segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Suspiros


Agora todas as frases são feitas de suspiros – e depois de tudo, todos os suspiros são feitos de saudades (...).

E todos os perfumes são feitos de baunilha – e o aroma do café circula ao redor da cama enquanto minha ovelha de pelúcia dorme sobre o travesseiro ao lado da minha gata (...).

Agora todas as frases são feitas de suspiros e encantamentos profundos – e depois de tudo, todo o encantamento se dissolve em saudades tão intensas que desabrocham todos os perfumes grudados na memória recente de antes do descanso (...).

Um despertar suave envolto em neblina – e o ar gelado recortando um colo onde descanso minhas dúvidas refletidas na nudez total de alguns suspiros (...).

Toda a minha atenção se concentra de repente em um instante da mais pura doçura – é o início, sempre o início, o início de tudo (...).

As borboletas sobre a minha pele desenham caminhos instáveis enquanto sonhos continuam me surpreendendo durante um despertar envolto em neblina onde todo o teu desejo se espreguiça sobre a cama (...).

E a incompreensão parcial enfeita um meio-sorriso – nunca vou entender mesmo instantes mais que perfeitos de suaves encantamentos mais que profundos (...).

Nem preciso te compreender também, não é mesmo?

Minha ovelha de pelúcia observa minha gata ronronando enquanto bebemos nosso café juntas (...).

(Je t'enserre dans mes bras...)

Liz Christine

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Todo o sempre


Inédita é a sede mergulhando em perguntas nuas enquanto a lua esconde sua indignação em relação (quase platônica) ao mar que reescreve sentidos sobre as calçadas plenas de impulsos contidos pelo tempo de espera em consultórios de psicanalistas incompetentes. Incompetente é a xícara, incapaz de responder à uma simples questão de dupla personalidade encobrindo silêncios perfumados pela água que cai do chuveiro. Há música no banheiro e um desenho da Disney passando no projetor que mora nos espelhos do armário. Quase sempre, realmente não sei mesmo, inédita é a cama flutuando sobre a ração das gatas. Nada, porém, nada mais. Nada seria capaz de me surpreender por enquanto porque toda a minha indecisão está descansando na pia da cozinha, ah. Sei que não é verdade. Pourquoi l'amour m'est impossible, à moi qui ai tout donné (?). Quero te ver do outro lado da questão assim que tuas roupas caírem no chão enquanto vou abrindo teu sutiã com toda a prática que tenho em abrir os meus próprios (tão brancos). Cores variadas passeiam nos olhos da gata branca enquanto me enrosco em teus abraços esperando todo o esquecimento do mundo e a satisfação posterior. Esquecer tudo ou qualquer coisa ao meu redor e mergulhar na mais plena satisfação momentânea que me abastece para todo o sempre. E mais, e mais, e mais (para todo o sempre). E depois disso vamos assistir um filme no restaurante japonês, quer? Eu quero mais até o infinito da quase improvável noite que cai sobre meus ombros (...).

Liz Christine

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

A mesma


Descansar não faz mal quando o mundo desaba da prateleira de brinquedos e a música chora dentro do chuveiro enquanto a água sublinha as sílabas do blues. Ah blues, ah frio que não cabe em meu coração perdido na madrugada. Preciso de muita água e muitos pedaços. Todos os pedaços do mundo redesenhando uma onda tão intensa que o mundo sorri e acena na minha direção. Ah já perdi a direção das minhas idéias de novo. É disso que preciso, descansar minhas asas comovidas por esse blues. Talvez eu deva mudar o disco e te dizer que a música, além de chorar dentro do chuveiro, também desliza suavemente sobre a cama de casal enquanto cerejas são degustadas ao redor de um desejo recíproco de engolir o mundo que vive desabando da prateleira de brinquedos. Ah sinto vontade de cantar ou de deitar mais uma vez ao teu lado. A voz dela chora mas provoca também uma infinidade de desejos parcialmente insanos e compreensíveis. Todas as possibilidades e uma única intenção, a mesma.

Liz Christine

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Tell me more and more and then some


Almoçar um yakisoba e esquecer temporariamente todas as palavras que teimam em brotar dos lençóis enquanto me escondo da chuva que insiste em cair na minha janela telada. Uma pausa enquanto a gata afia as unhas – e depois, ah depois, e depois? Depois eu te conto os motivos pelos quais as borboletas fazem fila para ver o arco-íris no fim do túnel de sentidos aguçados refletindo contradições tão doces. É que tudo são contradições enquanto tento achar uma direção incerta para te reencontrar. Os sentidos todos se espalham sobre os lençóis desfeitos que ainda guardam teus pensamentos coerentes – ao contrário dos meus, naturalmente. Já virei minhas idéias ao avesso para procurar alguma coerência mas só encontrei cenas de filmes franceses arquivadas na memória. Ah me diz então qualquer coisa que acalme minhas indecisões todas – tão difícil decidir seja lá o que for, não é? Não para ti, não é mesmo? Almoçando um yakisoba enquanto espero impaciente que minha nova paixonite se desfaça dentro da minha memória comprometida.

Liz Christine

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

De dentro do mar

Minhas idéias tão leves flutuam todas dentro do mar. Eu juro que. Teus seios não param mais de vigiar minhas idéias tão leves flutuando no mar às cinco horas da tarde. Não juro mais por nada, nunca mais. Sim, quero sim. Mas não sei mais como. E não me faça mais essas perguntas tão diretas, que nem sei responder assim, subitamente. Mais um mergulho, e depois casa, e depois banho, e depois música, porque hoje é domingo e eu quero passar o dia fazendo nada, ou fazendo tudo, com você.

Liz Christine