Teresa
D’Ávila escreveu um poema em um sonho distante. Marguerite Gautier se suicidou
aos quinze anos. O romance está morto. Plágio. A utopia vive e passa bem,
obrigada. As vinte e uma causas da depressão prolongada e o único motivo de
nossa existência. Ou persistência. Desista. Não, não sonhe tanto. Duvide. Não,
não desista. Abstrair. Esperar. Longas esperas e nada se resolve. Paliativos. A
utopia vive e passa bem, obrigada. Mais uma vez e novamente. Definitivamente.
As vinte e uma causas da depressão prolongada e o único motivo de nossa
existência. O bichano ronrona e as duas gatas brincam de esconde-esconde.
Não é
possível. A conversação dos gafanhotos está interferindo na absorção. E os
olhares curiosos estão atrapalhando completamente a introspecção ou quietude
dos ambientes internos. Ração para gatos adultos que vivem em ambientes
internos. Gatas felizes satisfazendo as próprias vontades e aspirações. Fazem o
que querem. A casa pertence aos felinos. Sempre. Os humanos apenas abastecem
necessidades felinas e anseios inocentemente hedonistas e puros, além de
manterem a organização e a higiene da casa para o total conforto das mimadas e
soberanas gatas.
Catherine
Deneuve em Pele de Asno. Madeleines
na pausa para o chá de frutas vermelhas Casino.
Twinings ou Casino? Sócrates fica indignado ao ouvir que madeleines não são
adequadas para gatos. Mas o bichano já aprendeu a roubar comida quando as donas
se distraem. A alimentação e o paraíso de Sócrates. O gato é elegante e não tem
tendência a engordar – além da prática diária de exercícios como caçar
marcadores de livros coloridos ou pular da cama para o chão ou do chão para a
cama. Mas insistem na idéia de que comida de gato é ração e pronto. Ele jamais
aceitará este ponto de vista humano.
Twinings ou Casino? Sócrates aprecia ambos os aromas. Os mais doces. O romance
nunca estará morto. Quem disse isso é que já morreu. Plágio. O romance e as
utopias vivem e passam bem, obrigada. E vida longa à pequena família felina de
gatunos que roubam comida humana. Roubar é muito feio. Mas os bichanos estão
perdoados. São tão doces e inocentes. Alegram e preenchem totalmente os tais
ambientes internos que os humanos constróem para si mesmos.
Ao ar
livre, madrugada, luz da lua – um breve passeio solitário (...). Um pouco de
vinho após o balé. Um pouco de sonho em nosso cotidiano. As aspirações reais e
soberanas da eterna remodelagem de sonhos que nunca se esgotam. A renovação do
silêncio. A paixão vive e passa bem, obrigada.
Liz
Christine