sussurros:

“Há, não obstante, uma particularidade: – Todos nossos interiores são vermelhos, em diferentes nuances. Não me perguntem porque razão deve ser assim, pois não o sei. Eu mesmo meditei sobre o assunto e acabei achando que uma explicação era mais cômica que a outra. A mais absurda, mas também a mais consistente, é que tudo isto, vem a ser, possivelmente, alguma coisa de interiorizado, e que eu, desde a infância, sempre me figurei o lado de dentro da alma como uma membrana úmida; em nuances vermelhas.”

“Maria é a mais jovem das irmãs, também ela bem e estavelmente casada com um belo e bem sucedido homem, usufruindo de razoável posicionamente social. Tem uma filha de cinco anos e, ela mesma, comporta-se como uma criança mimada, suave, brincalhona, alegre, com uma paciente curiosidade e gana de se divertir. É muito fixada em sua própria beleza e nas possibilidades de prazer que seu corpo oferece. Falta-lhe qualquer compreensão do mundo em que vive, bastando-lhe seu próprio ego e nunca se mortificando com alheias ou próprias limitações morais. Sua única lei é agradar.”

Do roteiro de A hora do lobo:

“A senhora idosa: Não se assuste, minha criança. Não sou perigosa. Pega a minha mão. Pega a minha mão, agora. Assim mesmo, finalmente. Agora, você sente a minha mão? Os dedos, as veias sob a pele? Ainda tem medo de mim. Sim, em minha idade fica-se com os dedos um tanto frios. Eu já atingi, em todo o caso, duzentos e dezesseis anos. Que estou dizendo, quero dizer, setenta e seis. Bem, é tempo de eu ir seguindo. Que é que eu fiquei de dizer? Ah!sim! Já me lembro outra vez. Na maleta preta dele, que está sob a cama, encontra-se o bloco com os desenhos que vimos ontem à noite. Ele quer destruí-los. Você deve pedir a ele que não o faça. Isto não seria bom. Ainda uma coisa. Na mesma maleta ele guarda seu diário. Leia-o. Mas não diga que fui eu que o sugeri. Ele desconfia de nós. E este é seu grande erro. Pois bem. Não se esqueça do que eu disse. Não, você não deve seguir-me. Seria cansativo demais. Para mim, queo dizer.”

Do roteiro de Da vida das marionetes:

“Você acha que eu falo demais. É verdade. Eu talvez vacile em contar o que me preocupa. Enquanto eu não pronuncie a palavra, o meu problema é como um sonho irreal. Quando eu a tiver pronunciado, então, terei menifestado a minha preocupação.”

O ar se transformou. Tornou-se suave e fácil de respirar. A luz cinzenta evaporou-se e foi substituída por uma luminosidade leve, assim como mãos amigas que tocavam nossos corpos feridos. Ao mesmo tempo escutei uma música distante ou talvez uma canção, não sei ao certo. Eram quatro notas simples em algum tom maior, consolando e curando. Nos procuramos um ao outro. Tocamos um nas feridas do outro.

“Peter
Agora você vai escutar o disco sobre a pervertida lealdade de Katarina. Não vamos divertir nosso amigo com outro dos nossos números de porrada?

Katarina
A boca não se cala. É como se ele tivesse angústia de silêncio.

Peter
No silêncio se escuta a verdade.”








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