quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Gonna leave you


Sinto calor na minha voz que sai do fundo da minha pele ao sentir tua proximidade física e macia e escorregadia – tua proximidade escorrega das minhas mãos que não conseguem te sugar para mais e mais perto de mim. Inteira. Eu inteira concentrada em tentar te trazer para dentro das minhas pétalas regadas a mel misturado às estrelas que adivinho sob tuas roupas, escondidas por tuas roupas, tuas formas, teu corpo – esse corpo que adivinho, conheço e quero, e quero te dizer. Tire-as. Tire-as logo. Minha saia, blusa, e tudo o mais – tudo o mais que me esconda. Eu me escondo atrás de uma calma que não sinto e minha voz traz calor e sede, sede de não mais querer esperar – às vezes me parece que estamos nos estudando ou algo assim. Então vamos criar, vamos criar um mundo que seja possível apenas para nós duas onde eu vou me espreguiçar a cada vez que acordar de um sonho sensorial e compartilhado cheio de nuvens sorridentes e borboletas cantando blues. Tenho um quartinho construído sobre nuvens sorridentes que só choram coisas belas – sorriem enquanto choram. Há também nuvens negras dentro de mim e às vezes meu coração e meus nervos ficam carregados e chovem desgosto – mas sobre as nuvens negras de angústia ou desgosto eu construí escadas de onde posso cair até não poder mais ou subir, subir até me expandir e flanar em mares vastos e ilimitados de ondas passageiras que podem durar eternamento dentro das estrelas que eu respiro. Eu respiro teus olhos, tua pele, teus dedinhos sem esmalte, teus seios que cada vez mais eu quero. Eu quero deitar no teu ombro bem próxima aos teus seios e sentir tua respiração mais perto de mim. E acordar ao teu lado em um colchão de pétalas de rosas vermelhas e brancas dentro do quartinho que tenho sobre as nuvens sorridentes. As minhas nuvens sorridentes. Que choram sorrindo quando assistem belos filmes – e a cada vez que sonho acordada eu sinto, eu sinto e minhas mãos escorregam pela minha pele, e meus filmes inventados para meu próprio consumo terminam assim com meus dedos construindo o final. O final sou eu mesma. Eu e meus dedos. Mas pode-se recomeçar sempre, o final de um filme se mistura ao início de outro filme – e o início de um novo filme é mesclado à possibilidade que eu vejo de fazer da realidade um lugar mais propício aos meus devaneios e anseios emocionais e sensoriais. Mas eu tento, tento não fantasiar demais para deixar livre também a possibilidade da realidade me superar. Não quero expectativas. Quero a liberdade e a surpresa. Não quero esperar mais. Quero te deixar, e vou fazer isso se.

Quando eu sentir que o que eu penso estar dividindo contigo é impossível de ser compartilhado ou compreendido – então eu me vou. As nuvens negras vão falar mais alto que as nuvens sorridentes e eu vou fechar o quartinho sobre as nuvens sorridentes – e vou subir ou descer correndo aquelas escadas até não poder mais. Até não saber mais. Até não saber mais que poderia ser possível que o amor fosse acessível aos que se amam.

Liz Christine

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