Dagda
nasceu dentro de uma casa (e não nas ruas como outros que, ainda assim,
felizmente, são adotados). Era uma ninhada de quatro filhotes, três fêmeas e um
macho. A mãe de Dagda era da raça ragdoll, o pai não tinha raça definida mas
tinha um belo miado e a típica elegância digna dos felinos. Os filhotes seriam
todos doados, exceto um a ser escolhido (que faria companhia à mamãe ragdoll,
como dissera a humana da casa). Dagda, que ainda não tinha sido nomeado, queria
ser o escolhido (não pela casa nem por causa da humana, mas sim porque queria
continuar ao lado da mamãe ragdoll). E então surgiu o primeiro grande problema
na vida do pequeno filhote - eis que sua humana escolheu uma das fêmeas para
ficar para sempre na casa ao lado da mamãe ragdoll. O pequeno Dagda, que ainda
nem tinha nome, seria então adotado por uma outra família ou pessoa qualquer. O
filhote primeiramente se sentiu indignado e logo em seguida se sentiu triste e
oprimido, e depois verdadeiramente deprimido, e então desenvolveu também uma
ligeira mania de perseguição - sempre que ouvia o telefone ou interfone tocarem
fugia e se escondia ou dentro do armário (que o filhote, apesar da chave, já
sabia como destrancar) ou no banheiro humano (os felinos também têm seu próprio
banheiro, como se sabe, mas o filhote corria para o banheiro humano). A humana,
sensibilizada com a doçura do filhote e preocupada com seus recentes e precoces
problemas psicológicos, resolveu nomeá-lo inspirada em um livro que estava
começando a ler - o nome seria Dagda.
Ela achou assim que poderia animá-lo mas o pobre Dagda desenvolveu ainda mais
uma outra mania: fobia do inocente golden retriever da casa do vizinho. O
vizinho tinha também um beagle (por quem Dagda nutria uma sincera amizade e
afeição). A humana pensou então que deveria ajudar Dagda a superar todos estes
precoces problemas sem nenhum motivo aparente antes de enviá-lo para ser
adotado - e foi assim que se passaram cinco anos sublimes para Dagda (que havia
nascido em 2011)... pois desta forma Dagda não foi adotado e permaneceu onde
sempre quis, além de ganhar as mais deliciosas rações e mimos. A humana decidiu
(em três anos de convivência) que cuidaria para sempre de sua pequena família
felina involuntária (mamãe ragdoll, Dagda e sua irmã). Dagda acabou tão mimado
que já não teme mais nem o interfone nem o telefone nem o golden retriever do vizinho (...).
Liz Christine