segunda-feira, 16 de julho de 2007
Foder com a sua voz
Silêncio. Tudo tão quieto. Gostaria que desabasse sobre mim todo o peso dos flocos de desejo sabor chocolate ao leite crocante. Chocolate branco com pedacinhos de biscoito sabor caramelo. Qual a cor do meu desejo? Use sua voz para me despir. Use suas mãos para me dizer o que eu já sei. Que você já sonhou que me encontrava assim, te esperando, mas era um sonho confuso porque eu te embaralho os pensamentos. Use sua língua e sua boca para me procurar nessa escuridão de desequilíbrio passageiro. É, você tira meu equilíbrio dos eixos. Não me solte nunca mais. Eu quero a liberdade dos que escolheram colocar em primeiro plano isso que chamam de absurdo. É um absurdo pensar em amor nos dias de hoje? Eu não quero mais ninguém, juro. Juro pelos meus seios que te esperam sob minha blusa. Juro pelo perfume que eu usei para te ver. Eu preciso te olhar. Tira a roupa para mim e deixa eu te olhar. Deixa eu ver como você faz quando não tem mais ninguém olhando. Eu gosto de fazer isso antes de entrar no banho ou antes de dormir, e você? Quero ver você sentindo prazer, quero te ouvir também. Não, eu não quero ouvir música agora, quero ouvir sua respiração, seus gemidos, nossos barulhos. Depois, talvez. Depois, talvez, eu possa colocar uma música e te dizer o quanto eu quis e desejei te encontrar finalmente. Agora eu posso realizar minha maior fantasia – agarrar a sua voz…
Liz Christine
quero que você me beije até…
O verde dos seus olhos. Seus olhos na minha pele. Sua voz rouca me pede para acender o abajur de lâmpada azul. Acendo e deito na cama, ao seu lado, grudada em você. Escondo o rosto no seu ombro e você me abraça me pedindo para olhar para você. Mas eu não quero me perder nesses olhos de intensidade tão suave. Sua pele é suave como um botão de rosa. Seu rosto é delicado e suas mãos começam a me buscar. “Me fala tudo que você gosta”, você diz. “Eu gosto de um pato e de duas gatas”, eu falo. “O quê?” “O pato e o sapo são a mesma coisa, e uma gata é lilás e a outra tem olhos verdes, como os seus…mas a gata de olhos verdes latia e fazia arf arf arf… você faria isso?” “Não sei.” “Eu estou te assustando?” “Não.” “Você me acha infantil?” “Não, eu acho você…” “Melhor não dizer…” Eu era bastante silenciosa, quase não falava. Mas, antes, eu não tinha passado. Só tinha a minha infância e puberdade, e disso eu não ia mesmo falar. Tinha o transtorno alimentar, mas isso eu também queria esconder. Acho que as coisas que eu não dizia me alcançaram e fizeram um estrago na minha cabeça. Como não quero passar por isso de novo, sou o mais sincera que posso, na minha maneira de falar. Se eu tiver interesse. Se não tiver…
Acho que fiquei mais doida do que já era.
“Você vai me contar sobre o pato e as gatas?” “Não sei, agora eu quero que você me beije até… até eu perder o fôlego.”
Liz Christine
Acho que fiquei mais doida do que já era.
“Você vai me contar sobre o pato e as gatas?” “Não sei, agora eu quero que você me beije até… até eu perder o fôlego.”
Liz Christine
sábado, 14 de julho de 2007
Insanidade e garotas que amam garotas
Falando sobre insanidade… Sonhei com você várias vezes. Havia um sapo e um pato sem asas num quarto com uma luz azul. Você era os dois. O sapo e o pato sem asas falavam com a sua voz… e eu beijei os dois. Beijei os dois sentindo prazer e alegria. E a luz azul se tornou verde. E as paredes se tornaram laranja. E então sua voz disse alguma coisa sobre insanidade e garotas que amam garotas… e eu beijei você de novo, eu não liguei. Eu estava apaixonada pelo sapo e pelo pato. Mas por que o pato não tinha asas? O que aconteceu com ele?
Liz Christine
Liz Christine
domingo, 8 de julho de 2007
I want a little sugar in my bowl
Ela calçou as sapatilhas de porcelana e foi rodopiando até o banheiro. A porta estava fechada e de lá vinha uma música alta e agradável aos ouvidos. Música que dava vontade de dançar. Ela bateu na porta e não houve resposta. Então resolveu abri-la assim mesmo e entrou. Era uma festa. Ninguém notou sua presença. Ninguém, exceto eu, que fui em sua direção com meus sapatinhos vermelhos de cristal. Minha visão estava embaçada pela fumaça das vozes abafadas. De repente a música parou e só se ouvia o barulho violento de uma cachoeira, enquanto os coelhinhos saíam de suas gaiolas. Os gatos passeavam livremente pelo banheiro e alguns até dormiam sobre a pia. Ela falou comigo, foi ela quem falou primeiro. Então eu senti medo porque a voz dela era uma mistura de creme de amêndoas com cobertura derretida de chocolate branco. E ela disse que eu tinha voz de menininha assustada, assustada, arrogante, doce e cruel. Sim, ela disse que eu tinha uma voz doce e cruel das crianças que sentem medo do escuro e não medem as conseqüências de suas brincadeiras. A música voltou nesse instante e eu perguntei se ela queria dançar comigo. O que você vai fazer de mim?, ela me perguntou. O que você quer que eu faça de você?, eu perguntei a ela. Não me faça sofrer demais, ela respondeu. Passei a mão pelos cabelos ondulados e soltos dela e nossos rostos se tocaram, nossos lábios se encontraram, as mãos delas percorriam minhas costas e a mão direita foi direto até meu seio esquerdo, e minhas mãos foram subindo por debaixo do vestido dela – e assim ficamos durante toda a música, trocando palavras e tateando nossos corpos. Procuramos um lugar mais isolado, o banheiro estava cheio demais apesar de ser maior que o apartamento inteiro onde moro. Onde você mora?, ela me perguntou. Na Rua das Camélias. Numa cobertura, sétimo andar, e você? Eu moro aqui, moro na cozinha, vamos até a minha casa? E fomos. Ela tirou primeiro meus sapatinhos de cristal vermelhos e depois tirou as sapatilhas de porcelana dela. Depois ela tirou o vestido e eu tirei a minha blusa e a minha saia. Então ela começou a cantar I want a little sugar in my bowl… E eu me deitei no chão da cozinha de pernas abertas. Ela percorria minhas pernas com a língua e parava de vez em quando para cantar. Eu gemia baixinho e me perguntava se íamos nos ver de novo. Adivinhando meus pensamentos, ela disse que me ligaria no dia seguinte, assim que acordássemos.
sexta-feira, 6 de julho de 2007
si mon coeur est desespere
É sempre a mesma rua, uma casa de paredes vermelhas, uma sala sem móveis e um som tocando Bessie Smith. Baby, won’t you please come home, baby, won’t you please come home, I have tried in vain, never more to call you name… Um gato branco de olhos azuis, deitado no som, que abandona seus sonhos para perseguir uma mariposa, em seu vôo noturno, que abandona sua descrença para tentar mais uma vez, mais uma vez. Ela sobe as escadas. É uma casa bem antiga. Ela entra em um dos quartos, o maior, e deita na cama sem colcha. O colchão nu, sem travesseiros, uma pilha de livros no chão. Ela não se mexe, espera. Deveria ela trancar as janelas? Até o dia amanhecer, deveria ela trancar as janelas até o dia amanhecer? Ela não sabe descrever. Não sabe descrever o que escuta dentro de si. É o estalo de um vinil estragado. Estragado pelo tempo e por uso indevido. Uso indevido das palavras. Uso abusivo dos silêncios. Exagero e hábito. Ela tem o hábito de exagerar nas dosagens. É a quantidade que meu corpo precisa, ela diz. É a quantidade de imagens que me assaltam em uma noite insone, ela conta. Ela fecha os olhos e recomeça. É sempre a mesma rua, uma ladeira, uma bicicleta estacionada num poste recém-pintado, a rua está sendo varrida e todo o lixo entra na casa de paredes vermelhas. Ela recolhe as embalagens e os papéis amassados, lê cartas antigas de desconhecidos, separa um poema ilegível e o guarda dentro de um livro. Ela espera que seu fetiche se materialize. Leurs coeurs s’embraser… São duas horas da manhã e a outra chega. Traz consigo uma sacola cheia de livros, um notebook, dois Toddynhos e uma foto da Josephine Baker. Entra com a chave, sobe as escadas e se encontram no quarto, sem pronunciar uma palavra. As duas desembrulham um pacote que estava embaixo da cama.
Sou exibicionista. Adoro tirar fotos nua. Adoro foder com alguém assistindo. Adoro sexo oral. Adoro mulheres de cabelo curto. Adoro o corpo e a pele e a voz das mulheres. Adoro lingeries, meias, pirulitos de morango e trufas. Ontem de madrugada vi cinco filmes do Bergman e de manhã fui até a banca comprar jornal. Adoro andar na rua de manhã cedinho quando não dormi a noite inteira. Anoto todos os meus sonhos. Detesto perfume masculino. Só escuto música eletrônica e jazz e blues. Também gosto de música clássica mas não costumo ouvir, não tenho nenhum Cd de música clássica. Ontem eu roubei um Talento branco e meu coração disparou. Saí do mercado eufórica e feliz. Que mais eu posso dizer? Ah todos os meus ménages foram incompletos, sempre uma das pessoas não desejava uma das outras duas… Uma vez, na casa de um amigo, eu fiquei a fim de uma garota que tinha acabado de conhecer. Era amiga de uma amiga minha. Ela também se interessou por mim. Mas minha amiga era apaixonada por mim e eu não queria ficar com a outra na frente dela. Acabamos ficando as três mas ela não quis foder com a minha amiga e…
Ela retira a fita. Liga o notebook. A outra guarda a fita numa caixa e coloca a caixa dentro do armário. Diz: eu trouxe mais uma fita, vamos ouvir agora? Ela responde que agora não, agora ela vai instalar um programa. O gato branco de olhos azuis entra no quarto. Deita na cama sem colcha. Ela acaricia o gato. Estão em silêncio, o som continua vindo da sala, não é mais Bessie Smith, é Billie Holiday. Gonna snob the moon above, seal all my windows up with tin, so the love bug can't get in, I'm gonna park my romance right alone the curb, hang a sign upon my heart: "please don't disturb”, and if I never fall in love again, that's soon enough for me, I'm gonna lock my heart and throw away the key… Cada uma bebe o seu Toddynho. A outra pega no sono e eu toco a campainha. Atravessei a mesma rua de sempre e toquei a campainha da casa de paredes vermelhas. Ninguém respondeu mas sei que estavam ouvindo a minha fita. A minha voz. Toco de novo a campainha. Quero a minha voz gravada de volta. Não atendem. Eu atravesso mais uma vez a mesma rua de sempre, desço a ladeira, já é manhã. Eu compro um jornal e me prometo voltar na noite seguinte, antes de meia noite. Vejo uma mariposa de asas brancas. Mas eu nunca consigo voltar antes da meia noite. Nunca entrei na sala sem móveis. Adivinho as duas todas as noites. E espero a noite seguinte.
“Je t’inventerai
Des mots insensés
Que tu comprendrasJe te parlerai
De ces amants-là”(da música Ne me quitte pas)
Liz Christine
Liz Christine
Assinar:
Postagens (Atom)