O filhote de labrador uivando para as gardênias cortou o silêncio das ruas às cinco horas de uma manhã desgastada. A piscina vazia despertou um sincero impulso de esquecer as vaidades corroídas pela tristeza latente. O desolamento estava virado do avesso e contrariado pelas fotografias de antes de ontem. Um cálice de licor sobre o chão onde o desolamento descansa das últimas notícias sobre a nutrição das gardênias vendidas no quiosque da esquina. Dentro do táxi imagino minhas gatas deitadas na janela com tela à espera do nascer do dia. Entro em casa e encho o cálice deixado no chão antes de sair – as gatas observam todos os movimentos desgastados pela vaidade corroída por transtornos virados do avesso. O desolamento me espera na cama ou no chuveiro onde uma ducha despretensiosa vai refrescar minhas variações de pós-plenitudes. Após a plenitude vem a ladeira desgovernada e impassível de ser fotografada. Após as paixões recíprocas vem o desgosto e o desolamento da tristeza sem fim. Tudo muda menos a constância das repetições musicadas – a cada estágio, um tipo de som. Os estágios se misturam e se subdividem em gradações inconstantes onde reina a vaidade exibicionista que se consuma em fantasias registradas no livro inédito que nunca será publicado. A pós-plenitude sai da ducha e deita com as gatas em uma manhã desgastada como tantas outras.
Liz Christine
Liz Christine
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