Uma gatinha
branca. Não totalmente branca mas branca com algumas poucas manchinhas pretas. São
duas horas da manhã. Ela está na janela olhando a lua, como alguns felinos o
fazem. Claro que a janela tem rede de proteção. Ela dorme quase sempre em um
pequeno travesseiro da Disney com estampa do desenho Aristocats. O seu pequeno travesseiro fica em cima da cama de
casal, próximo ao travesseiro maior onde dorme uma humana – é uma cama de casal
mas lá dorme apenas uma pessoa (e a gata). Ela desce da janela e pula na cama.
E sonha.
A kalinka,
trechos do filme O olho do Diabo (Bergman), cerejas, mirtilos, pêssegos,
morangos, música medieval italiana e também inglesa. Tudo no mesmo sonho. E
também um filme antigo sobre uma rainha, sapatilhas vermelhas, ovelhas lésbicas
e beijos cinematográficos.
A gata
sonha, muitos de nós sonhamos, mas há aqueles que sonham com uma sequência de
imagens que poderia parecer um filme (longa). Esta gata não – ela é como
Sócrates. Ambos sonham não como se fosse um longa com diálogos e estória – mas
como se fosse um curta-metragem com muitas imagens aparentemente sem relação
entre si. Aparentemente, apenas.
Esta gata
se chama Greta Garbo. E sua confidente é... ela mesma. Como Sócrates.
São
naturezas introspectivas, tímidas talvez. Sócrates é possessivo, como já é
sabido, Greta Garbo não – ela é distraída mesmo. Então ela acorda e procura
morangos (porque sonhou com morangos). E vê sua humana fazendo alongamento – já
é de manhã mas não tão cedo assim. Devem ser quase dez da manhã. Hoje sua
humana não trabalha. “Que dia é hoje mesmo?” – pergunta Greta Garbo. E começa
então a fazer seu alongamento felino...
Liz
Christine
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