domingo, 11 de março de 2012

Suscetível


A lua suscetível ao acaso brinca de jogar dados com a pretensiosa conclusão das verdades transitórias. Os beijos são saboreados lentamente acompanhados de trilha sonora impecável. Nenhuma falha nas asas da borboleta que enfeita a pele branca do ingênuo desvio de conduta inerente às compatibilidades fetichistas. As verdades transitórias escorregam de mãos delicadas como uma xícara de café que se quebra distraidamente. Nem uma coisa nem outra – apenas flutuando entre escolhas mal resolvidas que incitam a dissolução das liberdades precavidas. Os sentidos ocultos na dissolução das verdades transitórias aquece a indiferença distraída que se concentra em detalhes translúcidos dos sombreados das asas da borboleta – e a maciez da pele branca se renova a cada vôo ou desvio de conduta inerente às compatibilidades degustadas sob a influência da lua suscetível ao acaso. Um casal de mulheres comemora seu primeiro aniversário de namoro – e a gata de estimação se esbalda no sushi de salmão. A trilha sonora impecável envolve casualmente as abstratas considerações elucidativas – e o sabor dos beijos ecoa no quarto trancado onde todas as dúvidas se desfazem a cada novo encontro entre amores insubstituíveis e verdades transitórias recobertas com nozes e avelã.

Liz Christine

quarta-feira, 7 de março de 2012

Respiração


A visibilidade comprometida dos dias nublados. A tristeza distraída se esconde no silêncio. Uma folha em branco à procura de sentidos. Não há razões para sorrir por enquanto. Então sorria sem motivo e não responda mais nenhuma questão. Não há mesmo respostas plausíveis para tudo. Nem há perguntas tão instigantes quanto observar o banho da gata rajada. Então respire suavemente sem nunca elevar a voz durante os momentos de imersão em sentidos crocantes. Não se exponha mais em vão. Aguarde. Aguarde sem jamais perder tempo. Não perca um minuto sequer do dia – aproveite, sem descartar as tediosas obrigações. Não atenda nenhuma ligação indesejável. A precária liberdade é tão feita de escolhas ou recusas quanto a linearidade caótica ou harmoniosa das palavras. Não fale mais em vão também. Saboreie o silêncio. E deixe que os outros pensem o que bem entenderem – quem se importa com opiniões? Apenas uma ou outra nos interessa. Ou todas? Ou nenhuma? Cada um sabe mais de si – ou não? – tanto quanto tudo se transforma lentamente ou repentinamente a cada despertar. A monotonia transitória se desfaz a cada devaneio lúcido – e a realidade dificilmente ultrapassa os limites da imaginação isolacionista. Não, ninguém compreende – você, apenas, talvez entenda um pouco mais das reais inclinações escondidas em cada frase. Você, que percebe toda a distração ligeiramente impaciente a cada ponto final. Tão distraída que nem sei o que digo ou onde quero chegar. Não, não sei. Você sabe? A tristeza é passageira e pode se desfazer a qualquer instante. Nada dura muito nesse mundo insano de transformações diárias. Apenas as manias sobressaem – ou obsessões insubstituíveis. Libertar-se de vez – observando inconscientemente a realidade fugitiva ao redor. O inconsciente absorve mais e reconhece mais que o racional. Não, não te reconheço. Reconheço a gata branca dormindo ao lado da gata rajada tanto quanto o silêncio recolhe os sentidos encontrados em cada exercício de respiração.

Liz Christine

sábado, 3 de março de 2012

Improbabilidades diárias


A ressaca de tristes lágrimas compulsórias – a total ausência da fome desorienta as desconcertantes considerações do repouso em gaiolas. Baseados em silêncio – o silêncio e suas considerações tão tristes quanto a opressão das gaiolas.

E se ao menos fosse possível? E se ao menos a liberdade das escolhas individuais fosse compatível com a paz antre as divergências e limites pessoais?


No mundo ideal existe poesia, arte, prazer e paz universal. O mundo ideal não existe fora dos limites da imaginação individual. Cada qual com seu próprio mundo ideal – cada qual com sua própria tristeza e insatisfação perante o mundo externo.


A satisfação é possível, sim, mas dura alguns instantes e se dissolve – assim como o suave ronronar da gata acalma as improbabilidades diárias.


Liz Christine

sexta-feira, 2 de março de 2012

As obscuras modalidades do silêncio


A indecisão se dissolve e retorna – e as lagartas me observam distantes.

O descontentamento ignora as observações transitórias – o isolamento absoluto convoca as obscuras modalidades do silêncio.


O ritmo das transformações contrariadas eclipsando a lentidão dos movimentos refletidos em inconstâncias polidamente incompreendidas.


Todas as pausas são compreensíveis – toda a precisão dos esconderijos volúveis é ampliada dentro das obscuras modalidades do silêncio.


A doçura saciada quase substituindo o descontentamento – um quase tão volúvel quanto a imaginação da babuska sobre a estante.


Um curto resumo das obscuras modalidades do silêncio – a doçura transitória se esconde dentro de sentidos inapropriados segundo as normas dúbias das plantações de capim-cidreira.


Liz Christine