quinta-feira, 2 de junho de 2016

Poema




"Qui est-ce?" (...) "C'est Macha."
"C'est un rêve?" "Oui."

_ Se estás sonhando, cuidado...
_ Por quê?
_ Sonhas demais. Já sonhaste todas as palavras e não escreveste o essencial.
_ Não faço idéia do que seja "o essencial"...
_ Nem precisas saber. Apenas escreva.
_ Escrevo sem saber para quê serve escrever?
_ Sim. Jamais saberás (...).

E então um outro poema me disse que havia uma outra consciência me observando e eu perguntei então o porquê das pontuações e reticências e o outro poema me abraçou e disse "Macha, Macha querida, então usaste as vírgulas, Macha, minha querida Macha, voltaste então ao lar? Revê-la é uma glória e escreverei um poema em ode aos felinos e às espécies todas que tanto amas, e igualmente eu as amo todas, mas não deveria eu usar estes termos ou este verbo preciso, troquemos de verbo, amar não, Macha, é um verbo oculto nas profundezas e raízes dos sonhos, oculto e submerso, apenas sentido, não fales, troque e esconda e o pegue de volta, e novamente, Macha, apenas tu me entendes...". E fez-se silêncio. Fez-se silêncio mas sim, eu consegui, pronunciei uma frase, consegui pronunciá-la, e então usei as vírgulas e pronunciei a frase. Mas não me ouviram, e se ouviram (escutaram em silêncio e a resposta veio então na semana seguinte) e então resolvi usar as reticências...

E Macha perguntou a mim então - "Como vai o Sócrates?" E perguntei de volta "Mas conheces Sócrates?" E abandonei novamente toda e qualquer pontuação e decidimos então escrever um poema para Sócrates e então nasceu outro poema e o poema respirou cantou e fez uma música e a música falava da vida e da cura e da vida e do ato de sonhar e da realidade que aos poucos chega no nosso quintal... mas não temos quintal, Macha querida, imaginemos um quintal pois moramos em um apartamento e levaremos Sócrates para Paris, não é verdade? Diga que sim, Macha. E ela foi-se antes que eu fizesse o café. Mas fiz café e Macha voltou. Macha tem a chave. A chave dos sonhos. E conhece Sócrates, o gato querido. Então acendemos uma vela de mel e suavizamos a luz do quarto. E então não escreveremos a nossa privacidade nem a alheia e enviaremos olá aos felinos das redondezas e deste planeta esquisito onde palavras tentam decifrar o silêncio de Macha. Conhecestes Macha? Façamos mais café (...).


Liz Christine


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