sábado, 7 de junho de 2008

Eu-fragmentada


Não consigo, não posso, não quero. Não sou e não quero mais saber disso. Nem vou tentar mais uma vez, porque é algo que nunca me atraiu. Essa possibilidade de não ser eu. Sou outra, sempre outra, outra que se sabe eu-outra. Quando penso em qualquer coisa, idéias divergentes me anulam a possibilidade de uma conclusão. Mas também nem gosto de conclusões. Sempre pronta para mudar qualquer coisa. Ainda em formação do próprio eu. Mas já passei da idade. Não tenho idade. Sou todas as idades juntas dentro de mim. Estou em todas as etapas e idades. A cada momento, uma parte diferente de mim responde ou age. Fragmentada. Eu-fragmentada. Eu choro. Choro porque não sou uma apenas. Uma parte chora, outra quer seguir sem olhar para trás. Mas teus olhos me acompanham, mesmo que eu não olhe para trás. Não importa com quem ou onde eu vá, você me acompanha. Porque engoli teu olhar e tua maneira de falar ou ver o mundo e as outras pessoas. Você me absorveu e me esqueceu. Mas eu tenho você na minha pele para sempre. Tua ausência física me queima os olhos. Não consigo enxergar mais nada. Tua presença abstrata me provoca seqüelas. Já não sou mais a mesma. Mas nunca fui. Nunca fui compreensível. Nunca fui tão clara quanto você gostaria. Teus ciúmes não teriam nenhum fundamento hoje, porque não quero saber de nada mais do que te irritava. Na verdade só sinto angústia de você-sabe-o-quê. Ah não sabe? Sempre soube. Antes mesmo de eu saber. Mas eu corria contra. Eu não sabia.

(texto dedicado à garota de olhos verdes)

Liz Christine

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