sábado, 4 de dezembro de 2021

As gardênias (e as rosas e os lilases)

 


Naquela época, o passado se encontrava logo ali, quase presente

 

E antes nem havia passado, tudo era presente, e tão presente

 

E ainda antes nem presente havia, nem o antes do presente

 

Só o porvir e o durante e o porvir

 

E agora um poema para Maio e um poema para Novembro

 

E a prosa poética para Dezembro ou para Setembro ou para Outubro

 

E a visão simultânea e os poemas embaralhados

 

E a trança e a gata persa ou siamesa

 

E o gato laranja e sonhos entrelaçados

 

E nada que possa ser pronunciado sem reservas

 

Ou quase tudo é mais ou menos possível ou ilegível

 

Traduzir silêncios   Traduzir miados

 

Não traduzir os sonhos e colher gardênias

 

De novo elas, as gardênias

 

E as rosas e os lilases.

 

(A coruja me contou que já não compreendia os humanos e me perguntou se eu discordava. A coruja dançou e disse que as palavras eram desnecessárias. A coruja veio me fazer companhia e ela era o meu presente tanto quanto os livros de poesias que o meu doce sonho trazia de presente de vez em quando.)

 

Liz Christine

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