sexta-feira, 13 de maio de 2011

Ventos de outono



A imprecisão das cores clareia as incertezas contidas no perfil desenhado por sonhos desajustados. O perfil de uma gata branca sorvendo toda a plenitude das estrelas. A cada gole de café, um sabor diferenciado de carícias apaziguadoras. Tudo soa inédito mas tenho todas as estrofes decoradas através de sonhos desajustados. A cada verso, a imprecisão das cores clareia as incertezas contidas no desenho feito sob medida para enfeitar o silêncio que apura os sentidos. É, o silêncio tem intenções variadas – ocultar sentidos ou apurar sentidos. Sorvendo cada instante retido nas intenções ocultas das estrelas que cobrem parcialmente teus gestos impacientes. A impaciência mora nesta rua repleta de sons parcialmente obscuros. É o mar cantarolando a cada madrugada até o amanhecer e a lua recitando estrofes de livros antigos que nunca soam datados. Tudo soa inédito mas tenho todas as estrofes decoradas através de sonhos desajustados namorando as incertezas plantadas ao lado da dama-da noite que perfuma a rua. Um olhar surpreendido enfeita a noite povoada por sons obscuros e músicas hipnóticas – é o olhar felino caçando mariposas e apurando carícias desavisadas. É, não há nunca avisos suficientemente capazes de nos fazer desistir – a cada tentativa de esquecer, as obsessões florescem dentro de sonhos desajustados. Alheia a quaisquer obsessões, a lua recita estrofes de livros antigos que nunca soam datadas – e o mar exala toda a perfeição de uma satisfação plena que atinge todas as metas planejadas. Não, nem todas as personalidades são dotadas da capacidade de planejar a longo prazo – vivendo o presente através de sonhos desajustados e impulsos irracionais porém deliciosos. A cada gole de café, um sabor diferenciado de carícias apaziguadores perfuma todos os instantes de suaves intransigências que envolvem as obsessões transitórias. É, tudo é transitório e muda de tempos em tempos – exceto os laços permanentes de um amor constante que cresce a cada noite repleta de cores imprecisas e contradições parceladas. As babuskas sobre a prateleira do quarto de brinquedos guardam todos os segredos (ou verdades) e contradições (ou amores constantes) que preenchem o perfil pensativo de uma gata branca desenhada em silêncio ao sabor dos ventos de outono.

Liz Christine

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Sous la pluie



A tristeza sibilante e o devaneio lúcido – tão despreparados para enfrentar as temperaturas escaldantes de uma vasta plantação rasteira de sombrias perplexidades. E a sombra angustiada da insônia em vão acorda o despreparo do devaneio lúcido. A escuridão assombra pensamentos tolos vagando pelo corredor que leva ao banheiro mal iluminado por um ponto de luz colorido. Todas as tolices desgastadas pela razão turva que mal enxerga a inutilidade dos pensamentos circulares. As frases giram em círculos que se expandem e se fecham em torno de verdades dúbias. Tudo se transforma aos poucos em clareza passageira que se apropria de justificativas fúteis. Gostaria tanto que essa madrugada fosse tão bela quanto o perfil de uma gata lavando as patas na janela com tela – mas não. A escuridão sombria se apropria de cada busca por um sentido que jamais existirá. Nada mais faz mesmo sentido desde que perdi as chaves do paraíso artificial que abrigava um parque de diversões para jovens quase adultos de idades variadas e personalidades misturadas entre si. As essências se misturam e são adulteradas por diversos fatores sociais ou químicos mas as verdades turvas transparecem em cada clareza passageira. Gostaria tanto de nadar em águas claras e límpidas que de tão profundas parecem suaves devaneios. Mas a escuridão em que vivemos é rasa e poluída e as chaves do paraíso artificial se perderam depois de uma festa de aniversário que acabou em fatias parceladas de torta alemã com chá de morango. A última garrafa de champagne foi aberta às onze horas da manhã do dia seguinte à festa de aniversário e o último pedaço do paraíso artificial se desfez na minha língua às três horas da tarde de um dia nublado com temperaturas escaldantes. Busquei um sentido e encontrei apenas teu sorriso dúbio congelado ao lado de bolsas térmicas para tratar fraturas e dores musculares ou simplesmente refrescar idéias já desgastadas pelo calor de um verão em Paris.

Liz Christine

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Como tantas outras



O filhote de labrador uivando para as gardênias cortou o silêncio das ruas às cinco horas de uma manhã desgastada. A piscina vazia despertou um sincero impulso de esquecer as vaidades corroídas pela tristeza latente. O desolamento estava virado do avesso e contrariado pelas fotografias de antes de ontem. Um cálice de licor sobre o chão onde o desolamento descansa das últimas notícias sobre a nutrição das gardênias vendidas no quiosque da esquina. Dentro do táxi imagino minhas gatas deitadas na janela com tela à espera do nascer do dia. Entro em casa e encho o cálice deixado no chão antes de sair – as gatas observam todos os movimentos desgastados pela vaidade corroída por transtornos virados do avesso. O desolamento me espera na cama ou no chuveiro onde uma ducha despretensiosa vai refrescar minhas variações de pós-plenitudes. Após a plenitude vem a ladeira desgovernada e impassível de ser fotografada. Após as paixões recíprocas vem o desgosto e o desolamento da tristeza sem fim. Tudo muda menos a constância das repetições musicadas – a cada estágio, um tipo de som. Os estágios se misturam e se subdividem em gradações inconstantes onde reina a vaidade exibicionista que se consuma em fantasias registradas no livro inédito que nunca será publicado. A pós-plenitude sai da ducha e deita com as gatas em uma manhã desgastada como tantas outras.

Liz Christine

terça-feira, 3 de maio de 2011

Madrugadas plenas de sabores

A ausência fragmentada toma conta do silêncio que preenche a noite tão fesca quanto um mergulho em suaves amortecimentos da memória apaziguada pelas conquistas mais recentes de novas fragrâncias envolvendo o ar que me inspira (...).

O silêncio tão inspirador quanto a doçura aveludada da tua voz – tanto faz, a perfeição é inerente aos instantes mais próximos ao início da madrugada tão plena de sabores quanto um mergulho em suaves superações da memória flutuante retida nos espelhos úmidos do banheiro durante uma imersão em espumas aromáticas (...).

A memória superada se desfaz nos espelhos e ilumina as paredes do chuveiro onde descanso das minhas conquistas mais recentes de novas fragrâncias circulando na voz que me inspira a desenhar borboletas na areia depois de um intenso desabrochar de sonhos compartilhados (...).

Despertando aos poucos para reencontrar sentidos intensificados pela luz da lua ao sabor de pausas na suave movimentação da noite tão fresca quanto o ar que me inspira a circular entre as doces contradições que se complementam tanto quanto as mudanças de sentido no ritmo das repetições alternadas com as mais recentes conquistas sossegando as compulsões de cada pausa na movimentação das madrugadas plenas de sabores (...).

Liz Christine

Uma frase do filme Ninotchka

“Love is a romantic designation for a most ordinary, biological, or shall we say chemical, process. A lot of nonsense is talked and written about it.”