quinta-feira, 19 de junho de 2008

Hymne a l’amour


Peu m'importe si tu m'aimes,
Je me fous du monde entier.

Nous aurons pour nous l'éternité,
Dans le bleu de toute l'immensité,
Dans le ciel, plus de problème,
Mon amour, crois-tu qu'on s'aime?

Dieu réunit ceux qui s'aiment.

Você olha meus seios, eu olho tua voz. Fecho os olhos para ver tua voz. É a primeira vez que você olha meus seios, mas já vi tua voz antes e visito tua voz sempre que desejo. Tua voz é calda de chocolate quente. Meu olhar é água que escorre de uma planta que vi crescer no jardim onde moravam borboletas e gatas brancas e rosas sinceras. Mas ninguém mais habita meu jardim. Foi desocupado por um furacão de lágrimas vindas da escuridão da loucura que nasce de um amor que fracassou. Morreu por descuido mas eu não sabia muito bem como cuidar de nada. Eu também me maltratava, mas sem deixar de pintar as unhas de vermelho e lavar o cabelo com xampu cor-de-rosa de ginseng e oliva. Hidratantes de leite e cereais ou de baunilha. Batons com vitamina E e filtro solar. Tantos cuidados. Tantas drogas. Tantos transtornos alimentares. Tantas decepções. Espera-se sempre demais. Eu sinto que todo mundo quer me tirar alguma defesa ou exigir algum comportamento. Não me importa muito que eu perca defesas. Mas há exigências que não posso nem devo cumprir. E também não quero. Não vou fingir que sou como gostariam que eu fosse porque alguém qualquer dia desses vai me aceitar simples e absurda. As borboletas eu guardei na minha pele. As gatas brancas eu busco em sonhos. As rosas sinceras estão escondidas em fotografias que talvez eu tenha perdido dentro de um livro nunca publicado por editora alguma. E a planta cresceu e anda solta por aí mas nunca mais a vi. E tenho a tua voz que carrego comigo grudada em minhas orelhas quando penso em tudo que deixamos de tentar.

Liz Christine

domingo, 15 de junho de 2008

Voz que se derrete em sons


“I'm a high school lover, and you're my favorite flavor
Love is all, all my soul
You’re my Playground Love

Yet my hands are shaking
I feel my body remains, themes no matter, I'm on fire
On the playground, love.

You’re the piece of gold the flushes all my soul.
Extra time, on the ground.
You’re my Playground Love.

Anytime, anyway,
You’re my Playground Love.”
(música Playground Love, Air)

Pato de chocolate. Voz de pato. Um rosto dividido em dois. Unhas que deslizam sobre a pele nua de defesas. Voz que se derrete em sons. Sons repartidos ao meio, metades divididas em três partes, até chegar no mínimo do bom-senso ignorado. Não, não devo. Mas sim, siga em frente. Não, nunca se aproxime. Mas, claro, pense um pouco. E saia, saia da minha coleção de brinquedos desejados. Voz que preenche a noite que é suave como um livro comprado no desabrochar de uma idéia. Acho que antes eu não sabia, não fazia idéia do quanto. Sim, esqueça. Esqueça a cada novo beijo. O que antes eu era e já não sou até que por acaso se for possível eu torne a ser. Livre da tua voz que se derrete em sons dentro de uma boca que se divide em duas. Uma parte te agarra com o olhar se desviando sempre. A outra metade te diz para continuar seguindo teu caminho sem soltar tuas mãos. E assim eu coleciono brinquedos e remédios. Cada nova conquista é um remédio para as decepções anteriores. E cada novo remédio se torna um brinquedo possuído ou sonhado nas minhas mãos. Ou eu te quebro ou você me decepciona mais uma vez. Quebrar tua cegueira ou certeza de que não sou sólida. Não, não sou mesma sólida como você talvez seja. Tenho a solidez de um rio. Um rio que chora tua rigidez e que bebe todo dia a tua voz que se derrete em sons.

Liz Christine

quarta-feira, 11 de junho de 2008

A alegria das cabrinhas


Eu alterno pirulitos de morango com cigarros de canela e beijo tuas asas de fada verde do bosque encantado das borboletas febris que voam em direção às rosas e tulipas que brotam de lençóis que me cobrem. As borboletas moram na minha pele. E o pato que mora na lagoa dentro do meu banheiro me pergunta: “é verdade que sou um sapo que ronrona quando toma banho?” A fada verde desliga o vento gelado e eu saio da cama e desço as escadas.

Liz Christine

sábado, 7 de junho de 2008

Eu-fragmentada


Não consigo, não posso, não quero. Não sou e não quero mais saber disso. Nem vou tentar mais uma vez, porque é algo que nunca me atraiu. Essa possibilidade de não ser eu. Sou outra, sempre outra, outra que se sabe eu-outra. Quando penso em qualquer coisa, idéias divergentes me anulam a possibilidade de uma conclusão. Mas também nem gosto de conclusões. Sempre pronta para mudar qualquer coisa. Ainda em formação do próprio eu. Mas já passei da idade. Não tenho idade. Sou todas as idades juntas dentro de mim. Estou em todas as etapas e idades. A cada momento, uma parte diferente de mim responde ou age. Fragmentada. Eu-fragmentada. Eu choro. Choro porque não sou uma apenas. Uma parte chora, outra quer seguir sem olhar para trás. Mas teus olhos me acompanham, mesmo que eu não olhe para trás. Não importa com quem ou onde eu vá, você me acompanha. Porque engoli teu olhar e tua maneira de falar ou ver o mundo e as outras pessoas. Você me absorveu e me esqueceu. Mas eu tenho você na minha pele para sempre. Tua ausência física me queima os olhos. Não consigo enxergar mais nada. Tua presença abstrata me provoca seqüelas. Já não sou mais a mesma. Mas nunca fui. Nunca fui compreensível. Nunca fui tão clara quanto você gostaria. Teus ciúmes não teriam nenhum fundamento hoje, porque não quero saber de nada mais do que te irritava. Na verdade só sinto angústia de você-sabe-o-quê. Ah não sabe? Sempre soube. Antes mesmo de eu saber. Mas eu corria contra. Eu não sabia.

(texto dedicado à garota de olhos verdes)

Liz Christine