Às vezes
uma tristeza súbita se enrosca em pensamentos ocultos e se espalha por todos os
recantos onde ficam escondidas as chaves do paraíso perdido – ah, idealismo (a
inocência mora no coração das corujas loucas e nos olhos felinos que costumam
se esconder de intrusões ligeiras e superficiais ou desconfortáveis – tão
desconfortáveis quanto falar em vão)... Abrir parênteses para sussurrar
novamente – (falamos em vão, já notaste? Sim, falamos totalmente e
completamente em vão, as múmias maldosas não processam informações e fabricam
infernos – entre quatro paredes ou sob o luar, o inferno é aqui, o paraíso
reencontrado após os exercícios de imaginação também é igualmente aqui neste
mesmo mundo, e o limbo também fica neste mesmo espaço, todos os mundos se
interligando e se interpondo e se anulando ou complementando ou distorcendo ou
acrescentando mais e mais, mais conhecimento, menos compreensão mútua, a
sociedade é um hospício ou prisão, estamos todos tão confusos e
Pausa.
Recomece os exercícios e fuja do inferno – falamos em vão, já notaste? Quem se
importa? Os humanos querem falar – quem se importa se há ou não compreensão
neste planeta insano? O respeito ao próximo, a liberdade da escolha ou da
recusa, as diferenças, o amor felinamente ronronante, os bichanos e os bichos
todos – o amor a todas as espécies, igualmente sagradas, diferenciadas e
atuantes. Ou isolacionistas ou orgulhosas ou afetuosas ou independentes ou
amorosas – esconderijos. A natureza e todas as suas espécies, a humanidade e toda
a sua poluição – ao menos tentar. Ao menos tentar consertar alguma ou qualquer
coisa ou o que poderia ser possível dentro de todas as limitações de (...).
Ainda há
tempo. Sempre há. Mas ninguém percebe. Ou algumas poucas notam mas que poderiam
fazer? Algumas poucas corujas loucas. Pamina, a gata, não quer conversar agora.
Está procurando as chaves que não estão em esconderijos mais óbvios que um
silêncio quase contrariado. Adianta falar? Recomece os exercícios e imagine
como poderia ser a convivência ideal entre Pamina, a gata com tripla
personalidade, e o poema personificado dentro de um espelho enfeitiçado que a
fada lilás roubou do sótão de uma bruxa quase múmia e quase quase. Quase
inimiga da tranquilidade reencontrada na meditação antes do chá. O café nosso
de cada dia e o chá dos dias todos inteiramente quase. Ella quase te alcança
mas foge sorrateiramente. O caos das palavras e a liberdade reencontrada após o
café nosso de cada dia e o chá dos dias todos. A tristeza súbita passa
lentamente e repassa silêncios quase lúcidos. Os sonhos quase lúcidos de Flora.
E Sócrates assiste balés com as babuskas novamente (...).
Um poema
que tem rosto, um sonho que tem coração, um ideal que tem noções básicas de
realismo, um espelho enfeitiçado roubado, as dificuldades do diálogo humano, a
linguagem gestual que dispensa as palavras – e as chaves do paraíso finalmente
reencontradas. Não há nada neste mundo melhor que a tranquilidade – sim, é
verdade. A tranquilidade vale mil vezes mais que qualquer tipo de discussão. Os
bichanos e os bichos todos se exercitam enquanto brincam – depois descansam
tranquilamente. Filhotes felinos que jamais crescem. Palavras jamais
pronunciadas. A não ser que pudessem ao menos ser compreendidas. Ouvidos
atentos e silêncios sorrateiros. Reencontrar diariamente por alguns minutos ou
horas – o tempo necessário. Ainda há tempo. Sempre há. Para qualquer tipo de
utopia com noções básicas de realismo. (
)
Liz
Christine
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