Toda a amargura confinada em um isqueiro trabalhando incansável durante a madrugada. Contando as estrelas enquanto o sono ausente passeia pelos prédios e casas depois de me avisar que hoje não poderia vir me visitar. Sonhando acordada com uma tempestade febril de palavras insones. Mas as palavras fogem todas enquanto meus pés tropeçam nos primeiros degraus da escada. Pisando suavemente sobre a grama fresca que recobre meus pensamentos tão insones quanto as estrelas que conto sem me cansar nunca de sonhar acordada. Agir é desnecessário quando o céu desaba sobre meus ombros nus e fartos de uma realidade incompatível com o mundo que carrego em cada silêncio parcialmente compreensível. Tudo poderia ser compreensível se não fossem a lua e os espelhos incompatíveis. Guardo um espelho dentro da bolsa vermelha para me certificar de que a lua canta só para mim toda vez que o sono se ausenta. Também eu me ausento toda vez que a realidade desagrada meus ombros nus e o céu desaba sobre meus cachos soltos – então mergulho em um rio de incompreensões só minhas que ninguém mais poderia decifrar. Ou então mergulho em um rio onde moram fadas só minhas que suavizam quaisquer vagas intransigências. Impossível colocar meus pés na realidade ao invés de mergulhar em sonhos insones cada vez mais sublimes. A realidade já ultrapassou quaisquer sonhos nunca antes imaginados mas isso já faz tempo e ficou lá atrás junto com a minha coleção de caixinhas de música com bailarinas de sapatilhas lilás dançando em meio às árvores do meu quintal onírico. Agora só me resta um pensamento: fugir. Fugir das idéias tolas que ouço ao colocar meus pés na tua rua.
Liz Christine
Liz Christine
Um comentário:
olaa, li esse teu texto hoje no MAM, numa folha impressa.
maravilhoso e mt intenso
realmente me tocou
anotei teu nome e vim te dar os parabens!
um bj
Olivia Portellada
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