Eu encostei suavemente minha boca em tua nuca – sem te beijar. Abracei tuas costas e respirei todo o açúcar de baunilha misturado ao sal marinho que você traz em si – mas tu é feita também de mel e pétalas, de diferentes tons, pétalas de rosas e folhas verdes que eu mastigo ao fechar os olhos. Fecho os olhos para todo o resto – mesmo assim sinto vozes ao meu redor e a presença de conteúdos que não quero ou não devo ou não posso ou não pretendo captar. Tudo traz em si um conteúdo – mas quero absorver apenas o que eu bebo dos teus movimentos. Sabe a intensidade da minha sede?, a profundidade da minha fluidez?, o sabor do fluxo de idéias que circulam ao redor da tua proximidade?, sabe o quanto te quero mais que a minha necessidade de me preservar de decepções possíveis e da minha curiosidade por muitas realidades? Cada conteúdo é uma realidade e conteúdos se transformam ou se fundem ou se subdividem ou se anulam ou geram novas visões. Dentro de mim eu tenho uma imprecisa noção – não me sei ao todo. Não me sei a ti. E o que tu pensa a respeito de nós?
Eu encostei suavemente minha boca em tua nuca – sem te beijar. Esperando que o primeiro movimento viesse de ti porque em mim haviam idéias imprecisas sobre o que poderia significar para ti um movimento meu. Porque tenho permanecido quieta e recolhida no meu canto desde que o céu desabou nos meus ombros frágeis. Meu céu desabou e soterrou estrelas sob escombros dos pedaços de mim quando tu se foi há tempos atrás – e agora cá estamos nos vendo após eu ter resistido aos meus impulsos de te buscar em todas as realidades e mundos e conteúdos possíveis. Eu quis te buscar não em ti mas em quaisquer lugares ou pessoas. O quê eu teria conseguido além de prazer mesclado ao tédio ou à angústia da falta que tu me fazia? Sim, o prazer é possível na ausência de amor, claro que sim. Mas eu estava cansada e descontente. Saturada de quaisquer conteúdos mas não de formas. Eu sonhei tanto que as estrelas soterradas reuiniram forças e construíram elas mesmas um outro céu – esse céu que uniu de novo todos os pedaços de mim perdidos e espalhados mas não totalmente destruídos. Eu posso ser outra além de mim sem deixar de ser aquela que sempre te quis – posso me ultrapassar e algum dia dizer coisas que nunca diria antes. Mas talvez eu nunca fale mesmo. Tudo depende. Tudo depende da movimentação das borboletas.
Liz Christine
Eu encostei suavemente minha boca em tua nuca – sem te beijar. Esperando que o primeiro movimento viesse de ti porque em mim haviam idéias imprecisas sobre o que poderia significar para ti um movimento meu. Porque tenho permanecido quieta e recolhida no meu canto desde que o céu desabou nos meus ombros frágeis. Meu céu desabou e soterrou estrelas sob escombros dos pedaços de mim quando tu se foi há tempos atrás – e agora cá estamos nos vendo após eu ter resistido aos meus impulsos de te buscar em todas as realidades e mundos e conteúdos possíveis. Eu quis te buscar não em ti mas em quaisquer lugares ou pessoas. O quê eu teria conseguido além de prazer mesclado ao tédio ou à angústia da falta que tu me fazia? Sim, o prazer é possível na ausência de amor, claro que sim. Mas eu estava cansada e descontente. Saturada de quaisquer conteúdos mas não de formas. Eu sonhei tanto que as estrelas soterradas reuiniram forças e construíram elas mesmas um outro céu – esse céu que uniu de novo todos os pedaços de mim perdidos e espalhados mas não totalmente destruídos. Eu posso ser outra além de mim sem deixar de ser aquela que sempre te quis – posso me ultrapassar e algum dia dizer coisas que nunca diria antes. Mas talvez eu nunca fale mesmo. Tudo depende. Tudo depende da movimentação das borboletas.
Liz Christine