sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Os brinquedos do sótão


Mais um inverno rigoroso – tão rigoroso que perco as chaves do sótão em uma madrugada dominada pela lua irradiando inconstâncias sobre os flocos de neve.

As babuskas sorridentes de tão cheias de si mesmas seguem a dieta da lua para perderem o excesso de soberba variação de contrariedades passionais –


Não há mais paixões suficientes para abastecer a fome de invernos rigorosos – tão rigorosos que perco as chaves da soberba sobremesa escondida dentro da gaveta.


A frieza das janelas com tela à espreita de soluções plausíveis para a inconstância orgulhosa da afeição satisfeita guardada dentro das babuskas – uma frieza fragilizada que se desfaz a cada toque suave.


A suavidade das madrugadas completas – tão completas que um sorriso se esconde atrás do rosto imparcial que pouco demonstra de suas reais inclinações.


Toda a afeição retida se esconde no sótão – ou nas prateleiras que aguardam o retorno da música tecida em sonhos desfeitos pelo vento.


A cada despertar a mesma xícara sorri timidamente para a coleção de babuskas enquanto o café é degustado silenciosamente – um sabor de infância teima em embaraçar os cachos macios e longos da dona dos brinquedos do sótão.


A gata se enrosca na abelha de pelúcia ao lado do travesseiro e aguarda pacientemente a chegada da noite perfumada – tão perfumada que a cor das prateleiras se transforma diante de olhares discretos e parcialmente retidos no silêncio do quarto.


Liz Christine

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

O calor de olhares gulosos


Ah a doçura que invade o aroma de café com bolo de laranja nas tardes de domingo. Desembaraçando os fios após lavar os cabelos em um banho repleto de sutilezas envolventes. É proibido fumar degustando um licor enquanto a criminalidade passeia impunemente pelas ruas – mas em refúgios isolados faz-se como quiser e não há preocupações de espécie alguma. Livre do barulho das ruas e isolada dos problemas sociais a doçura envolve os contatos parcialmente envoltos em silenciosas apurações sensoriais. Dentro de casa sem a menor vontade de sair espero uma oportunidade de te comunicar uma improvável troca de ideais – os já ultrapassados anos de impossibilidades abrem espaço para as silenciosas apurações sensoriais. E a gata branca se enrosca na trilha de catnip enquanto latidos distantes cortam o silêncio dos instantes compartilhados com o calor de olhares gulosos.

Liz Christine

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

A brisa das madrugadas


A insanidade se refrescando dentro da geladeira abre suas asas ao redor da embalagem de sorvete de chocolate branco e o transtorno alimentar engatinha até a porta do banheiro trancado. O sabor de ilusão de cada descoberta gentil sobre as sensações guardadas dentro da memória descompromissada. Não há nenhum compromisso excedente com a realidade das palavras indomáveis porém doces como um pavê de nozes. Não há além de tudo e inclusive – não mais – nenhum compromisso também com o ritmo das inconstantes flutuações de dupla personalidade. Deixar-se estar – livre dos tormentos e constrangimentos da verbalização das insanidades diárias que se refrescam dentro da geladeira. Não compartilhar o doce-de-leite nem as reais inclinações de sonhos recheados com macarons e champagne envolvidos pelo aroma de Jadore. Ah sabores – sabor de incompreensões passadas da validade ou sabor de beijos impregnados de volubilidades refrescantes e suaves. A superação de todos os tormentos e transtornos vem acompanhada de fatias generosas de amor platônico. Todos os amores platônicos contidos no silêncio da penumbra do quarto onde a noite se esconde da curiosidade das amantes da lua. Todas as estrelas que reinam soberanas dentro da memória descompromissada – tão sem compromissos quanto os sentidos de cada estrofe de um poema musicado. Leia como queira – mas não quebre mais uma vez o silêncio das prateleiras onde descansam as babuskas da coleção de lembranças sem conexão com a realidade das insanidades morando dentro da geladeira. O transtorno alimentar foi-se embora de vez e ficaram sabores intensificados pela suave liberdade das vontades gulosas porém contidas dentro do silêncio quase sem expressão do rosto acarinhado pela brisa das madrugadas.

Liz Christine

Au vent du soir


No final do arco-íris tem o tempo incorrigível viciado em sensações preciosas de encantamento escondido na areia. Dançando ao sabor inconstante da música eterna e tão volúvel quanto as variações de bipolaridades casuais. Todos os transtornos psíquicos trancados a chave dentro de quartos mobiliados com silêncios, cores e bichos de pelúcia. As gatas descansam da sutil e inquieta explosão de sensações preciosas que preenchem o ar que circula nos quartos trancados a chave. A calma crescente que se apodera dos cômodos desocupados temporariamente emite suaves transtornos de percepção auto-regenerativa. A metade de um coração soterrado por pensamentos impiedosos se redesenha silenciosamente ao sabor inconstante da música que movimenta os sinos da porta. Não há mais idéias a serem compartilhadas – apenas silêncio feito de sensações preciosas e repleto de calma crescente. Não há mais frases a serem ditas – apenas silêncio que apura as sensações preciosas e gera perfumes de suaves transparências adocicadas.


Liz Christine